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- Está me machucando Hera. – reclamei.
O castelo estava em festa. Receberíamos a irmã de meu pai, Catherine Bourgeios, e novamente a família Lambert. Duas visitas muito bem aceitas pelo reino, que estava uma loucura com os preparativos.
Minhas criadas estavam preparando um lindo vestido verde, para ser usado na recepção dos convidados em dois dias. A questão era que o vestido estava justo demais em meu corpo, e ficaria ainda mais.
- Não conseguirei respirar.
- Desculpa princesa, mas temos ordens diretas da rainha Morgana.
Revirei os olhos. É claro que tinham, nunca fariam um modelo de tirar o folego – literalmente – por vontade própria, o trio me conhecia bem demais para fazer tal ato.
- Pense pelo lado positivo princesa, não é amarelo. – Agnes se pronunciou.
Tentei rir, o que foi impossível para mim. O aperto era insuportável, para quê tudo isso? São apenas pessoas com coroas afinal.
- Ainda sim, não deixa de ser desconfortável.
O trio permaneceu em silêncio. Tiravam minhas medidas e ajustavam o vestido em meu corpo, me olharam por um bom tempo antes de retirar o pedaço de pano do meu corpo.
- Estou livre?
- Sim. – Hera respondeu rindo. – Se precisar de nós estaremos na oficina.
- Tudo bem.
Sorri com a ideia de ficar sozinha novamente. Teria que aproveitar os dois últimos dias de paz no castelo.
Vesti-me com um simples vestido creme, sem muitos detalhes nele, e me refugiei em minha cama. Poderia tentar escapar para floresta novamente mas seria arriscado, e isto me tentava ao máximo.
Busquei pela capa de Ramon em meu guarda-roupa, achando a mesma sem muito problema. Abri a passagem secreta do móvel, entrando no mesmo para me aventurar pelo castelo. Havia diversos lugares no qual eu poderia ir apenas para relaxar, mas nada me tentava mais que a floresta, e se ele estivesse lá novamente?
Passei despercebida pela cozinha, conseguindo escapar para o celeiro sem problema algum. O lugar estava vazio, com Karl doente, o ambiente ficava abandonado.
Procurei por Tempestade, achando a mesma um pouco machucada. Me desesperei, correndo até a mesma.
- Oh céus, o que fizeram com você?
Afaguei-a. Me abaixei perto dela, colocando seu rosto em meu colo. Senti as lagrimas correrem por minhas bochechas até pingarem em Tempestade.
- Deixe-me adivinhar, iria fugir novamente?
Não me dei o trabalho de olhar Ramon, não valia a pena discutir com o mesmo naquele momento.
- O quê aconteceu com ela?
- Soltaram Tempestade ontem a noite, os guardas não conseguiram doma-la.
- Então machucaram-na?!
Ramon bufou.
- Não, ela fugiu.
- O quê?
- Você ouviu, acharam ela na floresta, provavelmente um lobo à atacou.
- Teriam à matado, não?
- Tem uma teoria melhor então?
- Não.
Ele sorriu.
- Melhor voltar para o quarto princesa, o celeiro não é lugar para você.
- Não deixarei ela sozinha.
- Fez isso na noite passada, não será difícil fazer novamente.
- O quê?
- Simon me contou da sua aventura noturna com o rapaz misterioso, que irei chutar ser o mesmo que encontramos alguns dias atrás, estou errado?
Me mantive em silêncio.
Ramon chutou um dos muitos fenos que estavam ali, bufando de raiva.
- Como pode ser tão ingênua Julietta?
Encarei-o.
- Ele irá usá-la para conseguir a coroa, é isso que todos fazem.
- Você nem se quer o conhece.
- Muito menos você.
- Ele não está me usando, e nem irá, eu não permitirei.
- Então diga-me, para onde ia se Tempestade estivesse em boas condições?
Me calei. Não devia explicações para ninguém, muito menos para ele.
- Tempestade ficará bem?
- Não.
- Como não? Ramon nós temos os melhores dos melhores trabalhando neste castelo, impossível não cuidarem dela.
- O único que consegue doma-la é meu pai, e ele está proibido de fazer qualquer atividade física.
- É a Tempestade Ramon.
- Não muda nada para mim.
Olhei perplexa para o guarda. Ela poderia não significar nada para ele mas para mim sim, Tempestade era minha, desde que chegou ao mundo, e eu não pouparia esforços para ajuda-la.
Me retirei do celeiro o mais rápido que a barra do vestido me permitia correr. Passei rapidamente pela cozinha, indo diretamente para o dormitório dos guardas. Antes que pudesse bater em uma das portas, a mesma foi aberta, revelando um Simon totalmente surpreso com a minha presença.
- Se perdeu em seu próprio castelo?
- Vim ver Karl.
- Ele está se banhando agora.
- Tudo bem, eu esperarei.
Suspirei.
- Podemos conversar?
- Temos o que conversar?
- Quem era aquele rapaz Julietta?
Respirei fundo. Por que sempre tinha que me explicar?! Qualquer ação minha necessitava de uma explicação, eu não poderia simplesmente fazer algo no calor do momento, como todos naquele reino fazia. Não, eu tinha que ser a imagem da perfeição, pensar e repensar meus atos.
- Por favor Simon, esquece isso.
Ele bufou.
- O que aconteceu na minha ausência? Porquê aparentemente agora você e Ramon tem segredos, um homem surge no castelo a noite e absolutamente ninguém me explica o que está acontecendo nessa merda.
Empurrei o rapaz para dentro de seu quarto novamente. Nos sentamos em uma das camas, de frente um para o outro.
- Certo, por onde começar? – questionei a mim mesma. – Ramon me levou para a cidade.
- O quê?! – gritou indignado. – Julietta uma coisa é você se aventurar pelo castelo e uma pequena parte da floresta, a outra é você ir para a cidade, ao menos levaram guardas?
- Acalme-se, não aconteceu nada demais, estamos bem.
- Tiveram sorte.
- Eu posso terminar?
- Sim.
- Obrigada. – respirei fundo. – Enquanto estávamos lá, acabamos nos separando e eu conheci o rapaz que você viu ontem.
- Ele não parecia ser um comerciante.
- Bom, eu não sei ao certo o que ele é mas sei que tem uma relação direta com os soldados Schneider.
- Julietta Bourgeois você conheceu um soldado Schneider? Co-Como?
- Eu acabei de explicar Simon.
- E eu escutei tudo, é só que, é loucura.
O quarto ficou em silêncio, Simon parecia colocar suas ideias no lugar.
- E ele sabe?
- O quê?
- Que você é, você?
- Não.
- E como sabe que morava no castelo?
- As roupas. – pronunciei rapidamente.
Simon se deu por vencido. As roupas de todos do castelo, eram feitas com linhas únicas, importadas de outros país e utilizada apenas pelos moradores do castelo. Não era difícil identificar um servo real de um trabalhador normal.
Esperamos em silêncio até Karl adentrar o quarto novamente, suas roupas simples o deixava com uma aparência ainda melhor.
- Princesa. – pronunciou após uma breve reverencia.
- Senhor Colin.
- A que devo a honra de mais uma visita da senhorita?
- Tempestade.
- Ah sim. – sentou-se ao meu lado. – Ainda está a fazer passeios com ela?
Aparentemente Ramon não contou, ótimo. Aqui estava eu para lhe dar uma péssima notícia, Karl era tão apegado com Tempestade quanto eu, e saber que ela não estava em boas condições deixaria Karl enfurecido.
- Não exatamente.
- Desculpe-me majestade mas poderia ir direto ao motivo por estar aqui?
- Certo, Tempestade está machucada.
Karl me olhou surpreso.
- Como isso aconteceu?
- Soltaram ela ontem, e ninguém conseguiu pega-la. – Simon respondeu. – Encontramos ela na floresta hoje pela manhã.
- Está muito machucada?
- Um pouco.
A calma de Simon estava começando a me irritar. Como tudo aquilo parecia ser tão “natural” para ele? E um pouco machucada? Um pouco? O que ele considerava ‘muito machucada’?
- Tempestade é arisca não deixará ninguém cuida-la. – disse por fim.
- E o que exatamente eu tenho a ver com essa situação majestade? Estou afastado de qualquer serviço neste castelo, até Leroux me liberar.
- Karl é a Tempestade, temos que fazer alguma coisa.
- Sinto muito princesa mas não existe nada que eu possa fazer no momento para ajuda-la.
- Pensei que se importasse com todos neste reino.
- E me importo, mas não posso fazer nada se estiver à sete palmos da terra. – respirou fundo. – Se não houver mais nada para dizer, poderia por favor se retirar, Simon precisa descansar e eu também.
Levantei-me ainda perplexa, Karl nunca havia falado comigo daquela maneira. Me retirei do quarto dos rapazes, ainda sem rumo. Karl era minha única opção para salvar Tempestade, mas não era mais viável.
Sentei-me em um dos bancos do jardim, precisava pensar em como resolver aquela situação. Tempestade era importante demais para mim, e eu não me sentaria ao seu lado vendo-a morrer lentamente. Acharia um jeito de salva-la.

Doce JuliettaOnde histórias criam vida. Descubra agora