A motorista

dando conta de tudo

Miranda não sabia como processar todas as informações e isso atrapalhou sua digestão, porque a mulher ficou quieta, observando a comida, pensando no que poderia dizer e não dizer.

Andrea percebeu a situação, sentindo que o clima descontraído gerado pela dança e pela refeição pesou de repente e não queria deixar que aquele momento estragasse a barreira que ela havia conseguido ultrapassar resolveu encerrar a noite.

- Miranda, se você já terminou, acho que deveríamos ir embora. Já está tarde e amanhã você terá mais um dia na revista. – Sugere a mais jovem desconfiada.

Miranda quase se sente aquecida pela preocupação da mais jovem, mas ao mesmo tempo pode jurar que sente desconforto por não saber o que dizer para Andrea. A mulher apenas concorda com a cabeça, preferindo o silêncio. Não tinha o menor jeito em consolar alguém e não queria pior a situação falando inapropriado.

Andrea recolheu as embalagens e se surpreendeu com Miranda recolhendo seu blazer e estendendo para ela. A jovem o pega das mãos da mais velha, sem deixar que a oportunidade de que dedos resvalasse um no outro se perdesse. Miranda não esboçou uma reação, apenas encarou a menina.

As duas seguiram para o carro e Miranda esperou que Andy jogasse fora as embalagens para que podesse abrir a porta do veículo para ela. Em toda sua majestade, a mulher ajeita os cabelos grisalhos enquanto observa Andrea se aproximar, imaginando que naquela noite já tinha feito muitas concessões para sua funcionária. Andrea abriu a porta do carro encarando a chefe e soltando um sorriso reluzente, o qual Miranda já admirava embora não assumisse.

- Tenha uma boa noite, Miranda! – Andrea desejou ao estacionar na rua da casa de Miranda e abrir a porta do carro para a chefe.

Miranda não responde, é óbvio. Mas quando dá as costas para a motorista, sorri revirando os olhos.

Dentro de casa, a mulher foi direto para o quarto de hóspedes tomar um longo banho quente. A ultima coisa que ela queria era ver é Stephen, optou por dormir por lá.

Na manhã seguinte, Miranda foi até seu quarto o encontrando vazio e sentindo alívio por isso. Vestiu-se impecavelmente para o trabalho, ou seria para Andrea? Riu de si mesma pela possibilidade e seguiu para o andar debaixo. Beijou as gêmeas que tomavam café da manhã para irem para a escola e despediu-se, dizendo que comeria no trabalho e ignorando as filhas que, curiosas, perguntaram por que a mãe estava tão feliz.

Quando abriu a porta de sua casa, lá estava ela sorrindo e impecavelmente vestida em seu habitual uniforme, com seus lábios carnudos emoldurando seu sorriso reluzente. Miranda nunca percebeu que era uma grande apreciadora de sorrisos, até conhecer o de Andrea. Ou melhor, até conhecer o sorriso de Andrea tão próximo dela. Miranda quase desejou ser o motivo dele.

A mais jovem abriu a porta para a chefe, fechando-a rapidamente assim que a mulher entrou e indo para seu lugar. Andrea não queria perder nenhuma reação da mais velha quando ela percebesse o que tinha planejado.

Miranda olhou para o retrovisor surpresa quando percebeu um copo de café e... um bilhete.

“No que você pensa quando fecha os olhos?”. Leu a mais velha. O que isso ela quer dizer? perguntou-se. Eu sei lá no que penso quando fecho os olhos... Geralmente eu durmo, pensou com sua boca formando seu habitual bico. Andrea observava cada expressão dividindo sua atenção entre a mulher através do retrovisor e a estrada.

Miranda continuou pensativa, bebericando seu café. Mal prestou atenção no percurso e quando deu por si, Andrea estava abrindo a porta para ela, diante da majestosa entrada da Runway. Institivamente, a mulher fechou a mão que trazia o bilhete, escondendo-o. Nem se dera conta que pela primeira vez mexeu e provou dos mimos que Andy lhe deixava. Saiu do carro imponente e ignorou Andrea lhe desejando bom dia.

- Mais que inferto, hoje não veip ninguém disposto a trabalhar? A mulher questionou irritada, sua manhã foi extremamente corrida, para completar, Irv resolveu fazer uma reunião, pegando a mulher de surpresa, uma infeliz surpresa, e pela tarde a mais velha se perdeu escolhendo as novas corres para deixar em evidência para a revista do mês, depois corrigiu erros na escolha da nova coleção e para piorar, as fotos para a edição atual estavam com uma edição péssima. A mulher estava irritada. Muito irritada!

Miranda odiava incompetência. A mulher suspirou fundo e elegantemente jogou seu corpo em sua cadeira. Ao fechar os olhos, buscando relaxar, lembrou-se da noite anterior, de Andrea conduzindo seu corpo em uma dança, das sensações que sentia através das mãos da mais jovem, suspirou. A mulher abriu os olhos assustada, olhou ao redor do escritório e fechou os olhos novamente. Dessa vez, percebeu que imagens de Andrea sorrindo lhe invadiam. Seus lábios carnudos, seu sorriso reluzente. A mulher sorriu de olhos fechados, aproveitando o momento. De repente, se deu conta do início da manhã, voltou a si e abriu sua gaveta. Lá estava ele, amassado. Miranda pegou o papel e o abriu.
“No que você pensa quando fecha os olhos?”

Miranda recusou-se a assumir, mas não sabia o que fazer para deter um sorriso. O que aquela garota pensava que era para desestabiliza-la daquela maneira? A mais velha bufou, levantando-se e caminhando para fora de sua sala.

- Bolsa, casaco! – Proferiu para Emily.

Na frente do carro, ignorou totalmente Andrea, entrando no carro rapidamente. Sentada, a mulher se questionou o que estava acontecendo. Recostou a cabeça no banco do carro, olhando para a janela, fechou os olhos e novamente se viu tomada por flashes da noite anterior. Dessa vez, não tentou evita-los e sorriu. Andrea a observava pelo retrovisor, sorrindo discretamente. Ao perceber que o veículo parava em frente à sua casa, a mulher voltou a si. Percebeu que trouxe o bilhete consigo e observou Andrea descer de seu lugar, dar a volta no carro e abrir a porta para ela. A mulher levou sua mão em direção à mais jovem e ofereceu-lhe o bilhete.
- Você. – Disse apenas. Deu as costas e entrou na mansão.