2. How could we let it slip away?

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*Flashback on*

-Eu sou Ellie Chu - As palavras saíram da minha boca sem eu nem perceber, a única coisa que conseguia processar era que Aster Flores estava ali na minha frente recolhendo meus livros que Trig fizera o favor de derrubar.

-Eu sei - Ela respondeu sorrindo - Você toca nos cultos do meu pai todo domingo há uns 4 anos - Explicou como se fosse óbvio, eu não consegui falar mais nada, estava concentrada tentando permanecer viva. Ela continuou - Você é a pagã favorita dele, ele não suporta acompanhadores medíocres mesmo que sejam beatos - Ela desviou o olhar para pegar um dos livros que ainda estava no chão e sorriu mais uma vez. Meu deus, o sorriso dela era lindo, não sei como eu ainda estava viva - "Os Vestígios do Dia", adorei, todo aquele desejo reprimido...- Eu quis falar alguma coisa mas nada veio, senti um nó formar na minha garganta que me impediu de pronunciar qualquer palavra. Ela esticou o braço, pegou meu celular e me entregou, levantamos juntas, a atendente ainda estava na linha mas eu permanecia muda, não saía nada. Aster deu um sorriso gentil e foi embora. Eu fiquei ali, paralisada me sentindo uma idiota, "Eu sou Ellie Chu? SÉRIO?" resmunguei enquanto a atendente retornava com a ligação.

*Flashback off*

A primeira vez que vi Aster foi quando comecei a tocar na igreja, em Squahamish, após a morte de minha mãe. Apesar de eu não acreditar em Deus, tocar na igreja ajudava a preencher os dias que haviam se tornado solitários e sem sentido, muitas vezes eu me perguntava como seria viver como aquelas pessoas. A certeza nessa força divina dava a elas um propósito para levantar da cama todos os dias e viver suas vidas, então às vezes, só algumas poucas vezes, eu me pegava pedindo pra que essa força qualquer que rege o universo me enviasse algo em que acreditar também e quando ouvi Aster cantando no culto a primeira vez me pareceu que aquilo era um sinal. Uma voz tão doce que paralisou todo o meu corpo, os tons mais graves tocavam bem fundo no meu coração, fiquei tão hipnotizada que esqueci até mesmo de onde eu estava, algo assim certamente só poderia ser uma obra divina. Eu tinha 15 anos e já não conseguia tirar a filha do reverendo da cabeça sem entender direito o por quê, me via cada vez mais curiosa sobre ela, me perguntava o que ela poderia gostar, quais eram seus interesses e sonhos... Queria poder conhecê-la melhor, o que era loucura porque ela nem ao menos devia saber ou notar a minha existência. Mas por que eu estou falando isso? Porque dois anos depois disso, quando Trig derrubou meus livros no corredor e eu tive a primeira oportunidade de trocar uma palavra com ela, eu simplesmente não consegui falar qualquer coisa que fizesse sentido. A simples presença dela me bagunçava de uma forma que era impossível até de lembrar como se respira, a cabeça girava e eu ficava totalmente sem rumo.

Depois que fui para a faculdade, conheci outras pessoas e vivi outros momentos. A Sra. G. estava certa quando disse que na faculdade eu encontraria pessoas da minha idade que também me entenderiam mas nada em nenhum momento se compara às sensações que eu sentia quando Aster estava por perto. Sei que quando somos mais novos tudo que sentimos é muito mais intenso porque, afinal, tudo é novidade, a primeira paixão, o primeiro amor, o primeiro beijo... Mas com o passar das experiências, nós vamos controlando o que expomos às outras pessoas porque aprendemos quando caímos, então já levantamos pensando em como não cair daquela forma de novo. Nós endurecemos de modo a não deixar nossas veias expostas mais uma vez... Bem... Esse era o pensamento que eu procurava amadurecer durante todo esse tempo, mas agora Aster estava ali, parada a uns cinco metros de distância, a perplexidade em seu rosto já havia se misturado a um sorriso e eu me vi sorrindo de volta enquanto sentia meu corpo ser consumido por brasa da mesma forma que me senti quando a vi cantando na igreja anos atrás quando eu nem sabia o que tudo isso poderia significar. Não dava para acreditar que eu tinha passado as últimas horas pensando nela e, de repente, ela estava ali parada na minha frente. E como ela estava linda, os cabelos ondulados soltos um pouco abaixo do ombro, uma franja meio bagunçada, um suéter largo em tons terrosos, um lenço meio frouxo no pescoço, um casaco escuro nas mãos... Demorei o tempo de duas batidas do meu coração para que eu enfim tivesse a ideia de ir até ela mas antes mesmo que eu pudesse dar o primeiro passo e sair do lugar, ouvi alguém chamá-la, era Lucas que vinha do lado oposto e chegou até ela rapidamente, eles se aproximaram em um abraço.

Its's a Fluke - The Half of It (Você Nem Imagina)Onde histórias criam vida. Descubra agora