Andei de braços dados com o Kalel por todo saguão, a sala do trono realmente é bela. Passamos pelo corredor principal, tudo era enorme, o teto era alto, as escadarias pareciam infinitas e as janelas eram tão grandes que a luz do sol deixava os cachos louros de Kalel em um tom mais claro, seus olhos pareciam ainda mais verdes. Ele não falou nada por todo o trajeto, até que viramos à esquerda, outro corredor imenso, mas esse era decorado com diversos quadros, todos da família real, e foi só então que nosso diálogo começou:
— Aqui é uma exposição da família real, temos quadros de toda a família, você estará aqui um dia. — Disse ao me encarar, pude notar um certo desânimo na sua voz.
— Sim, eu estarei. — Dei um sorriso fraco, ele retribuiu. — Sei que não quer se casar comigo, a ideia também não me agrada muito. — Ele desviou o olhar e continuou:
— Não é como se eu não pretendesse me casar com o maior símbolo de resistência contra o meu governo, longe disso, sempre esteve nos meus planos. — Ironizou, mas admito que ri daquilo, foi quando ele voltou a me encarar. — Mas alguém com senso de humor talvez estivesse.
— Então diga à sua futura esposa, como é a mulher dos seus sonhos? — Ele parecia pensativo, não ficávamos parados por muito tempo.
Agora olhávamos o quadro do Rei Pietro II, ele teve muitos filhos, 12 para ser mais precisa, mas apenas 8 legítimos, ou pelo menos era isso que vinha escrito logo abaixo do quadro.
— Acho que a minha esposa seria uma mulher compreensiva. — Disse ele por fim.
— Para entender que um rei tem muitas amantes? — Ele riu.
— Eu devo dizer que adorei o seu senso de humor. Mas não para isso, e sim para entender que nunca quis me casar e que só estou fazendo isso para garantir herdeiros.
E fomos ver outro quadro: "princesa Charlotte, filha primogênita, abdicou do trono no dia que completou 21 anos, passando a legitimidade para seu irmão mais novo, Will, ela nunca assumiu o trono."
— É estranho pensar que se eu abdicasse, minha irmã jamais assumiria. — Ele admitiu, seu tom parecia neutro, mas algo em sua expressão me mostrava que ele também não entendia o porquê daquilo.
— Sua esposa entenderia se ela também não planejasse se casar. — Andamos mais um pouco, ele não desfazia o entrelaçado de nossos braços e sempre me guiava com cuidado, tentando manter um olhar inexpressivo, entretanto, eu conseguia analisá-lo bem. — Por que Jade nunca assumiria? — Ele suspirou ao escutar minha pergunta.
— A família real tem tradições: uma delas, ao que se refere aos herdeiros, como todos sabem, o primogênito quem assume. Porém, existe uma outra regra, o primogênito deve, obrigatoriamente, ser homem. A princesa Charlotte foi uma exceção, mas ela nunca assumiu o trono, então que diferença faz? — Ele voltou a encarar a pintura de longe, ela foi feita na véspera de sua maioridade. — Pelo menos ela não morreu como as outras. — Arregalei os olhos com tal informação.
— Como assim "não morreu como as outras"? — Perguntei completamente chocada. Sempre soube das crueldades da realeza, mas não sabia que eles seriam capazes de matar seus próprios membros.
— Como eu disse, a princesa Charlotte foi uma exceção. A regra sempre foi não deixar uma mulher assumir o trono, deste modo o patriarcado se manteria forte. — Seu tom não era de aprovação.
Tentei piscar, mas a ideia de um pai mandar matar a própria filha não entrava na minha cabeça de jeito nenhum, que tipo de animal, ou melhor, que tipo de monstro, seria capaz de fazer uma coisa dessas?
— Mas a Charlotte... — Não consegui completar a frase.
Fiquei me questionando se meu pai, não o Ash, mas sim meu pai biológico, seria capaz de fazer isso.
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Golpe de Estado (Coroa de Vênus - Livro 1)
RomanceTrilogia: Coroa de Vênus - Livro 1 (Golpe de Estado) Em Vênus, um dos mais influentes reinos de Sylaris, o trono do rei Dhrumond está sendo ameaçado. Diversas polêmicas envolvem o nome da família real, desde a morte da rainha Helena e sua filha Cath...