Golpe de Estado (Coroa de Vênus - Livro 1)

Capítulo 18

AVISO: BEBAM ÁGUA

Minhas costas se arrastaram parede abaixo. Eu não conseguia enxergar pelas lágrimas que embaçaram minha visão. Apenas agradeci ao meu pai por ter empurrado o corpo de Hades.

— Papai!

Eu o chamei antes que fosse para cima de Hades. Ele deixou o rebelde de lado e agachou à minha frente. Acho que iria limpar minhas lágrimas, mas pus as mãos na frente.

— Filha, eu...

— Chame o Kalel, apenas chame ele. — Disse entre soluços.

Meu pai se levantou, não disse uma só palavra. Porém, Hades ainda estava no quarto.

— Não me deixe sozinha com ele. — Minha voz estava trêmula.

— Saia do quarto de minha filha, agora! — Ash gritou com raiva.

Hades apenas obedeceu. Eu me encolhi, abracei minhas pernas e apoiei minha cabeça em meus joelhos. Queria sumir. Ouvi meu pai gritar algo como: "Chamem o príncipe." Eu sabia que Ash ainda estava lá, comigo. Não o via, mas escutada seus passos inquietos percorrerem o piso escuro de madeira. Escutei a voz de Kalel. Levantei a cabeça de imediato. Ele veio até mim, agarrei-o. Kalel acariciava meu cabelo, não disse nada, apenas esperou meu momento. Abraçados no chão, eu não tinha forças para me levantar, apenas tentei me concentrar nele, pois já não conseguia controlar as batidas de meu coração. Senti seu perfume. Aos poucos me acalmei. Soltei-o aos poucos. Ele se levantou e estendeu a mão para me ajudar. Ele me guiou até a cama e se sentou ao meu lado.

— O que aconteceu contigo?

Conseguia ver em seu olhar, sua voz baixa e suave, na maneira que segurava minha mão, o quão preocupado estava. Abri a boca para responder, mas as palavras não saiam. Puxei o canto da boca na tentativa falha de um sorriso. Queria poder garantir que estava tudo bem e que não precisava se preocupar. Contudo, nem mesmo uma frase eu conseguia formular sobre o assunto sem que minha mente me leve de volta a toda aquela situação horripilante. Fechei os olhos e senti calafrios. A presença de Kalel fez meu coração se aquecer. Todavia, saber que Hades e eu dormiríamos no mesmo lugar, por mais que em quartos diferentes, fazia meu cérebro imaginar tantos cenários devastadores que agora já não conseguia mais imaginar a fortaleza como sendo meu lar. Será que em algum lugar eu poderei me sentir segura?

— Foi o Hades. — Ash respondeu Kalel após meu silêncio perturbador.

— O que ele fez?

Dava para sentir a raiva na pergunta dele. O príncipe soltou minha mão e, antes que meu pai pudesse respondê-lo, alguém bateu na porta. Ash caminhou até ela e respondeu ainda com a mão na maçaneta:

— Ele tentou abusá-la.

Kalel me encarou com olhos arregalados, eu queria voltar a chorar naquele momento. Mal notei o rebelde que falou com meu pai.

— E onde ela fica? — Kalel perguntou rápido.

Eu estava tão atordoada que mal sabia do que eles estavam falando. Sebastian se levantou e passou por meu pai. O rebelde foi com ele e o líder caminhou até mim.

— Aonde eles foram?

Coloquei a mão na cabeça tentando assimilar tudo aquilo.

— Ozias está levando Kalel à enfermaria.

Franzi o cenho.

— Por quê?

— Porque Hades está lá.

Meu coração voltou a acelerar. Tentei me levantar, mas sem sucesso, estava tão nervosa que não consegui impulsionar meus braços. Contentei-me em questionar: