Prólogo

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Park Jimin estava cansado. É, cansado até demais. Ele já não aguentava as besteiras que ouvia, os julgamentos sem razão, as brigas cada vez mais frequentes entre ele e Kim Taehyung, seu marido, que não levavam a lugar nenhum. Não fazia sentido, então por que continuavam gritando um com o outro?

Quis cobrir os ouvidos com as mãos ao que mais uma vez Taehyung fazia uma reclamação sem motivo que apenas os levaria a brigar, gritar, discutir. E nunca resolvia absolutamente nada.

— Chega! — Ditou o Park, irritado demais para lidar com a própria indignação. — Eu não aguento mais.

E ele realmente não aguentava. Sua cabeça estava a ponto de explodir, seus olhos ardiam com a vontade de chorar que segurava, seu lábio inferior tremia tanto quanto suas mãos. Ele só queria que tudo aquilo passasse, ou que acabasse antes que destruísse tanto ele quanto seu marido.

Aquelas brigas não eram saudáveis para nenhum deles, desgastava toda a relação que construíram nos oito anos que estavam juntos, sendo três de casados. Jimin tinha vinte e oito anos, ainda era jovem e já sentia-se cansado de sua vida devido aquelas malditas discussões infernais.

— Eu cansei! — Ditou novamente, a voz um pouco mais mansa, claramente sem força alguma de discutir uma vírgula mais que fosse.

— E o que quer que eu faça se cada coisa que você faz me irrita? — Aquelas palavras doeram em Jimin como nenhuma outra jamais havia feito.

— Então eu sou um incômodo, é isso? — A voz embargada demonstrava toda a dor que se apossou do seu peito.

E as palavras que juraram um ao outro no dia do casamento? E todas as vezes que disseram se amar? Nada daquilo valia agora? Foi tudo literalmente em vão?

Taehyung não respondeu, e Jimin soube no meio daquele silêncio que ele quis muito dizer que sim, que ele quis dizer que Jimin era mesmo um incômodo. Jimin teve certeza de que era isso, e seu coração doeu. Um gosto amargo percorreu um caminho ainda mais cruel conforme concordava com a cabeça, pegando as chaves do carro pronto para sair do apartamento onde morava com o marido.

— Onde você vai? — Indagou o mais alto, segurando o pulso de Jimin.

— Para algum lugar onde eu não o incomode. — Sussurrou, deixando o outro para trás.

Talvez o melhor a se pensar fosse o divórcio, talvez o melhor fosse deixar esse casamento para trás antes que os dois começassem a se odiar. Eles tiveram uma amizade linda, um namoro de dar inveja, mas desde que casaram tudo se tornou um caos.

Jimin discou o número do seu melhor amigo assim que passou a dirigir, deixando o celular no viva-voz para poder conversar com o mesmo. Precisava desabafar. As lágrimas caíam fracamente, mas pareciam cortar sua faca feito uma navalha.

— Olá, hyung, tudo bem? — A voz suave do moreno soou com delicadeza pelo veículo, trazendo uma calmaria sem igual para o peito de um agitado Park Jimin. — Você está chorando, hyung? O que... o que ele fez?

Jungkook sempre sabia, ele sabia que o único motivo de Jimin chorar tinha nome e sobrenome. E um suspiro o escapou ao ouvir outro soluço vindo do mais velho. Sendo sincero, ele odiava o marido de Jimin, porque o Park era seu melhor amigo e machucava mais do que tudo vê-lo sofrer por alguém que deveria lhe dar todo amor e carinho do mundo.

— Quer que eu vá encontrar você? Podemos ir ao cinema, não sei. Ou você pode vir aqui em casa comer besteira e chorar nos meus braços. — Jungkook era um anjo, ele verdadeiramente era.

Um anjo lindo e amoroso de vinte e seis anos.

— Posso ir até aí, mesmo? — Murmurou entre um soluço e outro. — Eu não aguento mais, Jungkookie, parece que a qualquer momento eu vou sufocar com tudo isso. E... ele deixou bem claro que eu sou um incômodo... ele não me ama mais.

Jungkook sentiu seu peito apertar, ele podia ouvir com clareza o choro sofrido de seu hyung e isso doía como o inferno porque, vejamos, Jimin sempre o cuidou e protegeu, desde que eram pequenos e o Park fazia curativos em seus joelhos ralados até a adolescência onde o enchia de doces e mimos com seu coração partido.

Eles eram unidos em um nível extremo. Eles tinham algo que Jimin e Taehyung talvez nunca tivessem, e Jungkook sabia muito bem o quanto o marido do seu melhor amigo o odiava por isso.

— Dói tanto, Jungkookie. — Aquela voz manhosa era de partir o coração.

E Jimin continuou a desabafar, e as lágrimas cada vez mais nublavam sua visão que já estava cansada após um dia cheio de trabalho. Isso somado ao fato de que era noite, tornou-o um homem um tanto perdido no trânsito, que acabou ultrapassando um sinal vermelho sem perceber.

E ao telefone Jungkook ouviu todo o acidente, junto ao choro mais forte de Jimin, seus gritos e, por fim, seu silêncio enquanto outras inúmeras vozes preocupadas pairavam ao seu redor.

~#~

Jeon Jungkook nunca sentiu-se tão aflito quanto quando estava em uma sala de espera precisando aguentar Kim Taehyung chorando copiosamente por seu marido deitado em uma cama de hospital. O Jeon queria alfinetar e dizer que aquilo era tudo culpa do outro, mas era um estresse que não precisava ter no momento.

Quando o médico avisou, no meio da madrugada, que exceto a batida forte na cabeça e um braço quebrado, tudo estava bem, os dois puderam suspirar um pouco mais aliviados. Mas Jungkook só sentir-se-ia realmente bem ao ver o seu hyung conversando com ele e lhe dizendo que, de fato, estava bem. Caso contrário, não conseguiria arredar o pé dali tão cedo.

— Jungkookie! — Um sorriso cansado surgiu nos lábios de Jimin, que estavam um pouco mais pálidos que o normal.

Ele estava machucado, mas ainda era o Jimin que Jungkook conhecia e isso o fazia se sentir muito melhor. Acabou segurando a mão menor que a sua, apenas certificando-se de que ainda era a mão quentinha do seu hyung. Um sorriso pôde lhe escapar com tranquilidade.

— Como se sente?

— Minha cabeça dói e eu não sei o que aconteceu, mas estou bem. — Sorriu. Jimin só reclamava de dor ou de algo que o incomodava quando estava ao extremo, como quando desabafou sobre o marido horas mais cedo. — Jungkookie, quem é aquele loiro olhando pela janela?

Jungkook olhou na direção do mais velho, vendo Taehyung os observando com a sobrancelha direita arqueada, parecendo um pouco confuso com o que estava havendo ali.

Mas o que chocou Jungkook foi a pergunta de Jimin, afinal como assim quem era aquele.

— É o seu marido, hyung. — Estreitou os olhos, principalmente com o choque estampado na face alheia.

— Mas, Jungkookie, eu não tenho marido!

Heartbeat | jjk + pjmOnde histórias criam vida. Descubra agora