~Anne
Já havia se passado dois dias desde o chá na casa dos Barry. E tudo transcorria dentro da rotina. Marilla havia feito deliciosos pães, Matthew arrumado cercas da fazenda que estavam quebradas, Jerry, o ajudante francês, havia escovado os cavalos e eu tinha escrito e guardado em um canto secreto a minha carta de despedida para Green Gables.
– Anne, cheque a caixa de correios, por favor. – Marilla gritou de algum cômodo da casa.
Para mim, aquele era um típico dia em que você poderia se dar ao prazer de não fazer nada. Do mesmo modo que eu adorava sair e caçar aventuras, eu também gostava de desfrutar da monotonia. Afinal, o que seria da aventura se não houvesse o descanso? Você não pode viver a vida sem um equilíbrio e esperar que dê certo. Por isso, fiquei um pouco irritada quando tive que parar a leitura do meu livro para fazer o que Marilla tinha mandado. Respirei fundo e me levantei para realizar a tarefa.
Saí de casa e senti o vento forte batendo em mim, arrepiando-me por inteira. Peguei as malditas cartas brutamente e voltei marchando para dentro de casa. Eu ia apenas jogar aqueles papéis em cima da mesa e voltar para o meu quarto, onde meu querido livro estava à minha espera, mas minha curiosidade falou mais alto e eu quis bisbilhotar o que aqueles envelopes guardavam. Olhei para os lados, para ver se não tinha ninguém que pudesse recriminar minha ação e rapidamente comecei a olhar todas as cartas, procurando alguma que me despertasse interesse. Eu não ia de fato abrir nenhum envelope, minha boa conduta me impedia, entretanto, havia uma carta que não estava selada, ela era diferente das outras, até na textura do papel. Por não ter nenhum fecho, abri o envelope e peguei o papel que estava lá dentro. Comecei a ler. De fato quem a escrevera tinha uma bela grafia e sabia lidar com as palavras muito bem, pois era um texto fluido e agradável de se ler, porém o que me intrigava era seu conteúdo. No papel, estava escrito com todas as letras que quem a havia escrito era o novo proprietário de Green Gables. Novo proprietário. Como que alguém poderia residir no local em que eu morava? Como ele poderia ter comprado a fazenda sendo que ela nem estava à venda? Quem era Gilbert Blythe e por que ele havia nos endereçado uma carta falando tamanho absurdo? Essas e mais perguntas giravam e giravam em minha mente, até que fui tirada dos meus devaneios de repente quando escuto uma voz.
– Anne, estou te chamando há tempos! No que está tão focada que não conseguiu me escutar? – Marilla questiona.
Eu, com o susto que tomei, escondi rapidamente a carta em minhas mãos nas minhas costas e olhei com os olhos arregalados para Marilla enquanto pensava em uma mentira convincente.
– Err, eu estava... Eu só estava... – Gaguejei.
– Ora, não interessa o que estava fazendo. Matthew precisa de ajuda no celeiro, você poderia auxiliá-lo? – Ela perguntou calmamente.
Suspirei de alívio e concordei avidamente. Aquela carta era um mistério e mistério significava aventura. Eu não poderia simplesmente contar para Marilla sobre a carta sem ao menos antes investigar. Havia tantas possibilidades de solução para aquele enigma! E sei que nem se quisesse Marilla poderia imaginar todos eles. Mas eu poderia e assim o faria.
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Shirbert- A Fazenda em Avonlea
FanfictionGilbert, um médico solitário se muda para uma fazenda, apaixona-se por uma professora, que troca cartas com ele pelo correio de sua casa. Quando eles descobrem que estão vivendo no mesmo dia com um século de diferença. •Escrita por @anablythewld e @...