- Pronto – Atendi o celular depois da vigésima vez que ele tocava embaixo do meu travesseiro. Era sábado e eu costumava dormir até mais tarde aproveitando a folga do trabalho e da faculdade, mas alguém não queria me deixar dormir até à uma da tarde hoje.
- Você já está pronta? Passo para pegar você em 15 minutos – Sheley falou do outro lado do telefone com a voz entrecortada como se estivesse pulando do outro lado da linha.
- Pronta? Eu estava dormindo Sheley, não tenho compromisso hoje e não me lembro de ter marcado nada com você – Respondi me arrastando para fora da cama e rumando para o banheiro. – E para sua informação odeio acordar cedo em um sábado. – Falei já sentada no sanitário.
- Eu não tenho culpa se você não se lembra do que combina com as pessoas Amy, você disse para o Caleb que daria uma passada na festa hoje e ele está contando com a sua presença nem que seja por pouco tempo – Ela explicou com humor na voz que me fez ter vontade de socar ela pelo celular.
- Esquece, eu não vou – Falei mais uma vez já pensando nos meus planos para um sábado livre de qualquer responsabilidade.
- Como eu disse Amyzinha, passo ai daqui a quinze minutos – E desligou.
Merda, merda, merda, mil vezes merda. Eu já tinha dito que não iria para nenhuma festa na piscina que Caleb cismava em promover, era sempre insuportável, pessoa demais, bebidas demais e drogas demais, e eu odiava tudo isso por que as pessoas pareciam se esquecer do senso e da ética quando estavam nesse tipo de lugar. Não que eu fosse um exemplo de pessoa, mas eu não bebia a ponto de arrancar minhas roupas e ficar com cinco caras numa noite sem me lembrar deles no outro dia me rendendo vídeos e fotos constrangedoras como eu já havia visto acontecer com duas ou três meninas na faculdade.
Mas eu realmente tinha dito para Caleb que apareceria, por esse motivo eu iria e quando se passasse umas duas horas eu viria pra casa e tudo estaria bem outra vez, curtiria meu sábado e colocaria minha série em dia, era o plano perfeito.
Tomei um banho rápido, coloquei um biquíni preto e por cima um short jeans e uma regata, calcei chinelos e coloquei algumas coisas na bolsa que eu poderia precisar, como protetor solar, óculos de sol e mais uma troca de roupa.
Eu sabia que Sheley não era de se atrasar, se ela disse quinze minutos era certo de que com esse tempo ela estaria buzinando como uma louca bem na portaria do meu prédio como já havia feito algumas vezes, por saber disso eu preferi descer e esperar por ela na calçada, isso evitaria os olhares de desagrado dos outros moradores por conta do barulho que ela sempre fazia.
Assim que coloquei os pés na portaria vi seu HB20 encostando em frente, apertei o passo e acenei para que ela visse que eu já estava aqui e que não precisaria começar o seu escândalo particular por simplesmente pensar que eu havia me atrasado mais que os 15 minutos estipulados por ela.
Tirei meus óculos de sol da bolsa assim que passei pelo hall e acenei para Jorge, um senhor baixinho e magricela que tomava conta da portaria aos finais de semana, rodeei o carro e abri a porta do carona.
- Ops princesa, aqui está ocupado – Finnick falou com um sorriso sarcástico no rosto assim que eu fiz menção de me sentar no banco onde ele estava.
- Meu Deus Sheley, se eu soubesse que você traria esse...cara eu teria ido no meu próprio carro - Fiz um bico e revirei os olhos dentro dos meus óculos. A verdade é que eu estava começando a achar divertido essa coisa de alfinetar Finn, era bom ter alguém que revidava minha grosseria a altura, eu não iria no meu carro de verdade mesmo que ela tivesse me avisado que ele viria conosco, mas para não perder o costume eu estava implicando com ele, outra vez, como aconteceu durante toda a semana que passou, nos encontrávamos, trocávamos meia dúzias de grosserias e cada um ia para o seu lado, se sentindo vitorioso por achar que havia colocado o outro em seu devido lugar.
- Perdeu sua chance garota - Shel disse sorrindo achando graça da nossa falta de empatia um com o outro - Agora arrasta essa sua bunda gigante para o banco de trás e vamos logo, Caleb me ligou e a mulher que cozinharia furou com ele, pelo que parece a filha dela decidiu que deveria parir justo hoje, vamos ter que dar um jeito na comida.
- Para aquele batalhão que Caleb sempre leva para suas festas? Sem chance, comprem salgadinhos. – Eu disse cruzando os braços sabendo que se não colocasse um basta naquilo eu acabaria na cozinha cozinhando para um batalhão de pessoas.
- Não seja tão carrancuda, dessa vez Caleb convidou só algumas pessoas intimas, não vai passar de dez pessoas, você poderia fazer os hambúrgueres? Os seus são os melhores, por favor - Sheley pediu olhando pelo espelho diretamente nos meus olhos e fazendo aquela cara de gato do Shrek que ela sabia ser meu ponto fraco.
- Apenas dez e não vou passar o dia queimando a barriga no fogão para encher o rabo dessas pessoas de comida. – Respondi prendendo meu cabelo num coque no alto da cabeça enquanto pensava que essa festa tinha sido uma péssima ideia.
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- Já estava na hora – Digo assim que desço do carro e pesco minha bolsa pendurando ela no ombro. Diferente das outras festas que Caleb estava acostumado a oferecer essa não seria na casa que seus pais haviam alugado para ele perto da faculdade e sim numa propriedade um pouco afastada a uns trinta minutos de onde morávamos.
Olhando em volta percebi que parecia mais uma casa de campo, a casa em tom pastel não era tão grande, havia um jardim bem cuidado na frente, um caminho de pedras que levava até as escadas de acesso a casa e uma fonte onde havia um elefante jorrando água pela tromba.
Caleb nos esperava na porta com um sorriso no rosto, ao seu lado encontrava-se um homem e uma mulher mais velhos, seus pais, e creio eu que ele não convidou toda a faculdade como em suas festas anteriores justamente por que os dois mais velhos participariam dessa vez.
- Oi, vocês demoraram – Caleb disse com um sorriso no rosto logo depois de nos apresentar aos seus pais, o senhor e a senhora Dawson tinham rostos gentis, ela era uma mulher na casa dos quarenta anos, tinha os cabelos cor de chocolate como os meus, mas enquanto o dela era tão liso que escapava do elástico que o prendia num rabo de cavalo curto os meus eram encaracolados e iam até a minha cintura. Já o senhor Dawson aparentava ter uns cinquenta e cinco anos e parecia tanto com Caleb que o mais jovem poderia se ver no futuro olhando para o pai.
- Agora eu entendi o porquê de eu ter sido chamada para participar da sua festinha – Me dirigi a Caleb enquanto ele indicava onde colocaríamos nossas coisas – Só para que eu cozinhasse para você e o seu bando de seguidores ensandecidos, isso é golpe baixo sabia? Eu disse para a Shel que era uma péssima ideia te deixar provar dos meus hambúrgueres. - Bati meu ombro no dele em forma de brincadeira entrando no quarto e ouvi sua gargalhada na porta enquanto eu colocava minha bolsa em cima de uma das camas que havia no cômodo.
- Juro que não, aquela velha desgraçada desmarcou a quarenta minutos atrás – Ele falou se desencostando da porta e fazendo um movimento com a cabeça para que eu o seguisse em direção a sala – Mas não é nada mal hambúrgueres, prometo te recompensar com pizza no próximo fim de semana – Ele disse indo em direção a uma porta que dava para os fundos da casa onde eu imaginei ser a piscina.
Assim que saímos porta a fora vi que eu estava certa, ali existia uma piscina enorme, com boias de todas as cores e tamanhos, logo adiante uma área de lazer onde existia uma churrasqueira, mesas e quatro freezers que eu apostava estar lotados de bebidas alcoólicas. Ao lado da churrasqueira ficava uma porta de vidro que deduzi ser uma sauna e mais adiante uma escada que dava acesso ao segundo andar da área de lazer e ali tinham vários chalés.
- Ei cara, onde eu coloco todo o equipamento? – Finnick se aproximou com as mãos enfiadas nos bolsos de sua bermuda branca estampada com minúsculos barcos a vela pretos – Tem que ser num canto mais calmo, nada de gente bêbada enchendo a porra do meu saco.
- Por que toda frase que sai da sua boca tem que ter um palavrão Smith? - Perguntei revirando os olhos.
- Palavrão é sexy, não sabia princesa? - Ele sorriu de lado e deu uma piscadela para logo depois direcionar sua fala para Caleb novamente – Em cuzão? Onde eu coloco o equipamento?
- Sei lá porra, coloca em qualquer lugar - Caleb respondeu e logo se afastou sendo chamado por sua mãe avisando que mais pessoas estavam chegando.
- Merda – Finnick xingou mais uma vez antes de virar as costas e sair para o outro lado da piscina pegando uma maleta logo em seguida e entrando na casa.
Decidida a começar os hambúrgueres o quanto antes para me ver livre da obrigação que jogaram nos meus ombros segui Finnick para dentro da casa a fim de perguntar a mãe de Caleb onde eu poderia fazer os hambúrgueres. A encontrei conversando animadamente com Sheley sentada no sofá da sala, ela me pediu para ficar a vontade e disse que eu poderia fazer o que precisasse na cozinha de dentro da casa para que não tivesse muito tumulto enquanto eu trabalhava, preferi assim, poderia ficar longe dos bêbados escrotos até terminar os hambúrgueres e depois de encher a minha pança eu iria para a minha casa feliz por ter matado dois coelhos numa cajadada só.
Chegando na cozinha vi que os ingredientes e a grelha já estavam dispostos em cima de uma bancada de mármore, então peguei um avental que estava pendurado por ali, prendi meus cabelos com um elástico e lavei minhas mãos para começar a fazer o alimento que encheria a barriga dos quase bêbados que estavam na parte de trás da casa.
- E a princesa virou cozinheira – Ouvi a voz de Finnick logo atrás e virei encontrando ele apenas com uma sunga branca com uma listra preta de cada lado, seus músculos não tão esculpidos estavam gritando o quão bonito ele era e seu abdome definido era o convite para a perdição, convite esse que todas as garotas da faculdade queriam receber.
Eu não seria hipócrita de dizer que não achava Finnick lindo, claro que ele era lindo, mas o que tinha de lindo tinha de idiota e eu estava bem sem ter meu coração partido por um cara que pensava apenas em quantas calcinhas arrancaria até o fim do mês. Ele era tudo o que meu cérebro relacionava com perigo, lindo, cheiroso, tatuado e marrento então eu tentava manter a maior distancia possível mesmo que nosso grupo de amigos não nos deixasse muito tempo longe um do outro.
- O que você tem ai? – Perguntei apontando para a maleta que estava em uma de suas mãos depois de um tempo estudando aquele corpo que deveria ser proibido para qualquer pessoa, Deus não podia ser injusto ao ponto de deixar uma pessoa com essa aparência nascer, era meio que um pecado e uma judiação com todos os outros meros mortais.
- Maquinas e tintas, Caleb quer que eu faça algumas tatuagens hoje – Ele respondeu entrando na cozinha e colocando a maleta em cima da mesa a abrindo logo em seguida.
- Você é tatuador? – Perguntei me aproximando da mesa para olhar dentro da maleta – Que legal você deve desenhar muito bem – Sorri por que eu também adorava desenhar e era um sonho trabalhar com isso por esse motivo eu cursava Artes na faculdade.
- Eu faço alguns rabiscos – Ele me sorriu e começou a montar a maquina de tatuagem.
- Qual foi a primeira coisa que você desenhou no corpo de alguém? – Perguntei animada mexendo nas tintas que estavam ali.
- Um beija-flor – Ele respondeu, mas já não havia um sorriso em seu rosto.
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Depois de terminar de fazer todos os hambúrgueres e fritar algumas batatas decidi ficar para curtir a piscina nem que fosse só por um tempo, como Caleb não convidara pessoas demais os bêbados não seriam um problema, até por que eu já estava meio alta depois de algumas cervejas e duas doses de tequila.
Sheley e eu estávamos sentadas nas espreguiçadeiras ao lado da piscina enquanto algumas pessoas brincavam dentro da água, Caleb estava sentado mais adiante junto a Finn que tatuava a cintura de uma garota, ele desenhava uma espécie de ramo com flores que começava na cintura e descia até sua coxa, ele fazia aquilo despreocupadamente como se não tivesse medo nenhum de errar e marcar a pele da pessoa com uma merda para sempre e isso fez com que eu admirasse o tipo de profissional que ele era, com uma garrafa de cerveja ao lado e um hambúrguer pela metade ele ria e conversava com a garota e Caleb enquanto trabalhava.
Munida de coragem e álcool me levantei e caminhei até onde eles estavam, assim que me aproximei ele levantou os olhos para me olhar e sorriu de canto.
- Ei rapazes – Eu disse me sentando numa cadeira que havia ao lado de Finn – A próxima sou eu – Falei pegando sua pasta com amostras de desenhos que ele já havia desenhado.
- Você tá brincando – Um Caleb muito bêbado gargalhou – Vai mesmo deixar o Smith te marcar? O que aconteceu com todos aqueles insultos e o papo de ele ser um inútil? – Ele disse levando sua garrafa aos lábios e sorvendo o liquido.
- Estou querendo saber do que ele é realmente capaz – Dei de ombros levando a minha própria garrafa aos lábios, e foi nesse momento que eu ganhei a atenção de Finn, ele me olhou de cima a baixo fazendo com que um frio se instalasse na minha barriga, sorriu, dispensou a garota com um aceno de cabeça e deu um gole em sua cerveja enquanto se levantava e dizia:
- Eu vou te mostrar do que eu sou capaz então – Ele disse pescando minha mão e me puxando para dentro da casa.
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AIMED AT YOU
Teen FictionFinnick Smith tem a palavra problema tatuada bem no meio da testa e Amy Becker sabe disso muito bem. Aqueles braços tatuados, o cigarro entre os lábios e sorriso fácil não a enganam, ela precisa manter distancia, então por qual motivo ela se vê cad...