AIMED AT YOU

6

Passei a maior parte do tempo olhando para o meu prato enquanto mordia a pizza aérea ao que os três indivíduos sentados na minha sala estavam conversando.
Eu estava incomodada, não deveria e nem podia, mas estava. Finnick estava engolindo uma garota a poucas horas atrás bem na minha frente e agora estava sentado no chão encostado no meu sofá, comendo pizza e bebendo cerveja como se nada tivesse acontecido, e para ele talvez não fosse nada, mas para mim era coisa demais, eu só não sabia como demonstrar isso sem parecer patética e uma namorada ciumenta já que não éramos namorados.
- Não é mesmo Amy? - Sheley perguntou olhando pra mim segurando a pizza no meio do caminho para sua boca dando uma mordida em seguida.
- O que? Não ouvi o que você disse estava distraída - Falei prestando atenção pela primeira vez na noite a roda que estava formada no chão da minha sala de estar.
- Percebi que está com a cabeça na lua hoje - a risadinha de Sheley saiu pelo nariz enquanto ela se inclinava para recostar na lateral do meu sofá.
- São só os trabalhos da faculdade e as provas, nada demais - Sai a francesa e esperei que ninguém tivesse notado a mentira deslavada que eu estava contando naquele segundo. - Mas o que você perguntou? - sorri amarelo com falso entusiasmo com as palavras que saiam da boca de Sheley e Caleb.
Finnick também estava calado no seu canto, não que ele fosse a pessoa mais falante do mundo, mas ele era um pouco mais comunicativo. Vez ou outra sua atenção saia da pizza e ia para nossos amigos, outras ele olhava diretamente para o meu rosto na esperança de que eu retribuisse o olhar e pudéssemos nos comunicar por ele, mas nessas vezes eu me obrigava a ficar de cabeça baixa concentrada na pizza e na lata de coca  que eu levava aos lábios de tempos em tempos.
Depois de devorar todas as pizzas que Caleb havia trazido decidimos encerrar a noite, Caleb tinha uma festa para ir, Shel tinha acabado de receber uma mensagem de sua irmã mais velha pedindo para ir ao seu encontro pois seu carro tinha enguiçado numa estrada longe da cidade e Finnick inventou qualquer história afim de sair porta a fora.
Eu estava irritada? Muito mais do que queria admitir, mas eu sabia que não tinha nenhum direito de reclamar do que aconteceu mais cedo, então,  como sempre eu coloquei o que me incomodava no fundo dos meus pensamentos e decidi que a próxima vez que trombasse com Finnick faria questão de deixar claro que não tinha nenhum clima ruim entre a gente eu sustentaria a mentira de que só estava com um monte de coisas na cabeça por causa da faculdade e do trabalho.
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Eu já estava deitada quando ouvi meu celular tocando na sala, hoje a noite estava excepcionalmente quente, isso me fazia ter saudades de casa, minha mãe, minha irmã mais nova e eu costumávamos acampar na sacada em dias como esse, olhávamos o céu límpido e comíamos o quanto de besteira a barriga aguentasse, era uma boa época antes de todas as complicações caírem sobre os ombros de mamãe.
Levantei num pulo e fui em busca do celular perdido por entre as almofadas do sofá, na tela aparecia o nome de Finnick com um emoji vomitando, era uma maneira de o irritar todas as vezes que ele via como seu contato estava salvo, ele dizia: engraçado, não vejo resquícios de nojo no seu rosto quando eu estou... e nesse momento eu sempre começava a gritar para que ele parasse de ser tão pervertido.
- Finnick? - Atendi o celular curiosa para saber qual o motivo da ligação.
- Oi Amy - Sua voz rouca reverberou nos meus ouvidos fazendo com que um arrepio subisse pela minha espinha. Era sempre assim, ele falava e meu corpo correspondia a cada nota de sua voz, uma coisa louca, e eu não gostava tanto disso, eu sabia o que significava mas eu era muito boa em esconder as coisas e era sempre isso que eu fazia.
- Está tudo bem? Aconteceu alguma coisa? Já se passa das uma da manhã - sentei no sofá esperando por sua resposta, ele inspirou e expirou consegui ouvir pelo auto falante, mas alguns segundos se passaram até que ele enfim respondeu a minha pergunta.
- Está tudo bem sim, só liguei para saber de você, hoje você parecia distante e incomodada quando chegamos aí - Então ele sabia do que se tratava, a ligação era para me perguntar sutilmente se eu estava puta por ter o visto com outra pessoa, ele só não deve a coragem que deveria para me perguntar isso assim que pisou na droga do meu apartamento, mas não importava, eu já havia decidido que estava tudo bem, já tinha resolvido o problema como sempre eu resolvia, por que o que eu menos gostava na vida era de deixar as pessoas em situações ruins ou embaraçosas.
- Está tudo ótimo Smith - Usei seu sobrenome como uma piada particular para que ele soubesse que sim, estava tudo bem - Eu só estou mesmo atolada até o pescoço com a faculdade e o trabalho, mas assim que eu dormir eu me recupero rapidinho, o fim de semana serve para isso não é? - Sorri forçado para o telefone como se ele pudesse ver através da tela.
- É,  eu acho que sim - Ele falou sem jeito e eu o imaginei bagunçando o cabelo para logo depois passar a mão pelo rosto em sinal de nervosismo como ele sempre fazia - Escuta - Ele começou e eu sabia que era agora que ele falaria da ruiva que estava agarrada como um carrapato nele mais cedo, meu coração falhou uma batida e eu jurei que o que ele dissesse não me faria mudar de ideia, eu diria que tudo bem e seguiriamos em frente como tinha que ser - Sobre mais cedo, eu não esperava te encontrar naquele momento - Ele falou meio sem graça.
- A tudo bem, não é como se fosse grande coisa - Falei tentando parecer não tão afetada com o fato de ele estar tentando explicar uma coisa que não tem muita explicação.
- Não era para você ter visto aquilo, sinto... - Ele tentou começar com um pedido de desculpas outra vez.
- Tá tranquilo Smith, não é como se você estivesse fazendo algo de errado, eu vou dormir agora ok?
- Ummm, tudo bem então, tenha uma boa noite - Ele respondeu meio a contra gosto.
- Boa noite Finnick - E  desliguei
Eu voltei para o quarto decidida a enterrar o que fosse que eu estava sentindo por Finnick, definitivamente ele era um furacão e ao longo dos dias eu descobriria que estava bem no meio dele, enquanto ele destruia tudo a sua volta.