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Jeremy passou a mão pelos cabelos rebeldes, a culpa corroendo as suas veias. Foi idiota ao confiar em Anna e mais ainda em ajudá-la a alimentar-se. Só deu-se conta da sua idiotice, quando viu Eve e o Lewis mortos. Mas logo lembrou-se que Maya disse-lhe que iria a uma festa com os mesmos.

—Merda. — praguejou correndo até ao carro.

Hesitante, espreitou pelo vidro partido, tentando não tocar em nada. Anna ainda alimentava-se, mas já não havia gritos. Foi um tremendo descontrole da parte dela, mas estava feito. Jeremy viu sangue e jurou ter visto os cabelos de Maya. Angustiado pela culpa pegou no telemóvel e ligou para a ambulância.

—Jeremy, não! — repreendeu Anna tentando tomar o telemóvel das mãos dele

Mas ele empurrou-a.

—Ela é minha amiga. Achas que ficarei bem comigo mesmo sabendo que deixei-a morrer? — ele questionou

Mesmo que insegura, Anna não tinha argumentos para retrucar as palavras de Jeremy. Ele nunca iria perdoar-se se não a tentasse salvar.

Passaram minutos, o que para Jeremy pareceu uma eternidade mergulhado na angústia. Mas ele foi puxado do seu poço de culpa, ao ouvir as sirenes da ambulância. O resto pareceu um borrão em sua mente. Tiveram que partir o carro, e tirar o corpo ensanguentado de Maya, deitando-o cuidadosamente na maca.

Anna já não estava lá. Não podia, já que estava suja de sangue.

Jeremy então entrou na ambulância, vendo o estado de Maya. Bom, se ela não sobrevivesse, se antes ele duvidava, agora tinha certeza que seria assombrado com a culpa.

As próximas horas foram ainda piores. Elena e Stefan visitaram Jeremy no hospital, esperando que a operação acabasse brevemente.































Maya ouviu ruídos ao seu redor. Seus olhos estavam fechados, suas pálpebras pareciam coladas. Parecia que morreria a qualquer momento, mal sentia o coração bater no peito. Só uma ardência absurda nos pulmões.

—Ela está a ter uma parada cardíaca. — murmurou Jeremy desesperado, Maya estava em seu leito de morte, e só ouvia zumbidos agudos

—Jeremy, vai chamar a médica! — ordenou Elena e o irmão obedeceu sem questionar

A Gilbert virou-se então para o namorado.

—Tens a certeza? — Stefan perguntou ao perceber as claras intenções de Elena antes mesmo dela as expressar em palavras

—Sim! Stefan, o Jeremy não conseguirá viver em paz por conta da morte de uma amiga. — justificou Elena

—E se ela tornar-se vampira?

—Ao menos estará viva.

Stefan suspirou derrotado, aproximando-se de Maya. Tirou a máscara de oxigénio e levou o pulso à boca, mordendo-o. Por fim, derramou o sangue na boca da mais nova. Uma quantidade significativa, com medo de ser pouco para a curar, e ela voltar como vampira.

Olharam para os aparelhos, os batimentos cardíacos logo estabilizaram. Stefan voltou a pôr a máscara de oxigénio, afastando-se da mais nova. Elena suspirou aliviada. Ela não aguentaria ver Jeremy condenando-se por algo que não era culpa dele.

O que Elena não sabia, era que seu irmão mais novo, supostamente inocente, era testemunha e cúmplice do acidente.

No dia seguinte, Maya abriu os olhos. Paredes brancas, o barulho repetitivo e irritante dos aparelhos. O soro era introduzido nas suas veias. Tudo a deixava confusa.

Ela estava totalmente confusa. Não sabia onde estava e nem como foi lá parar.

—Hey. — Jeremy cumprimentou entrando com uma pequena caixa

Ela sorriu com o cenho franzido, achando a visita estranha.

—Ainda bem que estás melhor. — ele sorriu verdadeiro

—Obrigada. — ela agradeceu ainda confusa — Mas eu não me lembro de nada. E muito menos não entendo porque vieste visitar-me.

Jeremy gelou. Ou ela sabia que ele era cúmplice do seu acidente, improvável mas possível. Ou era uma brincadeira de muito mau gosto.

—Maya, não tem graça.

—Maya? Quem é a Maya?

—Não me digas que esqueceste do teu nome. — comentou sarcástico, apesar de apavorado

—Eu...bem... — disse atrapalhada — Quem és tu? E porque estás aqui?

—Não te lembras de mim?

Ela negou com a cabeça. O desespero caiu com tudo no corpo de Jeremy. Ela realmente não se lembrava dele? De quem ela era?

—Qual é o teu nome?

—O meu nome é... é...— forçou a mente mas nada veio, e o desespero também tomou conta dela — eu não sei qual é o meu nome! Não consigo lembrar.

—Calma que vou chamar o médico. — ele pediu saindo do quarto

Ela não estava morta, mas em compensação, sofria de amnésia. E pelos vistos era grave, já que nem do próprio nome lembrava.































Então eu e tu estudamos juntos desde que entramos no liceu, é isso? — Maya repetiu e Jeremy assentiu

Maya estava milagrosamente melhor — porque Stefan a curou na noite anterior —, apesar da perda de memória. Ainda não se sabia se era temporário ou definitivo, o que Jeremy torcia que fosse temporário. Mas ela não se lembrava de nada.

—Isso. — ele concordou pegando no saco onde estavam algumas roupas de Elena e entregando à Maya

A Adams havia recebido alta, mesmo os médicos assustados com a súbita melhora.

—Obrigada. — ela agradeceu e Jeremy assentiu, saindo do quarto, torcendo que ela ainda se lembrasse de como vestir-se

Maya trocou de roupa, e fez uma careta com as calças e a blusa. Não havia gostado, e tinha plena consciência que não era sua roupa, pelo tamanho.

Minutos depois, Jeremy entrou, com um sorriso tímido.

—Vamos, irei levar-te para casa.

Ela assentiu, sem saber o que dizer. O que poderia dizer? Ela não sabia onde morava, com quem morava. Se tinha família...

Só lhe bastava confiar em Jeremy.

01 | MemoriesOnde histórias criam vida. Descubra agora