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Se Maya fosse honesta consigo mesma, ela era apaixonada por Jeremy Gilbert. O comportamento rebelde, o cheiro inconfundível de droga e as roupas escuras. Os cabelos castanhos sedosos e rebeldes além do sorriso maroto. Maya tinha uma paixão enorme por Jeremy. Um sentimento indescritível.

Mas ela não era honesta consigo mesma, então usava o argumento esfarrapado que era só uma atração. A típica atração que as raparigas tinham em homens mais velhos, ou em rapazes rebeldes. Ou até em galãs de televisão.

Mas Jeremy não demonstrava nenhum interesse nela. Ela sabia disso. Os dois conheciam-se, eram da mesma sala e conversavam algumas vezes. Mas Jeremy só tinha olhos para Vikki. Até Vikki morrer, e ele portar-se como se nada houvesse acontecido. Como se nunca tivesse nutrido sentimentos pela Donovan.

Ninguém notou, porque para o resto da escola, Jeremy era só um órfão drogado. Mas Maya notou.

—Temos um trabalho de história para entregar na próxima semana. — ela relembrou

Jeremy sorriu para ela, que retribuiu. Os dois podiam considerar-se amigos.

—Na verdade, eu é que tenho. — corrigiu maroto

—E eu prometi que iria ajudar-te. — ela retrucou e bateu de forma suave o seu ombro com o ombro dele

—O que é de mim sem Maya Adams? — brincou

—Um péssimo aluno em história. — zombou

—Nem um pouco modesta. — comentou sarcástico

—Posso ser uma aluna de suficiente, mas sou uma historiadora no corpo de uma adolescente. — ele riu das palavras dela carregadas de falsa arrogância

—Nem é para tanto. — ele beijou suavemente a bochecha dela e passou a mão pelos cabelos lisos da Adams, os desarrumando, finalmente indo embora

—Que fofa, está apaixonada. — zombou Eve ao aproximar-se da amiga

Eve era a única amiga — verdadeira — de Maya. E a única que sabia da paixão intensa da mesma pelo Gilbert mais novo.

—Não é paixão. É só...

—Atração, eu sei. — Eve revirou seus olhos verdes de forma exageradamente dramática — Já disseste isso muitas vezes. E queres um conselho?

—Não!

—Vou dar-te um na mesma. E mais, vou dar-te dois! — ignorou a negação da amiga — Primeiro, supera essa paixão. És demasiado para o bico de menino imaturo dele. E segundo: arranja um argumento melhor que atração.

—És insuportável. — resmungou

—Sou a tua moralidade. Estás tão afundada nessa paixão inebriante e não recíproca até ao ponto de perderes a festa de aniversário do teu irmão mais velho para o ajudares. — julgou

Maya suspirou. Certo, talvez não fosse só uma atração. Ela estava tão apaixonada como Eve fez parecer?

—Irei desmarcar com o Jeremy. E eu não sabia que o Lewis ia dar uma festa. — foi o seu único argumento, ainda que chateada por seu irmão não a ter contado da festa

Eve deu de ombros. Eve não deveria ter revelado sobre a festa de Lewis, até porque a maioria era universitários bêbados e até drogados na maior indecência, Maya não devia presenciar esse tipo de ações, por ter só 15 anos — palavras do próprio Lewis para Eve.

Mas Eve só queria que Maya perdesse o interesse em Jeremy, e desse mais atenção à sua vida. Fazer novas memórias. Umas boas, outras nem tanto. Mas todas intensas e épicas. E ela faria isso.

Uma pena que futuramente Maya não teria essas lembranças planeadas por Eve, porque as coisas iriam descarrilar e Maya sofreria uma amnésia.































Maya suspirou olhando-se no espelho da casa de banho. A música alta deixava-lhe com dores de cabeça. E ela jurava que se continuasse na festa, iria ensurdecer. Ela sentia-se um peixe fora d ' água. A maioria eram realmente amigos universitários do irmão. Outros eram só jovens da sua escola que deram uma escapulida para a festa. Bebidas por todos os lados, drogas num pequeno canto escuro — parecia uma cena clichê de filmes —, sem contar na quantidade de pessoas que agarravam-se do lado de fora. Ela gostava de festas, mas aquele ambiente não era para ela.

Seguindo os conselhos — manipulação — de Eve, a Adams abriu a pequena bolsa que carregava consigo e tirou o batom vermelho, passando nos lábios. Mais uma vez, encarou o seu reflexo. Tinha que admitir, estava bonita com o batom. Mas chamaria atenção indesejada de vários jovens homens com segundas intenções. Não que ela se importasse. Ela só queria ir embora.

Saiu da casa de banho rapidamente enfiando-se na multidão. Era impossível passar sem esbarrar ou empurrar outra pessoa. E estava um calor insuportável. Procurou pelas pessoas que influenciaram-na a vir à festa.

Ao lado da piscina, viu seu irmão e a sua melhor amiga, e pelas feições e expressões corporais, os dois estavam mais uma vez discutindo. Era o típico clichê: os dois namoraram, mas assim que terminaram não conseguiam ficar no mesmo ambiente sem se agredirem verbalmente. Algo bastante comum e irritante, só para realçar.

—Ela nem devia estar aqui! — ralhou Lewis com Eve vendo a mesma revirar os olhos dando um longo gole na garrafa de tequila

—Era aqui ou passar a tarde toda a fazer uma pesquisa de um rapaz irresponsável. — Eve deu de ombros

Maya revirou os olhos e pousou as duas mãos no ombro de cada um, sendo encarada pelos mesmos.

—Agora que já discutiram sobre a minha vida social, podem levar-me a casa? — perguntou com deboche — É que estes saltos estão a aleijar-me. — completou com uma careta de dor

—Mas que raio de batom é esse Maya? — chiou Lewis

Ele era extremamente protetor com a irmã. Desde o que vestir, até com quem andar. Para Lewis, Maya era uma boneca de porcelana que precisava ser protegida de tudo e de todos, senão, quebraria.

—Eu levo-te para casa. — ofereceu Eve ignorando Lewis

—Nem pensar. Tu estás mais bêbada do que sóbria. Eu levo-vos. — impôs o mais velho

—Tu és o anfitrião, não podes deixar a tua festa. — comentou afiada, a ex. namorada

—Antes abandonar a festa do que deixar-te sozinha com a minha irmã. — cuspiu

Maya revirou os olhos, andando para o estacionamento. Ao entrarem no carro, Lewis deu partida. Eve tentou pôr música, mas só veio uma discussão.

—És uma péssima influência.

—E tu mal deixas a tua irmã respirar. É uma surpresa para mim todos os dias que a vejo viva. — debochou

—És muito engraçada.

—O que com certeza tu não és.

—Podem parar de fazer com que a discussão pareça sobre mim? — interrompeu Maya irritada — Vocês têm um problema, não me metam no meio. Tenho a certeza que quando namoravam, eu não estava entre vocês. Porque insistem em tentar meter-me num problema vosso?

Veio o silêncio. Silêncio até Lewis quase atropelar alguém. Ele virou o volante numa tentativa de desviar, mas o carro capotou pela estrada. Maya bateu com a cabeça uma, duas, três, quatro vezes no vidro. Ou mais. Sua visão turva captou um vulto que arrancou o corpo do irmão do carro com brutalidade. Seus olhos finalmente fecharam-se. Ouviu os gritos apavorados, mas ela já não sabia identificar de quem eram, ou porquê. A dor absurda e a dificuldade de respirar instalou-se em seu ser, o que provocou uma ardência em seus pulmões. E por último, veio a inconsciência.

01 | MemoriesOnde histórias criam vida. Descubra agora