Quem é Rachel Grace?

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A moça que trabalhava na casa me recepcionara e me levara à varanda da casa que devia ser no terceiro andar, eu realmente não sabia. Eu estava sentando em uma cadeira bem simples, embora confortável, tomando chá, e esperando entusiasmadamente. Deviam ser quase cinco horas da tarde e até as cores do céu pareciam saber que aquele era um momento especial; o brilho alaranjados do sol se erguiam e combinavam tão perfeitamente com azul vivo do céu, as nuvens finalizavam a vista majestosa, acrescentando um tom mais escuro naquela obra de arte, só aquela vista já teria valido a pena aquele percurso de uma hora e meia até aquele bairro afastado. Eu começava a imaginar de onde vinha a inspiração dela para suas obras.

Eu ainda achava que tudo aquilo só poderia ser uma grande pegadinha, uma mistura de felicidade e desespero percorria minha mente, e meu corpo parecia responder a isso com suor e pensamentos invasivos sobre pular daquela varanda e possivelmente quebrar uma perna. Não conseguia parar de surtar ao pensar que em qualquer momento eu iria finalmente encontra-la, que eu ia realmente conhecer Rachel Grace.

Okay, talvez eu esteja indo rápido demais. Deixem que eu me apresente e conte para todos vocês quem sou, quem é Rachel Grace, e porque essa foi a experiência que mudou minha vida completamente.

Bom, meu nome é Carlos David Valdez, tenho 28 anos e trabalho na L.D.M Magazine, a maior revista literária do Ocidente. Comecei a trabalhar na revista quando tinha apenas 18 anos, e após noites sem dormir, crises existenciais e muito café, passei de estagiário para editor. Mesmo que eu não saia muito em trabalho de campo, esta é uma situação especial, afinal de contas, a alguns dias a L.D.M recebeu uma carta anunciando que uma escritora bem específica lançaria um novo livro, e como se não pudesse ser mais chocante, seu último livro.

Mas o que há de especial nisso não é mesmo? Escritores se aposentam todos os dias, afinal, não é a profissão mais fácil do mundo. Mas nesse caso há algo diferente, o ''escritor'' em questão é Rachel Specter Grace, e acreditem, saber o seu nome completo é o maior nível de informação que todo o mundo tem sobre ela. Isso porque ninguém nunca viu Rachel Grace, ninguém nunca ouviu sua voz ou mesmo alguma manifestação de seus pensamentos, se não os seus livros. Ela levou ao extremo aquela ideia de deixar a arte falar por si.

Tudo começou 15 anos atrás, quando um livro, filiado a uma pequena editora, foi publicado. O livro se chamava ''A doce arte da revolução''. Em situação comum, não pareceria algo que de fato fosse fazer muito sucesso, mas, a parti do momento que aquele livro foi publicado, tudo deixou de ser uma situação comum. Começou quando um crítico extremamente excêntrico e renomado chamado Pierre Ludwig, nascido em Quebec, mas morador de Vancouver, publicou no seu blog sua crítica sobre o livro. Pierre era conhecido em todo mundo, suas críticas tinham peso para levar uma obra famosa ao esquecimento, ele fez seu sucesso criticando grandes escritores, classificando suas obras como ''incoerentes e risíveis''.

Mas tudo mudou quando ele escreveu sobre o livro de Rachel Grace, as palavras usadas por ele até hoje permanecem em minha memória. As palavras de Pierre me motivaram a querer ler aquele livro, elas motivaram o mundo a querer ler aquele livro. Suas palavras de estopim foram:

"Desde muito novo decidi fazer algo de bom pela quinta arte, sempre tive paixão por leitura, e desde criança me revoltava ver como as pessoas usavam a escrita de forma leviana e petulante. Decidi não me contentar com isso, e que não desistiria até que todo aquele que realmente não possui o dom, reformule seus pensamentos e pare de destruir a arte que tanto amo. Ao longo dos anos meu coração se endureceu, e perdi as esperanças de encontrar algo no pensamento prepotente dos homens que pudesse mudar minhas convicções. Então, qual não foi minha surpresa quando a dois dias, andando pela pequenina feira de um dos pequenos bairros de Vancouver, me encontro com um livro de capa vermelha simples, escrita em fonte estilizada e cor dourada 'A doce arte da revolução'. Por meus muitos anos indo aquele pequena feira, sabia que aquela moça, que tinha seu nome junto ao título daquele livro, não possuía obras anteriores, então, dado ao tédio que todo aquele que já me proporcionou uma leitura me causou, decidi conceder uma chance àquela moça, e comprei, por um preço extremamente baixo, o seu livro. E hoje, após dois dias, terminei a obra de Rachel Grace, e declaro a todo aquele que confia em minhas críticas, que não haverá em sua vida obra tão marcante e que lhe arrancará tantas lágrimas quanto 'A doce arte da revolução'. Se cem anos se passarem, se minha memória se perder devido a idade ou mesmo se o mundo se acabar, essa obra permanecerá para sempre em meu coração. À queria Rachel Grace, quero conhecê-la, lhe dar um abraço e passar horas ouvindo os frutos de uma mente tão brilhante''

A garota que queria contar histórias Onde histórias criam vida. Descubra agora