A entrevista

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Eu fiquei paralisado. Encarei as duas pessoas em minha frente, buscando algum tipo de explicação da piada, pronto para dar uma gargalhada nervosa. Mas a explicação não veio. Pensei que talvez elas quisessem levar essa piada mais longe, então, resolvi entrar no jogo perguntando: 

- É o que? 

‘’Rachel’’ me respondeu: 

- Sou Rachel Grace, é um prazer conhecê-lo.

Ela respondeu como se eu não houvesse entendido, de modo natural e simples, então um desconforto grande se apossou de mim: Elas não estavam brincando. 

- Não acredito.

As duas me olharam confusas, e consumido por irritação eu apenas continuei:

- Era bom demais para ser verdade, todos na L.D.M me avisaram, mas eu realmente senti que havia algo diferente. Não acredito que fiz uma viagem de uma hora para um lugar tão afastado para isso. Isso não é engraçado, sabia? É um trabalho de proporções gigantescas que foi feito por causa da mentira de vocês.

Eu acabara de pegar meu gravador e meu caderno para guarda-los. Eu não estava só irritado, estava frustrado também, frustrado por minha ingenuidade. Nesse momento, o medo que eu sentira outrora voltara a mostrar seus resquícios, de que talvez tudo aquilo pudesse ser uma armadilha e que minha vida pudesse correr perigo. Mas mesmo em estado de raiva, eu fui racional o bastante para descartar aquela ideia, caso algo acontecesse comigo, minha ausência seria notada rapidamente já que praticamente toda L.D.M sabia da minha ida até aquele lugar, nenhum tipo de criminoso cometeria um erro desse, além do que, na pior das hipóteses, eu e meus 1,84 deveriam ser mais que o suficiente para dar conta das duas rapidamente, me dando tempo de lidar com a moça que trabalhava na casa. 

Meu devaneio heroico foi interrompido pela voz gentil da mulher que se dizia chamar Adriana: 

- Por favor, se acalme, senhor ...? 

Fiquei um pouco envergonhado por minha explosão anterior, tentei falar calmamente, apesar de ainda estar irritado:

- Carlos, meu nome é Carlos Valdez.

- Por favor, senhor Carlos – disse Adriana – peço que se acalme, imaginamos suas dúvidas, mas no decorrer da entrevista vamos ...

- Entrevista? – respondi ironicamente – Com todo respeito, minha senhora, não sei que tipo de situação você e sua filha esperavam acarretar com esse jogo, seria até mais convincente se a senhora assumisse esse papel, não tem condições de sua filha ser Rachel Grace!

Eu voltara a ficar muito exaltado, e nesse momento as coisas começaram a ficar meio estranhas, a moça que se autointitulava Rachel começou a vir até minha direção, e automaticamente me armei em uma posição defensiva, que de modo algum pareceu intimida-la, ela apenas continuou vindo até mim, quando chegou bem perto, pude notar as olheiras de uma pessoa que não costumava dormir muito, mas algo muito além disso se revelou para mim, quando encarei aquela moça, que era mais baixa que eu e com certeza mais jovem, eu via um sentimento! Um sentimento melancólico de alguém que já passou por uma situação difícil o bastante para acabar de vez com toda a estrutura de uma pessoa e afundá-la numa depressão permanente... e eu não sabia se me sentia triste por alguém tão jovem já ter passado por algo assim, ou com medo... porquê de alguma forma ela conseguira se manter em pé e firme.

- Senhor Valdez – a jovem interrompeu meus devaneios – entendo suas questões e sei perfeitamente cada tipo de pensamento que se passa agora em sua mente. O senhor provavelmente desmarcou todos os compromissos de seu dia para essa entrevista, então não há nada à sua espera hoje. Peço encarecidamente que se sente e faça as perguntas que planejou previamente e as novas que surgiram após me ver, responderei cada uma delas com toda sinceridade e após isso, o senhor terá suas próprias conclusões sobre minha identidade. 

A garota que queria contar histórias Onde histórias criam vida. Descubra agora