Eu sempre fui uma criança muito apaixonada por histórias. Desde que eu nasci, fiz das histórias que meus pais me contavam as minhas histórias. Na minha imaginação eu era a donzela presa no alto da torre, eu era o cavaleiro de armadura que ia resgatá-la e também o feroz dragão que guardava o castelo. Eu não era ninguém de fato e ao mesmo tempo era todas as letras que formavam aquelas páginas.
Quando eu tinha quatro anos já era capaz de ler, aprendi associando as palavras nas páginas com as que meus pais me diziam, esse processo levou quase um ano, mas após ele, eu já era capaz de ler minhas histórias e até escrevia alguns ajustes que eu faria se pudesse, mesmo que não fossem bons de fato.
De um modo geral, minha vida era perfeita, ou tão perfeita quanto a vida de alguém de quatro anos e onze meses pode ser, e o motivo para eu não dizer de fato cinco anos, é porque em histórias é necessário que os fatos sejam precisos quando são importantes, e nesse caso, não é somente importante, é o fato que define quem sou hoje e quem fui por toda a minha vida.
Essa história começa realmente no dia anterior ao meu aniversário de cinco anos, eu estava muito animada porque meus pais disseram que tinham uma surpresa para mim no dia seguinte (o que não é algo sábio de se dizer para um criança de quase cinco anos), então, depois de muito chateação, descobri que a surpresa era que eu poderia escolher o brinquedo que quisesse quando fossemos para a loja no dia seguinte, o início de um sonho.
No dia seguinte, eu finalmente tinha cinco anos, e estava muito animada para isso, meu pai disse que poderíamos ir à loja de brinquedos após o almoço, e eu não poderia estar mais ansiosa. Para tentar me acalmar, minha mãe propôs que meu me levasse para buscar o meu bolo de aniversário. Acho válido dizer que eu amava bolo, e por ser para mim, fazia sentido ficar mais animada ainda, então, nós fomos atrás do bolo.
E aqui começa a tragédia de minha história, sem rodeios ou construção de cenário, apenas a exposição do pior dia de minha vida. Eu estava no banco de trás, lendo uma história, e meu pai disse que tinha esquecido de comprar minha vela de aniversário, e que não daria tempo de arrumar uma naquele horário. Fiquei bem triste, meu dia perfeito não seria tão perfeito assim, e eu apenas desanimei, pois sem minha vela, não teria pedido.
Meu pai, o homem sábio e que faria de tudo para ver um sorriso de sua filha, estacionou o carro e perguntou "O que você ia pedir, mew?". Mew era meu apelido quando pequena, como a maioria dos apelidos ninguém sabe ao certo como ele surgiu; meu pai me chamava assim o tempo todo, e eu gostava bastante, e ele quase me convencera a dizer, quando subitamente eu paro e digo "Não posso contar, pai, se não o desejo some", essa era minha forma de dizer que o desejo não iria se realizar; meu pai apenas sorriu naquele momento, um sorriso como se já esperasse aquela resposta minha. Ele então pegou uma folha de papel em branco e uma caneta dentro do porta-luvas do carro, começou a rabiscar algo após um curto período de tempo, me entregou a folha que possuía uma estrela dourada em uma constelação vermelha, e então, muito sagazmente disse:
- Filha, essa é uma estrela cadente que vai representar a sua vela, eu a guardei no meu coração anos atrás, quando você nasceu e disse que só iria mostra-la numa emergência, como não temos sua vela de aniversário, parece ser a emergência para fazê-la vir à tona, essa estrela vai realizar qualquer pedido seu, desde que você tenha aquilo que é mais importante.
- O que, pai? - Perguntei fascinada.
- Um desejo puro, que venha da parte mais profunda do seu coração, que seu desejo tenha um propósito nobre.
- Mas pai, como vou saber se meu desejo é de luz?
O modo como eu resumi pureza e nobreza em luz fez meu pai sorrir naquele momento, um sorriso singelo e poderoso, que mostrava o lado mais gentil daquele homem de quase dois metros, pele clara e cabelo preto no estilo militar, que acentuava bem os olhos castanhos os tornando mais gentis ainda... Meu pai disse naquele momento a frase que marcou minha vida, por muito mais tempo do que ele esperava:
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A garota que queria contar histórias
Short StorySe encontrar o próprio ídolo é sempre algo empolgante, quem pode imaginar o que uma entrevista com ele significa? Para Carlos Valdez, sua admiração por Rachel Grace foi o primeiro elo que os uniu, agora, frente a misteriosa escritora, Carlos tem a...