"Nunca existiu uma grande inteligência sem uma veia de loucura"
Não consigo dizer ao certo o que Aristóteles quis dizer com essa frase. É muito complicado pensar em loucura, conceitua-la e compreender o seu significado. Talvez pessoas loucas sejam apenas más compreendidas, talvez vivamos com uma concepção limitada, desenvolvida para dar sentido em nossas existências efêmeras e pequenas demais para a grandeza de um mundo que vai muito além, cujo o entendimento está fora dos domínios, e toda a história da humanidade não serviria para desvendar mesmo as partes mais simples. Talvez pessoas loucas só estejam além de tudo, capazes de notar os pequenos mistérios da vida, e não tentam saber o significado ou domina-los, apenas o apreciam, e por apenas aprecia-las, já entendem e estão mais próximas do que todo o restante das pessoas. A loucura talvez seja o pequeno passo da humanidade para a genialidade.
Eu acabara de ouvir a escritora mais brilhante do nosso século contar uma história sobre uma garota de cinco anos que morrera e começou uma nova vida como fantasma. Eu só conseguia pensar que nenhuma pessoa sensata conseguiria acreditar naquela história... E que a insensatez naquele momento me acolhia como uma mãe gentil, pois as lágrimas que insistiam em continuar a sair eram de algo mais profundo que uma simples crença, era uma empatia pela dor que cada palavra de Rachel Grace transmitia.
Rachel e sua mãe me encaravam sem nenhum tipo de julgamento. Adriana parecia entender ainda mais minha situação, seu olhar era de alguém que já havia passado por aquela confusão de sentimentos, mas em um tempo diferente e tão distante no passado que toda aquela loucura já era uma verdade inquestionável, era olhar de compaixão. Já Rachel novamente estava esperando o meu tempo, sem pressa ou impaciência, ela não fazia força alguma para tentar confirmar suas palavras para mim, para que eu precisasse aceita-las, de alguma forma ela sabia que eu acreditava e só precisava de um tempo para processar aquilo tudo.
Demos uma pausa de quinze minutos, nesse meio tempo, acabaram me servindo algumas coisas para comer e beber, como se dissessem "Reponha suas energias, isso tudo foi só o começo". Quando voltamos a entrevista, a primeira coisa que consegui dizer a ela foi:
- Sabe que tudo isso é loucura, não sabe?
- Sim - Ela respondeu ainda sem nenhuma alteração - pergunte, sei que deve ter muitas dúvidas.
"Muitas" era um eufemismo muito grande, eu estava questionando a estrutura da realidade naquele momento. Tentei manter a calma; passei anos de minha vida lendo sobre autocontrole para ter sucesso na vida profissional, e por mais distinta das demais que fosse, aquela ainda era uma situação profissional, e eu precisava controlar minhas emoções, tentei pensar no que dizer em seguida e apenas algo se formulou em minha mente:
- Esse garoto que você mencionou por último, que conseguia ver você, o nome dele é Vatos, não é?
E desde que começou a contar a sua história, foi o primeiro momento que vi Rachel ficar surpresa, durou menos de dois segundos, mas ainda assim pude notar surpresa em sua face. Ela apenas deu um sorriso contido, como se dissesse "Você desvendou, parabéns".
- Como descobriu? - ela perguntou.
- Apenas pareceu bem claro para mim agora.
Rachel parecia feliz, intrigada, mas feliz. Um sentimento bom se instalou em meu peito, era bom mostrar meus dons investigativos. Desde o primeiro livro lançado por Rachel, que não havia muitas informações pessoais sobre ela, a parte da dedicatória tinha algo escrito que para qualquer outra pessoa não faria sentindo, mas para mim naquele momento, era uma chave para a mente de Rachel Specter Grace. As dedicatórias de todos os livros eram iguais:
"Para meu pai, minha mãe e meu saudoso amigo Vatos"
- Parece que vocês se deram bem então - continuei - o que é ótimo.
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A garota que queria contar histórias
Short StorySe encontrar o próprio ídolo é sempre algo empolgante, quem pode imaginar o que uma entrevista com ele significa? Para Carlos Valdez, sua admiração por Rachel Grace foi o primeiro elo que os uniu, agora, frente a misteriosa escritora, Carlos tem a...