MUNDO PEQUENO

07. Tereza em ''A despedida de solteiro de Jorge Henrique''.

07. Tereza em "A despedida de solteiro de Jorge Henrique".

Lembranças de 1998.

Tereza havia se tornado prostituta de um homem só. Pior que isso: as prostitutas costumavam ganhar dinheiro e terem vontade própria, já Tereza só ganhava a comissão dos desfiles e tinha adquirido cegueira amorosa aguda. A culpa de tudo isso era das estocadas de Zé Ricardo. Se algum anjo lhe perguntasse se ela preferiria o céu ou as estocadas eternas daquele homem, ela tinha uma chance de 85% de escolher as estocadas.

Sim, vocês devem estar pensando que Tereza se encontrava maluca em sua época de adolescente. Vocês estão com toda razão. Por causa de Zé Ricardo, Tereza havia rejeitado pelo menos cinco ofertas de ser modelo na Europa.

– Não confie nessas propostas. – Dizia Zé Ricardo.

– E eu tenho motivos para confiar em você? – Rebateu Tereza.

– Ei, eu preciso que você confie em mim e que me ame incondicionalmente. – Pedira Zé Ricardo. – Eu vou te proteger ao máximo. Eu te garanto.

– Sim, eu vou tentar confiar em você até onde for possível. – Concluiu Tereza, que estava sentindo energias negativas pairando no ar.

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Vitória começara a sentir o maior amor do mundo e esse amor não era destinado a Jorge Henrique. Filho de político, moço bem-apessoado e cheio de posses, Jorge parecia o esposo perfeito para Vitória. Ela o amava muito mas nada se comparava aos sentimentos que ele começara a sentir pelo filho de ambos, Maurício. O vestido de noiva, no qual Vitória estava vestida, precisava ser ajustado mais uma vez.

– Será que Maurício seguirá a carreira política do pai e do avô? – Indagou a mãe de Jorge Henrique, que estava lhe acompanhando na prova do vestido.

– Eu só quero que ele seja saudável e feliz. – Respondeu a futura mãe.

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Não seria Raquel quem casaria, mas ela também curtiria a lua de mel de uma certa forma. Como Jorge Henrique se casaria no dia seguinte e Paulo Vítor ansiava em ser aprovado em Harvard, Raquel foi convidada pelo namorado para os pós da despedida de solteiro de Jorge Henrique. Como Raquel não era egoísta, decidiu contar a novidade para Tereza. Sim, Raquel tinha sido mentirosa consigo quando disse que esperaria Paulo Vítor voltar dos Estados Unidos para perder a virgindade ... Os quatro meses de sexo científico estavam sendo ótimos, inclusive.

– Se eu fosse você ia comigo. O Zé Ricardo certamente estará lá. Ele e Jorge eram praticamente inseparáveis antes do Zé te conhecer. – Comentou Raquel. – Quem me disse isso foi o Paulo Vítor, óbvio.

– Não sei se terei vontade de ir. O Zé Ricardo anda muito estranho comigo ultimamente, me pedindo para ter confiança nele. Acho que me apaixonei apenas pela melhor parte do Zé e temo ter que conhecer a pior em breve. – Confessou Tereza.

– Talvez você possa curar a parte ruim dele escondida. – Opinou Raquel. – Vamos, Tereza! Deixar de se divertir e de fazer amor gostoso com o Zé Ricardo não vai resolver nossos problemas de uma hora para outra.

– Tem razão. Talvez eu arranque algo dele com minha sedução. – Planejou Tereza.

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Pelos padrões e costumes sociais, Tereza e Raquel deveriam estar na despedida de solteiro de Vitória, não na de Jorge Henrique. Sim, elas, no mínimo, seriam expulsas da festa. No pior e mais provável dos casos seriam confundidas com prostitutas. Mas, a paixão desenfreada que ambas sentiam pelos seus respectivos namorados quebravam todas as regras e, assim, as duas aguardavam seus amores na despedida de solteiro de Jorge Henrique.

Para desgosto de Tereza, Zé Ricardo ainda não havia chegado à festa. Ela odiava admitir para si mesmo, mas estava morrendo de inveja de Raquel e Paulo Vítor, que se beijavam apaixonados. Quando estava decidida a ir embora, escutou um barulho de um carro chegando. Zé Ricardo saiu do carro sem camisa e implorou algo para Jorge Henrique. Pela situação, Tereza deduziu que Zé Ricardo estava pedindo uma camisa ao amigo. O estranho era Zé chegar à festa do melhor amigo sem blusa. Mais estranho ainda foi a conversa que Tereza ouviu entre os dois. Sim, ela não deveria segui-los e dar uma de detetive. Sim, isso tinha sido errado, mas necessário.

– Meu camarada, como você chega assim à minha despedida de solteiro? – Indagou Jorge. – Eu quem deveria está com cara de morto, já que vou perder minha liberdade amanhã, não você. Aliás, o Paulinho trouxe a mina dele e a sua. Aproveita a noite, mano!

– Eu queria vir mais cedo, mas se eu me atrasei foi por Tereza... – Explicou o filho de Beatriz Coelho. – Eu tive que fazer aquilo...

Tereza ouviria a conversa toda e provavelmente Isaac e Isadora não existiriam. Felizmente Raquel viu a amiga e a convidou para dançar.

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Raquel escolheu sua lingerie branca mais bonita e, de quebra, fez Tereza escolher sua lingerie vermelha. Aquela noite pegaria fogo! Bem, antes que o fogo se tornasse incêndio, a morena fez questão de lembrar a amiga de tomar o anticoncepcional, mesmo sem ter certeza se havia tomado o seu.

– Tem certeza que quer fazer amor com o Paulo Vítor ouvindo os meus gemidos com o Zé Ricardo, Raquel? – Perguntou Tereza, que trazia em seu rosto um semblante triste.

– Foi o local mais discreto que consegui arranjar meu amor. – Justificou-se Zé Ricardo. – Não quero que minha mãe saiba do nosso relacionamento dessa forma.

– Tudo... tudo bem. Ricardo, você me ajuda a colocar a cortina? Assim nenhum casal vai invadir visualmente a intimidade do outro, mas auditivamente...

As moças vestiram seus respectivos objetos de sedução. Raquel estava se preparando para ser tocada por Paulo Vítor, quando ouviu um desabafo de Tereza:

– Chega de tristeza! Vamos esquecer do mundo e fazer amor como se não houvesse amanhã! – E o amanhã chegou bem pior do que ela esperava.