· Vale de Sangue

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O céu apresentava tons de laranja escuro e as poucas nuvens no horizonte faziam com que o por do sol da grande esfera amarelada fosse algo belo de se observar.

Na campina de grama verde que se movia no ritmo do vento, as folhas parcialmente amareladas caiam sutilmente das árvores com a brisa suave.

Com o sol prestes a se por, via-se ao longe uma comitiva de viajantes se aproximando.

Eles chegam ao centro da campina , e se detém por um momento, e em seguida se dirigem a uma área descampada e começam a levantar acampamento.

A noite cai, a lua começa a subir no céu negro, e algumas nuvens carregadas parecem se aproximar.

A essa altura o acampamento já está pronto, nele vê-se sete tendas montadas em um semicírculo em volta de uma fogueira, onde também se encontram seis pessoas reunidas, sentadas em pedaços de toras.

Mais ao longe, vindos das montanhas enormes grupos de homens com armaduras, espadas e lanças se aproximam marchando em um ritmo constante.

O número de guerreiros não poderia lhes informar com precisão, mas com tranquilidade garantir que eram no mínimo centenas.

Pararam a cerca de cem metros do acampamento, e do meio do batalhão se destacou um soldado. Aparentava ser jovem, muito magro, e com passos vacilantes.

Ele se encaminhou até ficar de frente com a fogueira, respirou profundamente, engoliu um seco, e então puxou um pergaminho e sem tirar os olhos dele para encarar as figuras a sua frente, começou a lê-lo.

Após um período de puro silêncio, onde só se ouvia a voz do soldado, ele terminou e permaneceu também em silêncio igual aos demais.

Logo em seguida se vê o clarão brilhante de uma lâmina sendo desembainhada, e no segundo seguinte a cabeça do soldado magro cai e de seu pescoço começa a jorrar sangue.

Todos os soldados parecem petrificados, uma trombeta de guerra é tocada, começam os gritos de guerra e todo o exército investe contra os seis.

Uma batalha frenética se segue, cada golpe é desferido com uma ferocidade desumana.

No meio da batalha, ouve-se de repente um grito gutural, como se pertencesse a uma besta enlouquecida.

Um homem de cabelos esbranquiçados surge da penumbra e se junta aos outros seis guerreiros, e a batalha continua noite a fora.

Quando o sol está prestes a ressurgir no horizonte, ela finalmente acaba.

Onde antes havia grama e vegetação rasteira, agora só há corpos mutilados e enormes peças de sangue, que juntas formariam um rio.

Os únicos corpos em pé são dos sete seres em volta da fogueira que está em brasas.

Eles parecem discutir, e um a um pegam suas coisas e tomam caminhos diferentes, e apenas um fica para trás observando seus companheiros partirem.

Seus cabelos são esbranquiçados e suas vestes estão manchadas de tons rubros de sangue.

Ele se senta em um dos troncos de madeira e pega um pedaço de pergaminho que estava ao lado de um corpo decapitado.

Ele o lê com displicência e no fim solta uma gargalhada, jogando o papel novamente nas poças de sangue.

Então se levanta e pega uma mochila, e se dirige ao lado oposto dos outros seis.

Um corvo que bicava os corpos pútridos se aproxima com curiosidade de alguma coisa que boia no sangue.

Ele a puxa um pouco para um canto seco, e bica-lhe algumas vezes, mas logo em seguida volta outra vez sua atenção aos corpos.

O papel repentinamente é levado pelo vento, até que cai, e nele não se consegue ler tudo o que antes fora escrito, mas em meio a manchas de sangue e palavras desconexas ainda consegue-se ler claramente uma palavra:

Leviatã

Crônicas de um vagabundoOnde histórias criam vida. Descubra agora