O vento sopra entre os galhos das árvores, e movimenta suavemente as flores, a grama e as demais plantas rasteiras.
Um corpo esbelto movimenta-se silenciosamente entre a relva, sem fazer movimentos abruptos, como se pertencesse originalmente a própria natureza.
A figura avançava pela floresta sem emitir quaisquer ruídos, tudo o que se ouvia era o som dos seres noturnos que habitavam a flora local.
Não era uma noite tomada por total penumbra, mas as nuvens cobriam parcialmente o céu, ocultando a luz do luar.
Quanto mais ela se aproximava de seu local de destino, mais a intensidade de seus olhos negros tornava-se visível.
Ao longe, via-se levantar em meio a uma clareira uma enorme casa em estilo colonial, construída de forma ampla, com colunas robustas que mostravam-se imponentes, uma varanda com vasto espaço, e belíssimas janelas que adornavam o segundo andar, indicando que seu dono prezava por um estilo estético que mesclava traços da moda oriental das terras do sul, com a rusticidade característica do norte.
A casa se destacava anormalmente no ambiente que se localizava, o que tornava ainda mais enigmático o fato de não haver uma alma viva sequer que habitasse os arredores da floresta, que soubesse de sua existência.
Ela, sem nenhuma hesitação, se dirigiu a varanda e forçou a porta para adentrar naquele ambiente.
Em segundos, ela estava em pé dentro de uma sala extensa e mal iluminada, que continha sofás amplos e móveis que misturavam o rústico com o delicado.Mas o que mais se destaca, chamando-lhe a atenção, eram as infinitas cabeças de animais empalhadas que encontravam-se fixadas pelas paredes.
Quando ela as viu, seus olhos se serraram, e seu rosto assumiu momentaneamente uma expressão de raiva, que logo se desfez voltando a mostrar o rosto concentrado de antes.
Ela se virou e subiu as escadas, e ao atingir o segundo andar parou diante de um corredor imenso, que continha várias portas ao longo de sua extensão. Sentindo o cheiro de cinzas no ar ela se dirigiu a porta mais afastada.
A porta não estava trancada, e com um simples girar de maçaneta ela se encontrava dentro de uma biblioteca.
Era um amplo cômodo, repleto de prateleiras com livros e pergaminhos, também continha animais empalhados e um enorme tapete que parecia ser um lobo em forma humanoide.
A visão de tal artefato trouxe a tona uma imensa cólera, seus olhos tornaram-se esverdeados, e suas pupilas se rasgaram tomando um aspecto animalesco.
Tentando reestabelecer o controle, ela se dirigiu ate o centro do cômodo, parando em frente a uma lareira acesa.
Ela sentiu um cheiro no ar e logo em seguida falou:
- Pode sair agora, eu sei que esta aí, de nada adiantará se esconder.
Saindo da escuridão silenciosa das prateleiras, apareceu um velho homem corpulento.
- Não sei como uma aberração como você foi capaz de me encontrar aqui! Mas não faz diferença.
Respondeu-lhe o homem, e logo em seguida puxou uma espada e deu inicio a um ataque furioso, do qual ela se esquivou sem muita dificuldade.
Ela desembainhou sua própria espada, e entrou em luta com o velho homem.
Os dois demonstraram grande destreza na esgrima de batalha, mas a ira no olhar dela fez com que seu oponente se desestabilizasse, e pouco a pouco, sua ferocidade natural obrigava o velho a recuar.
A cada novo golpe, tornava-se evidente o desfecho de tal ato, e com um movimento impecável, que evidenciou sua superioridade em combate, ela desarmou seu oponente, colocando a sua espada contra o pescoço do velho.
- Nunca teria pensado que alguém da sua raça conseguisse...
Antes que ele pudesse terminar de falar, a espada zuniu e cortou-lhe a cabeça, que rolou pelo chão manchando o carpete de sangue. Ela pegou a cabeça e a pregou na parede com a espada.
- É isso que um porco sem humanidade como você merece.- disse ao olhar uma última vez para o membro inanimado.
Em seguida, dedicou-se a procurar entre os diversos livros o que a havia trazido para este lugar afastado da civilização, e assim que o encontrou, tomou-o para si e saiu da casa sem sequer olhar para atrás.
Sua figura foi se distanciando da casa, adentrando cada vez mais na floresta. Seus olhos verdes e animalescos eram a única coisa que se distinguia na escuridão da noite.
Ela de repente parou e olhou para a lua, que havia saído brevemente detrás das nuvens, os olhos verdes logo voltaram ao seu tom negro, então as nuvens ocultaram novamente a luz do luar, fazendo com que a dona dos olhos negros sumisse junto com a lua.
O que se tinha agora era uma floresta calma, onde o vento continuava se movimentando suavemente, soprando entre os galhos, as flores, e as plantas rasteiras.
Os animais estranhamente se mantiveram quietos, como se soubessem que, naquela noite, uma fera estivera entre eles.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Crônicas de um vagabundo
FantastikUma fantasia feita pra ser fluida e simples, escrita por um por um autor imprestável