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- A Sol apareceu? - Índia questionou Alex na porta do condomínio

- Não, mas eu já falei com a polícia, e tentei falar com a tia dela. - O garoto andou de um lado a outro sem rumo - Você tem que ir conversar com o investigador, ok?

- Eu não vou falar com o Lucas Carlo, Alex! Além de não ter intimidade nenhuma, eu não posso só chegar falando, tão tentando me matar de novo, faça algo útil dessa vez. - Índia apertou a alça da mochila - Tem dois dias que a Carol morreu! Agora a Sol sumiu! O Sávio tá com o braço todo machucado!

- E você tá indo para a Universidade como se nada tivesse acontecendo! Eu não me importo que você tenha prova ou qualquer outra coisa Índia! A gente tem que dar um jeito nisso! - Alex rugiu e a encarou - Você quer que o Sávio seja o próximo?

- Isso foi uma ameaça?

- Poderia ter sido.

E saiu entrando no condomínio, deixando Índia boquiaberta e estática, talvez Alex estivesse querendo ocupar o topo dos suspeitos.
Índia chegou na sala roendo as unhas, a prova e Alex a deixavam nervosa, sentou ao lado de Mikaela.

- Fazemos essa prova e vamos embora ou você tem alguma outra coisa? - Índia perguntou

- Monitoria às 6 horas, mas não vou ficar. Temos que passar na casa do Sávio ainda cedo, você vai né? - Mikaela se virou e pegou a mão de Índia - Você acha que o Unicórnio tá por aqui?

- Não. - Índia olhou em volta - Não sei... Eu mal converso com o resto do pessoal... Não teriam motivo.

- E um maluco desse precisa de motivo?

Índia tenta dizer alguma coisa, mas o professor entra na sala no mesmo momento, ela guarda suas coisas deixando só o necessário para a prova, aproveitando o tempinho que resta para olhar o celular. Entre mensagens de Luan, a uma Giovana desesperada com o sumiço de Sol e por ter perdido o controle sobre o blog, a um novo post, Índia suspira e resiste a vontade de abrir, afinal o professor já está junto a sua cadeira, entregando a prova.

Só precisava responder uma das três questões valendo 8 pontos, olhou em volta, todos extremamente concentrados, e pensou seriamente em largar a prova em branco e de brinde abandonar a matéria junto, não tinha feito a apresentação do trabalho para completar a nota ainda, no próximo semestre pegaria a matéria de novo... Mas como em um estalo sua mente pareceu se abrir para escrever sobre a primeira revolução urbana. As pessoas iam saindo, e ela mal tinha feito a primeira página, quando Mikaela saiu a deixou ainda ainda mais desesperada. Respirou fundo e conseguiu completar uma lauda e meia, deixando tudo o que sabia naquelas páginas, se levantou e entregou, mas no que comemorava a saída, o professor pediu que esperasse para que conversassem.

Já eram cinco e meia da tarde e o professor a segurou por um longo tempo sussurrando informações de como ela deveria apresentar o trabalho, de como queria o slide, Índia se sentiu queimar por dentro, apenas tinha medo. As seis não era um horário perigoso, o sol já tinha se posto, ela estava dentro da Universidade, era seguro não era?

Índia desceu as escadas do prédio e encarou em volta, as poucas pessoas estavam distantes no ponto de ônibus, pegou o celular e encarou o horário de ônibus, ia demorar para pegar o próximo direto para casa, respondeu às mensagens de Luan e ele prontamente se ofereceu para ir buscá-la, aproveitando para finalmente olhar qual o novo post do blog.

"Às vezes o Sol da manhã não brilha.
Principalmente quando o Sol está preso, prestes a perder a cabeça."

A provocação era direta. Índia vibrou por dentro, como ela ia fazer para achar Sol? Algo estalou em sua mente, o nome de Alex passou por sua cabeça, o irmão misterioso, que simplesmente chega acusando todos, brigou com Sol e agora ela sumiu, não que quisesse apontar o dedo, mas Alex não parecia ser inocente. Índia tentou se comunicar com Luan mas o sinal estava horrível, então se afastou do ponto, se sentou em um dos bancos perto da biblioteca e respirou fundo, aproveitando para fechar os olhos, até que recebeu uma nova mensagem.

"Eu vejo você"

Índia olhou em volta, não ia ser atacada em plena Universidade iria? Pessoas estavam em volta, mesmo que pouquíssimas, se levantou e olhou em volta, das três pessoas que ali estavam todas estavam com o celular. Apitou mais uma vez, uma foto, ela em pé, encarando a foto, Índia levantou a cabeça de vez, batendo o olho certeiro no rapaz que enfiava o celular no bolso e se virava puxando a touca. Não ia o deixar escapar.

Índia disparou em uma corrida frenética, percebendo o rapaz fez o mesmo correndo desesperadamente, Índia o seguia cada vez se aproximando mais e mais, esticando a mão para agarrá-lo pelo mochila, ele corria em direção a parte mais afastada e escura da Universidade. Índia mal notou quando um carro passou por eles e fez uma curva em alta velocidade, começando a andar pela pista errada mas acelerando para cima dos dois que corriam e buzinando. Que tudo fosse ao inferno, a mente de Índia gritou quando ela apertou ainda mais o ritmo, mas o rapaz disparou para o outro lado da rua, entrando no carro preto tão facilmente como se tivesse o costume de fugas, Índia tentou mas o carro disparou para o lado oposto que ela estava,tentou olhar a placa mas estava coberta.

Parou ofegante, sentindo os dedos do pé formigarem, que merda tinha sido aquela, ela mal tinha tido uma pista. Viu um carro parar, viu Luan correr até ela, ele falava tantas coisas e Índia não conseguia escutar nada além de um zumbido, se sentiu arrastada e quando se deu conta da realidade, estava sentada no banco do carona, com Luan a encarando preocupado.

- O que aconteceu? - Ele perguntou, pegando a garrafinha de água que estava na mochila dela e a entregando

- Eu vi alguém, o cara do carro preto, ele tira as fotos, eu ia pegá-lo mas ele fugiu.

- Aqui? Na sua universidade?

- Sim. - Índia bebeu um gole enorme de água - Um cara, ele tirou foto minha e me mandou... Se tivesse chegado um pouco antes, tínhamos pego ele.

- Desculpa. - Luan se virou e ligou o carro

- É assim que funciona, nós só vamos conseguir chegar perto no dia em que ele fizer o ato final...

- Isso não é triste? Você acabou de falar que não temos saída.

- Sinto muito por ter te metido nessa. - Índia bebeu mais água e fechou a garrafinha, movendo-se e colocando na bolsa que estava no banco de trás - Acho que ainda dá tempo de fugir.

- E se eu não quiser fugir? - Os dois se encararam - Eu quero te ajudar Índia. Você e o Daniel, mas principalmente você.

Índia respirou fundo, enquanto seus olhos iam dos olhos dele até a boca, eles se aproximaram lentamente, mas antes que acontecesse um lapso de consciência atingiu Índia, e então se afastou recostando a cabeça no encosto do banco, olhou para o lado vendo Luan dirigir, ele não parecia chateado, era bonito e era divertido, mas foi o suficiente para que a imagem de Mateus morto voltasse a sua mente. Fechou os olhos tentando não pensar em nada, só precisava de um pouco de paz, para pelo menos tentar um jeito de encontrar Sol.
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O barulho dos pingos de água que caíam da torneira, a sala suja e mal iluminada, que tipo de lugar era aquele? A loira já tinha desistido de perguntar, na verdade não podia, afinal na sua língua não estava mais na boca, seus dedos dos pés não tinham unha e suas mãos, além de dedos quebrados, nenhuma das duas possuía o dedo mindinho.

Mindinho observava com indiferença a mulher, quase não dava para ver que ela ainda respirava, se aproximou encarando aquele corpo imóvel e depois andou até sua estante, tinha trago seus potes para seu esconderijo, por mais difícil que fosse ficar sem eles não seria bom se descobrissem seus potes com dedos. As mãos enluvadas bateram sobre a prateleira, quando finalmente decidiu, pegando a faca em cima do balcão e indo até sua vítima.

Começando um pouco a baixo do pescoço o corte, admirou o sangue sair, arrastando a faca até um pouco abaixo do umbigo. Puxou o intestino para fora, adora se chocar como tantas coisas cabiam perfeitamente em um corpo, depois atacou-lê o olho que restava, e o arrancou, segurou o olho castanho, observando com delicadeza.

Era tão bonito, deveria mandá-lo para alguém, tinham que entender a sua arte. Ao fundo um celular tocava incessantemente, quando recebessem a sua mensagem desistiriam.

Laços da DiscórdiaOnde histórias criam vida. Descubra agora