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Índia roia as unhas ao lado de Luan, eles estavam em silêncio e ela não conseguia dizer uma palavra. O carro estava estacionado no condomínio, Índia não queria entrar em casa, não podia aceitar a proposta de Luan de ir para casa dele e Mikaela não dava sinal de vida. Quase pulou quando sentiu a cabeça de Luan encostar em seu ombro, afeto ainda era estranho, ainda tremendo passou a mão na cabeça de Luan. 

— Nós podemos ficar dando voltas, ou parar pra comer alguma coisa, até você se acalmar. — Sugeriu o rapaz 

— Não... Eu não quero. Eu quero trucidar alguém, de preferência que use uma máscara de Unicórnio. 

— Queria poder te ajudar nisso. — Suspirou 

Índia acompanhou o suspiro dele e o encarou antes de beijá-lo, Luan riu e a beijou de volta. 

— Tenta ligar para a Mikaela de novo. — Ele sugeriu mas Índia se negou 

— Ela deve estar tão mal quanto nós com essa história da Sol... 

— Ok, nada de Mikaela. Bem... Quem é esse na sua tela? — Luan franziu as sobrancelhas 

— Ah... — Índia olhou a tela de bloqueio — Mateus... Ele... A última vítima do Unicórnio... Ele era primo do Wagner, mas mesmo assim ele foi morto e... Eu vi... Ai o sangue dele...

— Índia. Índia, não pensa nisso... Olha pra mim. — Luan segurou o rosto dela com delicadeza e limpou a lágrima que escorria 

— Eu só queria poder entrar pela janela do meu quarto e me esconder! 

Luan riu e Índia com as bochechas vermelhas fungava tentando se controlar, ele se inclinou e abriu o porta luvas, pegando o papel higiênico e dando para Índia, ela não deixou de observar o conteúdo, papéis, luvas, algumas balas e mais papéis.

— Obrigada. — Índia se ajeitou e olhou as mensagens pela barra de notificação— Meu pai está me falando pra ir pra casa...

— Eu acho melhor, também. Sua casa é segura, não se preocupe. 

— Mais tarde eu vou ver se consigo falar com a Mikaela, se ela pode dormir aqui... 

— Ótimo. 

Índia o beijou e saiu do carro, Luan esperou que ela entrasse em seu prédio para partir. 

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Desde a reunião que se tornou uma decepção, Sávio estava impaciente, Mikaela e Daniel tinham ido para casa logo depois de Alex sair. Estava achando que seria um dia perdido mas não esperava que acabasse com a morte de Sol, ou melhor a suposta morte dela. Andou pelo quarto segurando a caixa de cigarro sem abri -la.

— Ela não morreu. — Disse pegando o celular

Abriu o plano que tinha preparado para mostrar para Alex, mas o idota olhava apenas para o próprio umbigo. A maioria dos mortos sem mindinho eram mulheres, cinco mulheres incluindo o corpo ressente e o namorado de Sofia que parecia um caso à parte, para Sávio, Sol estava perseguindo mulheres do seu próprio grupo de amigas e até agora Giovanna foi a última a restar, mas Índia e Mikaela tinham se juntado ao grupo e passaram a ser novos alvos. Sávio queria Alex para tentar abrir os olhos de Giovana, Daniel os de Índia, mas no final nada tinha sido feito.

A mensagem quase o fez gritar de raiva, por que ela insistia em sair de casa!

"Estou indo para casa de Índia, não surte! Eu a ignorei muito, ela precisa de mim" 

Ele pega o celular e liga para ele na mesma hora.

— Estou sendo seguida. — Ela praticamente sussurrou

— Não me diga! Onde você tá? 

— Um carro preto, Sávio... Tem um salão aberto... Eu to entrando.

Sávio recebeu a notificação do endereço e pulou pelo quarto calçando o sapato, na sala procurou sua chave e um isqueiro, abriu todas as gavetas dos móveis da sala.

— Aqui. — O isqueiro o atingiu em cheio no rosto — A mãe já foi dormir. Seja rápido. 

Sávio apenas se virou, ignorando o irmão, Thiago fez o mesmo mas parou e se virou para o irmão.

— Eu sei da mensagem que você recebeu do Unicórnio, deveria obedecer. — Sávio destrancou a porta — Ele está interessado em você e no Daniel...

— E você agora se importa com isso?

E então saiu.
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Mikaela estava sentada no sofá do salão, balançando as mãos trêmulas, enquanto a mulher dona do lugar olhava para fora por uma pequena fresta na cortina da porta. 

— Eu acho que já foi querida. — A cabeleira comentou de novo 

A mulher era baixinha e tinha o cabelo preto liso preso em um rabo de cavalo, quando Mikaela entrou desesperada, ela quase caiu para trás de susto, e quando Mikaela disse que estava sendo seguida pareceu ainda mais tensa.

— O meu amigo já deve tá chegando... 

— O mundo está um caos, você viu na televisão que deixaram um corpo naquele condomínio aqui perto?

— Sim... — O silêncio se instaurou, a última coisa que Micaela queria era debater sobre aquilo 

— Então minha querida, quer mais algo? — A mulher voltou a cortina, dessa vez deixando a um pouco aberta, não havia mais nada parado do lado de fora

— O banheiro. Onde é o banheiro?

A mulher apontou para uma portinha ao lado do bebedouro. O salão não era enorme, o sofá divida a entrada com a parte de cuidado com os cabelos, Mikaela andou e trancou a porta do pequeno cômodo, se encarou no espelho tentando fazer a tensão sumir do rosto, checou a bolsa. Eles iam dar um jeito nisso.

— Sua amiga chegou. 

Mikaela escutou a mulher falar mais alto e pegou o celular. Amiga!? Apenas gelou apertando o celular, nem conseguiu digitar uma mensagem para Sávio, antes que pudesse pensar em escrever escutou o barulho de algo caindo no chão. Olhou em volta do banheiro procurando algo para se defender, nada, nem mesmo um produto de limpeza para jogar nos olhos de quem quer que fosse. 

E então o silêncio foi a única coisa que dominou, Mikaela tentou não fazer barulho, mas escutou arrastar de passos, sussurros implorando piedade, ela abriu a porta respirando pesadamente e encarou a cena. 

Totalmente vestida de preto segurando a dona do salão pelos cabelos na outra um martelo. Mikaela não pensou muito  quando se jogou sobre a bancada do espelho, imaginando que as gavetas da bancada guardavam algo afiado abriu e enfiou a mão na gaveta, e Mikaela estava certa, pegou a tesoura afiada de cortar cabelo mas era pequena, apontou a tesourinha para a mulher de preto que andava suavemente, a mulher de preto a encarou, seus olhos não tinham deboche, não tinham provocação, o sorriso que foi plantado no rosto era mecânico, o martelo era movido de um lado para o outro fazendo menção de acertar a mulher. 

Mikaela quase gritou, se lembrando do primeiro momento que a viu, com a franja presa no topo da cabeça um sorriso reluzente e falando sobre tudo e todos. Sentiu vontade de vomitar, mas ela estava cara a cara com mindinho. 

Cara a cara com Sol.

Laços da DiscórdiaOnde histórias criam vida. Descubra agora