Capítulo 04
Já havia se passado mais de um mês que o César tinha começado no restaurante. Aos poucos ele passava a não gostar de certos detalhes daquele novo emprego, tais como: era em pé o dia inteiro, era todos os dias e todos dias ele tinha de colocar aquele uniforme chato, tinha de servir os clientes rindo mesmo sem vontade de rir. Detalhes comuns em muitos empregos.
Ele até gostaria de compartilhar essas chatices de ser garçom com outras pessoas, além dos outros garçons e do Júlio, mas não tinha ideia de quem. Poderia comentar com a Débora, mas César sempre pensava: "É melhor não dar trela..." e assim ele passava por ela sem criar nenhum tipo de intimidade.
Sem que ele percebesse, Débora o observava. Alguns dias depois, ele ouviu o cumprimento dela:
- Oi César... Boa tarde. - Estava no corredor dos vestiários e dirigiu-se apenas ao César, o único com o qual ainda não havia falado naquele começo de expediente.
- Boa tarde Débora. - Foi o que ele disse, levantando o rosto brevemente e foi direto com sua bandeja para a cozinha polir os pratos. Alguns dos rapazes, mal disfarçando, observaram calados, e Débora em seguida sorriu sem graça, saindo da porta.
Em outra ocasião, ela voltou a cumprimentá-lo quando entravam no restaurante.
- Ei César... - Dessa vez ela passou por ele como quem está apressada. Ele respondeu exatamente do mesmo jeito e continuou fumando seu cigarro. Ela parou. Olhou pra trás aguardando alguns segundos, mas ele não se virou. Revirando os olhos e soltando o ar ela entrou batendo a porta.
No dia seguinte, César estava sentado na calçada da entrada do restaurante, novamente fumando, mas dessa vez Débora estava com outra moça e passando por ele acenou com a mão. Em resposta, ele somente piscou para ela, e continuou olhando para o horizonte soltando sua nuvem de fumava.
Ao jogar a bituca fora, olhou para trás, disfarçando e pensou sobre o que havia comentado com o Júlio na noite anterior: "Então… Parece que é isso mesmo né? Depois que me dispensou agora ela ficou interessada. Hunf.” Balançou a cabeça em negativa.***
O prédio onde Júlio trabalhava ficava numa importante avenida de São Paulo. Ele ia descer até o térreo para fazer seus primeiros dez minutos de pausa e a Patty, uma colega que voltava de um afastamento recente, o chamou e veio em sua direção, ao entrarem no elevador:
-...Não sei mais quanto tempo vou aguentar! - Como se houvesse algum assunto inacabado, era assim seu início de conversa. - Mas e o Andrei, como ele tá? Aliás... Onde ele está né? - Ela indagou.
- Ele foi mandado embora faz uns quatro meses já. Está trabalhando numa firma aí, mas é na área administrativa. Aquele viado vive jogando na minha cara que "trabalha de segunda a sexta" - respondeu Júlio, imitando o amigo de maneira jocosa. Ela ria.
- Ah, que bom pra ele! - Ela respondeu. Chegaram ao térreo, passaram pelas catracas da entrada com seus crachás e saíram. Ela foi logo acendendo um cigarro preto, sabor cravo.
- Nossa, parece que eu tô rodeado de fumantes. Cê não disse que ia parar de fumar...? - Júlio falou.
- Sim... Mas quem disse que eu consegui, no estado em que estava? Agora só outro tratamento para me tirar desse vício. - Dando uma bela tragada.
- Hmmm… É complicado. - Júlio soltava essa frase quando não queria ou não sabia dar continuidade ao assunto. Olhou para os dois lados da calçada e depois para o outro lado da rua.
- E ai menino… Me deixa com meu vício vai! - Patty disse, rindo meio que sozinha.
- Tô com fome gata, vamos comer alguma coisa... Tem um lugar ali que faz um sanduíche mó dahora, de peito de peru com queijo que é muito bom. Vamo lá? É só atravessar. - Quando ele apontou para o outro lado da rua seu braço acertou um rapaz que passava - Desculpa. - Disse distraído.
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Júlio & César (1ª Temporada)
Romance*"New Adult" - Romance Seriado Homoerótico A série se desenrola em torno de dois jovens paulistas que passam a morar juntos para dividir despesas. Júlio, é gay e independente, que não quer nada sério com ninguém, mas envolve-se em paixões...