Capítulo 11Naquela noite, Júlio fazia um tipo diferente de omelete, ao menos, em comparação com seus outros omeletes. Com queijo, presunto e tomates picados, ele fez numa grande frigideira e tinha acabado de colocar no prato para esfriar, quando seu celular tocou.
Seus olhos arregalaram-se e ele hesitou atender aquela ligação tão inesperada, mas ao terceiro toque, atendeu. Não queria perder aquela oportunidade.
- Alô...? - Júlio disse quase timidamente.
Era seu primo Naldo do outro lado da linha:
- Alô. E aê priminho... Beleza? - Parecia animado ou era o seu "normal".
- Beleza... - Júlio respondeu.
- Cara, eu vô tá de férias agora esse mês e sabe o que eu tava pensando? Se você puder é claro, a gente poderia ir lá naquele rodízio que cê disse, de comida japonesa. O que acha...? Tá com a agenda muito cheia? - Soltou um risinho irônico do outro lado.
- Hãn... - Júlio ficou um tanto perplexo, seu coração acelerou e seus pensamentos confundiam-se. - Na verdade, não tenho uma agenda tão cheia assim, seu besta. E... Tudo bem. Claro que a gente pode ir lá no rodízio. Eu só conheço uns dois, mas tem um que é dos deuses, cê come até passar mal. Eu te levo lá.
- Dos deuses... - Uma risadinha ecoou pelo fone. - Fechou então Jú! Era isso mesmo, vou precisar de você pra me levar lá e ir me orientando né… No meio daqueles pratos esquisitos. - Mais risos.
- Ah...para com isso, não são esquisitos nada. Cê vai gostar, cê vai ver. E eu vou te falando sobre o nome dos pratos, como comer com o 'hashi', essas coisas...
- É isso aí... Eu tava zoando, não tenho frescura com essas coisas não. Só não queria ir sozinho mesmo. Então, quando você pode...?
"Não é possível que ele não tenha uma amiga para levá-lo neste mesmo lugar" pensou e depois respondeu:
- Eu não sei muito bem como tá minha escala ainda... Mas, vou estar de folga no próximo sábado.
- Este agora?
- Sim. - Júlio tentava morder a bochecha segurando um riso bobo que queria explodir em seu rosto.
- Opa! Então tá marcado. A gente vai trocando 'whats', essa semana e combinamos um lugar, que eu vou te buscar de carro. Fechou?
- Fechou! - Confirmou.
Nesse exato momento, enquanto Júlio se despedia do primo com risinhos meio sem graça, o César abriu a porta, chegando do trabalho. Ele observou o Júlio ao telefone, com a perna encostada no sofá, um prato recheado de omelete na mesa e um pouco de arroz esquentando no fogão. Seus olhares mal se cruzaram, pois Júlio estava entretido demais com o fim daquela conversa e um tanto hipnotizado pela voz sensual do primo. César apenas respirou fundo e foi direto ao banheiro.
Júlio desligou com um cumprimento bem típico dos heterossexuais. Em seguida ficou olhando para a tela do seu iPhone, abismado e por demais contente com aquela ligação. Ajeitou o cabelo, pegou seu prato de omelete e foi para seu quarto. Iria pesquisar algo na Internet em seu 'notebook' e pensava: "Ele me chamou de Jú".Ao sair do banheiro, César já sabia que teria de providenciar algo para comer. Por sorte nunca tinha muita fome quando chegava, pois comia bem no restaurante. Mas ainda assim, olhou por longos minutos para a porta trancada do Júlio, depois ligou a TV da sala, acendeu um cigarro e tentou relaxar olhando pro teto ouvindo o barulho da programação.
***
Os dias da semana foram passando e o César sentia aos poucos a solidão pesando em seu interior. Júlio não falava com ele nem o necessário. Ao contrário do Márcio que, foi notando aos poucos, apenas falava o necessário. Desde que transou com a Fátima, a namorada deste, os seus dias se resumiam em driblar a culpa pelo que fez e a sensação de impotência perante os amigos.
Pensava em abordar o Júlio, mas sabia que o orgulho dele, e o do amigo, ainda não havia chegado à um nível minimamente pequeno para uma conversa acontecer. Ao mesmo tempo, abordar o Márcio parecia mais fácil.
Puxou assunto sobre a posição das mesas certa vez, dia em que haveria muitas reservas no restaurante, porém, Márcio foi monossilábico e só apontava a direção que deveria fazer as coisas.
Após umas duas ou três tentativas de puxar assunto, sobre coisas do trabalho e outros temas que costumavam conversar, o César desistiu de falar com ele.
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Júlio & César (1ª Temporada)
Romance*"New Adult" - Romance Seriado Homoerótico A série se desenrola em torno de dois jovens paulistas que passam a morar juntos para dividir despesas. Júlio, é gay e independente, que não quer nada sério com ninguém, mas envolve-se em paixões...