Júlio & César (1ª Temporada)

"Treacheries"

Capítulo 10

  César havia acordado de seu cochilo no sofá quando o Júlio chegou. Deu uma tragada no cigarro. Algo rondava sua mente enquanto aguardava o amigo. Tragou o cigarro novamente, pegou uma das xícaras do escorredor de pratos e colocou um gole de café.
    Júlio saiu do banheiro sacudindo as mãos molhadas.
    - Onde está a toalha do banheiro?
    - Você tava fazendo o que mesmo? - Indagou num tom claramente desconfiado. Júlio não entendeu a pergunta e seus olhos correram até o banheiro em resposta.
    - Não… Eu quis dizer lá fora.
    - Tava dando, foi o que eu disse. - E Júlio deu risada, mal acreditando no que havia feito.
    - Isso é sério? - Indagou César. Cada vez mais seu rosto demonstrava não gostar nada do que ouvia.
    - Sim... É. Você se surpreenderia com a quantidade de 'machões' por aí que adoram comer… - César o interrompeu abruptamente:
    - Tá, eu sei! Não tô duvidando disso. Tô duvidando de você. Não acredito que cê foi capaz de fazer isso? Dar pra um estranho qualquer na rua, durante um...
    - Não foi um estranho qualquer. - Júlio interrompeu de volta. - Foi o Renan, o vizinho aqui de cima. - Falou mais baixo ao final.
    César percebeu que o tom do Júlio foi mais ameno, apesar de não entender aquele questionamento do amigo. Mediante isso, ele sentou no braço do sofá, próximo ao seu quarto.
    - Mas... Mano! Você tá namorando! Por que cê fez isso com o cara? Ele tá mó gamado em você e... Cê vai lá e mete um chifre no moleque.
    Júlio o encarou por um bom tempo.
    - Você tá preocupado com quem mesmo?
    - Com você mano! - César afirmou. - E com o seu dito namorado que não merece ser traído desse jeito.
    - Ah... O dito namorado... - Julio ironizou - Qual o nome dele mesmo? - Perguntou rápido.
    César foi pego. Deu de ombros e fez uma careca como quem diz "o que isso importa?" Júlio ficou calado um momento.
    - Então, acho que você não tá preocupado com o Guilherme ou comigo. Você tá preocupado porque eu dei pra quem eu quis. O que nem deveria fazer você esquentar a cabeça...
    - Eu sei, eu sei, eu sei. Não é disso que eu tô falando. É sério Júlio... Você não assumiu um compromisso com o cara? Então... O que custa você honrar esse compromisso com ele?
    - Ah... - Júlio estalou os lábios e revirou os olhos, levantando-se - Não me venha com essa agora. Até parece que você nunca traiu ninguém ou nunca foi traído.
    - Mas eu não concordo com isso meo! - César falou alto, quase um grito, quando viu que o amigo se dirigia ao quarto. - Ow... É sério! - Sua voz soou mais baixa dessa vez . - Eu tô metido num bagulho desse e... De verdade, é muito foda! Não faz isso com o cara não. - E com esse pedido, Júlio o ignorou e foi para o seu quarto sem nada responder. César ficou olhando a porta se fechar, pensando: "Poxa. Não é possível que todas as pessoas só pensem e queiram quem elas não tem. O Júlio é mais do que isso, eu tenho certeza. Mas mano, então porque ele aceitou namorar?"

***

    No dia seguinte, os dois decidiram não mais se falar. Ao menos por naquele dia. "Ele poderia, pelo menos, dizer a verdade ao namorado dele. Não foi isso que ele me recomendou quando eu tinha ficado com a Jéssica?" Pensava o César enquanto fazia suas coisas rotineiras pela manhã.
    Ele teria de sair pra comprar umas coisas no mercado, mas acabou não levantando a tempo. E nem era apenas para ele, e sim para os dois. Logo um pensamento se sobressaltou: "Ah, ele que se vire!"
    Júlio parecia bem tranquilo com aquele silêncio pela manhã. Ele dominava a sala de maneira muito natural, coisa que o César ainda não conseguia fazer naquele apartamento. Os desenhos idiotas passavam na televisão e o Júlio os assistia como se fossem inéditos e no volume que queria. César tomava café sentado no único segundo lugar que já havia dominado na casa, a outra ponta do sofá em "L". E apesar de não gostar do que passava na TV, ele se distraia enquanto comia. Os dois permaneceram mudos, como se um não estivesse ali ao lado do outro.