Capítulo 09
O céu daquela manhã do começo de outubro estava encoberto com grossas nuvens acinzentadas. Deitado em sua cama, Júlio observava através do vidro da janela, a chuva que começou a cair ferozmente sobre o bairro. Estava melancólico. Calmo, mas tristonho. Parecia arrependido com algo. Sem se mover da cama, tentava enxergar, nas pequenas brechas entre as nuvens, o pouco do azul metalizado do céu, que vez ou outra surgia.
A chuva o fez dormir novamente. Acordou com o vibrar de seu IPhone. Os olhos apertados pelo brilho, viu a mensagem do Guilherme. Respirou fundo e digitou uma resposta: "Hoje não vou ao trabalho. Lamento. Num tô muito legal". Soltou o celular na cama.
Muitos minutos depois, levantou, espreguiçou-se e veio a resposta do namorado. Ele leu, entortou a boca e digitou: "Não, não precisa. Quero ficar sozinho pela manhã. Se eu não melhorar, vou ao hospital mais tarde." Por fim desligou o sinal de Internet.
Sentado em frente a mesa, na única cadeira da sala, ele olhava preguiçosamente para janela da sala, ele tinha aberto as cortinas e via ao longe, prédios, antenas, árvores e dezenas de telhados entrecortados e tudo sendo banhado pelas águas da chuva.
"Não gosto quando fico pensando nessas coisas. A saudade não deveria ser sentida por quem não merece. Se bem que as pessoas não têm culpa do que sentem, muito menos eu. Sinto saudade do Marcos, mesmo ele tendo brincado com meus sentimentos e me iludido de maneira magistral. Saudades de minha irmã. Ela é uma escrota, mas ainda assim eu sinto; e de meus pais. Mesmo com a pouca aceitação deles, ainda assim, lembro de minha infância e da maravilhosa companhia de minha mãe, que alegremente assistia todo e qualquer desenho idiota comigo. Rindo comigo. Sentia como se fossemos melhores amigos, uma dupla dinâmica que sempre poderia contar um com o outro. Enganado estava pela primeira vez. Ela preferiu a tranquilidade de uma casa, com aquele casamento falido com um homem que mal demonstra seu amor. Mas, tinha alguma renda e um pinto não é? De repente, é só isso o que importa."
- E aê? Bom dia... - Falou César saindo do quarto. Júlio ouviu ele fazendo suas necessidades matinais no banheiro. Após sair, esperou um pouco. - Tá tudo bem?
- Sim. Está sim. - Júlio disse, com ar sereno. Tomou o resto de seu chocolate quente, a essa altura, já frio.
Ficaram em silêncio. César sentou-se no sofá, se jogando com aquela sua preguiça da manhã. Júlio notou de relance sua calça, que exibia um resquício de sua ereção matinal. Desviou rapidamente os olhos e os pensamentos. "Como pude pensar que minha mãe me trocou por um pinto? Sacanagem de minha parte, eu sei. Dane-se os pintos! Ao menos por hoje."
- Que aconteceu? - César indagou.
Franzindo a testa, Júlio não respondeu de imediato, mas notou algo de diferente:
- Não vai acender seu cigarro?
- Hm... - Ele pensou, revirou os olhos e meio que não sabia onde estava. Júlio, de repente, o jogou pra ele.
- Ce esqueceu em cima do micro-ondas.
- E o que fazia com você? - Imediatamente César acendeu um e deu uma bela tragada. Júlio, em seguida, aspirou com vontade a fumava azulada que subiu no ar.
- Por incrível que pareça, tava sentindo falta. De um cheio familiar de... Algo. - Um momento. - Sim, tava pensando em acender um, mas... Não sei como tragar. - Júlio falou com o rosto apoiado na mão, e soltou o primeiro sorriso do dia, como um apelo bobo.
- Não. - César disse sério. - Nem pensar, nunca que vou te ensinar a fumar. - Soltou mais uma vez a fumaça - Agora me conta: o que aconteceu?
- Nada... Só tô meio tristonho hoje.
- Ah tá... E sem motivo? - Desconfiou.
- Digamos que sim... - Júlio respondeu lançando o olhar ao céu pela janela. - Não sei bem. Mas, acordei um pouco chateado com minha própria vida. Como se... De repente, percebesse que estou sem rumo.
- Entendo. - César deu um trago, um olho fechado por conta da fumaça. - Mas, não fica assim não. Estou aqui com você cara, e não há porque achar que está sem rumo. - Ele levantou e foi até a cozinha ainda dizendo - Tem muita gente por aí que não tem nem onde morar e nem como sobreviver.
Um silêncio dominou o ambiente por uns bons minutos. César preparava o café e Júlio permaneceu sentado, vez ou outro mexendo no seu celular sem ligar a internet.
- Come. - César colocou um prato na frente do amigo, com duas fatias de pão com queijo e presunto, que se espantou pensando "Como ele sabia que eu não tinha comido?"
- Obrigado.
César não sabia mais o que dizer para animar o amigo e apenas tomou seu café quieto, sentado no sofá, olhando para fora também. Hoje, a TV não foi ligada numa programação qualquer. Quando terminou, César foi para seu quarto, mas antes disse:
- Você e eu vamos achar nosso rumo, logo logo. - Passando a mão nos cabelos encaracolados do amigo. Ele sorriu de leve.
"Obrigado". Pensou Júlio. "Ainda bem que tenho um amigo que mora comigo. Ao menos não estou de todo sozinho".
![](https://img.wattpad.com/cover/196105319-288-k548144.jpg)
VOCÊ ESTÁ LENDO
Júlio & César (1ª Temporada)
Romance*"New Adult" - Romance Seriado Homoerótico A série se desenrola em torno de dois jovens paulistas que passam a morar juntos para dividir despesas. Júlio, é gay e independente, que não quer nada sério com ninguém, mas envolve-se em paixões...