Perigo

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Zypher carregou uma de suas pixies firmemente em seus braços, a pequena se encolhendo cobrindo os ouvidos e protegendo a cabeça.

Minutos antes, quando Rhage fez qualquer coisa que machucou a garota e ele a viu no chão, ele ficou cego de raiva momentaneamente.

A necessidade de protegê-la, sem qualquer estratégia para autopreservação, lançou-o num confronto suicida entre 300kg de irracionalidade masculina. Agora, o medo de que quer que esteja acontecendo do outro lado de fora no corredor atingisse suas fêmeas fez exatamente o contrário. Fez sua visão mais nítida, olfato e audição mais aguçados. Todos os seus instintos focados no que, de agora em diante, seria sua missão: defender suas fêmeas.

Ele conseguia sentir o cheiro de sidra de maça de Dihya à esquerda e agradeceu mentalmente a quem quer que tenha sido que escolhera pô-las em quartos coligados. Ele passou pela porta entre os dois quartos no momento em que a parede começou a rachar, o gesso deslocando, o papel de parede se esforçando para manter os estilhaços contidos.

Ele não tinha ideia do que estava acontecendo, mas o instinto gritava sinais de alerta, e o fez pensar brevemente se seria melhor tentar sair pela janela e descer os três andares de diferença até o térreo. Se fosse só ele, ou talvez com apenas uma delas ele teria arriscado, mas por em perigo deixar-se cair com elas, de uma altura de no mínimo 10 metros, não era uma opção. Ele foi pela alternativa mais prática.

Ele empurrou as duas no banheiro de mármore branco e as trancou ali.

Zy podia ouvi-las gritar, e ignorou os protestos. Ele nunca tinha estado em posição de ter que salvar alguém, nenhum dos bastardos tivera esse tipo de treinamento e normalmente era cada um por si. Aliás, de acordo com o treinamento padrão Bloodletter, deveria deixá-las pra morrer, pois pessoas que não podem cuidar de si próprias não deveriam estar vivas pra começo de conversa. Mesmo fêmeas pré transicionadas.

Um alívio não ter que obedecer a essas regras agora.

"Eu já volto." Ele avisou gritando sobre o ombro antes de se jogar atrás de uma das portas duplas e abrir uma brecha mínima.

A possibilidade da besta de Rhage ter tomado conta do macho e do maluco ter voltado pra acabar com o Vishous, ou a sua pixie, era sua maior preocupação. O que ele viu não correspondia a nenhuma situação que ele teria capacidade de prever.

Não havia como imaginar o que diabos acontecia ali. Ele conseguia sentir a pele esquentando e o ar quente entrando pelas narinas não poderia ser um engano, embora não parecia em nada com a sensação de estar perto de fogo. Era algo perigoso, uma energia densa que permeava todo o corredor.

Conseguia perceber ondas, como se gás estivesse vazando, e luz, como se o próprio sol tivesse resolvido fazer uma visita. De algum modo, uma silhueta gritava no meio daquilo. Ele cobriu os olhos pra evitar ser cegado pela claridade. Baixando o olhar, ele conseguiu identificar o cabelo do Wrath esparramado pelo carpete.

Aquilo dentro do campo força luminoso só podia ser o Vishous.

E lembrando-se da experiência que testemunhou das mãos de Payne, ele imaginou que aquilo significaria ver o mesmo horror que transformou Bloodletter em cinzas, o poder profano deixando apenas o seu crânio de lembrança.

Seu primeiro impulso o fez fechar a porta e pensar no que fazer pra fugir dali. Se Zypher quisesse proteger as suas fêmeas, ele precisava chegar ao segundo andar, e isso dependia de passar por aquele corredor. Amaldiçoou quem teve a ideia brilhante de ter todas as armas recolhidas enquanto estivessem dentro de casa. Numa situação como essa seria adorável ter uma boa Sig com ele ao invés de meia dúzia trancadas num armário do quarto um andar abaixo.

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