A sensação de estar finalmente em casa embalou Kahina durante o seu blackout. Era como quando ela e sua irmã brincavam com os lençóis velhos e esburacados do orfanato que passaram boa parte da infância.
Enquanto estavam as duas ali, na cabaninha construída só pra elas, se sentiam protegidas e amadas como se estivessem no ventre de sua mãe. Ali não importava quantas vezes elas fossem recusadas para adoção, ou a preocupação constante de serem separadas. Era apenas muito confortável e quentinho.
A garota foi se dando conta de algo errado aos poucos.
O local em que estava não era reconhecível, nem ao menos palpável. Apenas paisagem borrada, tudo escuro, fora de foco. O lugar não passava de um espaço vazio como se tivesse sido sugada por um buraco negro. Ou no mínimo onde imaginava que terminaria se entrasse em um.
E de um segundo para o outro tudo ficou muito claro, ofuscantemente branco. O que realçava a única coisa que podia distinguir no horizonte. Havia uma sombra à sua frente. Uma figura vestida em preto dos pés à cabeça a olhava. Kahina não poderia saber se a afirmação era verdadeira, apenas podia sentir. Estava longe, mas quando se aproximou poderia dizer que o vulto não era muito maior que a própria Kahina.
Sem nenhum motivo, quanto mais perto sua companhia chegava até ela, mais o calor agradável que sentia no peito a abandonava. Tudo o que ela sentia agora era uma tristeza, decepção. Aquela variação de dementador foi transformando tudo de bom que sentira há pouco tempo em uma imensa dor. Algo como ser apunhalada por alguém que se ama muito. Era físico, mas emocionalmente doloroso mais do que tudo.
Ela tentou fugir daquilo. Ela correu na direção oposta da coisa, aquele minúsculo ser que causava emoções tão esmagadoramente dolorosas. Só para em algum momento da sua corrida, aparecer no mesmo local que iniciara. As sensações ao tentar escapar eram as mesmas ao descer e subir de elevador, o estomago se encolhendo e contraindo como se houvesse alguma força o esmagando. As forças gravitacionais, somadas ao horror de cair e à sua fobia de altura faziam desse simples ato, algo tão normal e corriqueiro de apertar botões e circular entre andares, a pior coisa que Kahina não conseguia evitar do seu dia a dia.
E a raiva de não poder sair do ciclo repetitivo de tentar se afastar e voltar sempre ao mesmo ponto fez a garota parar e se virar para a sua versão de Fred Kruegger.
Ela não era de fugir.
Nunca tinha sido. Não seria agora que um pesadelo iria dominá-la.
Ela se projetou pra frente e atacou o pequeno monte de vestes escuras. Ela lutou pra sair daquele seu estado de aprisionamento, porém seu monstro do sono a derrubou de lugar nenhum e foi o mesmo que ser jogada em queda livre.
Medo.
Dor.
Dor.
DOR.
Ela gritou com toda a força.
E acordou de sobressalto.
Alguém a segurava firmemente, mãos como garras a empurravam contra o colchão e travesseiro. A figura acima dela não passava de uma sombra enorme, o que não fez nada para aplacar o terror de Kahina e a dor que estava sentindo.
Alguém chegou perto com uma seringa e a agulha do tamanho do seu dedo médio. Até que enfim algo bateu em seu inconsciente, qualquer coisa entre a inconsistência da situação e perceber onde estava. Era um médico. Ela ainda estava no hospital. Ela parou de gritar. As mãos de ferro nos seus ombros afrouxaram e lentamente a soltaram.
Antes que o homem com injeção puxasse seu braço, Kahina sentou e inspecionou as próprias costas. A dor parecia tão real que procurou pontos de onde podia ter certeza que seria uma coluna quebrada. A adrenalina do susto ainda corria pelos nervos, fazendo com que respirasse como um touro descontrolado.
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As filhas
VampireVishous está implodindo e não consegue parar. Seus Irmãos estão se tornando domesticados e sua shellan tem coisas melhores para fazer do que se preocupar com seu estado mental. Ele está prestes a desmoronar e as consequências não serão bonitas. Zyph...