Estávamos deitados ali mesmo, no meio do rinque, sem quebrar nosso contato visual, enquanto o único barulho presente era dos patins que raspávamos preguiçosamente contra o gelo, que por incrível que pareça, não trazia nenhum incômodo para meu corpo...
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Estava me encarando na frente do espelho decidindo se passava o batom ou não, geralmente não saia de casa sem, depois que Jack elogiou se eu usasse talvez interpretasse errado e acharia que passei para agrada—lo.
Resmunguei e comecei a passar cuidadosamente, não seria por Jack Gilinsky que eu mudaria um hábito e eu realmente não me importava com o que ele interpretaria. Continuei me encarando no espelho e coloquei brincos pequenos prateados, ainda sim não me arrumava pra ele, e sim por mim.
Papai apareceu na porta do meu quarto e se apoiou no batente da porta, arqueando uma sobrancelha e com os braços cruzados.
—Por que Kiara, Charlize e Ocean me mandaram feliz aniversário? – perguntou curioso e me bati mentalmente, se meu pai desmentisse todo o meu plano de fachada iria por água baixo. – Pensei que estivéssemos em abril e da ultima vez que chequei meu aniversário era em outubro.
Respirei fundo e me virei pro meu pai com o melhor inocente que tinha, papai me encarou com os braços cruzados esperando a explicação e resmunguei.
—Eu só não queria ter que ir a uma festa hoje. – expliquei rezando para que não me perguntasse mais nada. – Você desmentiu?
Papai negou com a cabeça e deu de ombros.
—Fiquei com pena, as duas foram muito gentis. – relaxei por um breve momento e sorri. –Amália não me mandou nada, vou me lembrar disso quando você me pedir dinheiro pra comprar o presente de aniversário dela.
Revirei os olhos, às vezes meu pai conseguia ser tão bobo feito um cara da minha idade, vestido meu casaco e calçando os tênis suspirei e me olhei no espelho mais uma vez.
—Tenho que fazer uma coisa, não volto tarde. Mas as meninas não podem saber.
—Então isso tem alguma coisa a ver com você estar toda arrumada e mentindo para suas amigas? – perguntou sentando na minha cama do meu lado com aquele olhar de pai compreensivo que sempre dava quando sabia que havia algo de errado.
—Eu vou sair com o Jack. – falei simplesmente e papai arqueou uma sobrancelha.
—Jack Gilinsky? Vocês não pararam de se falar a uns quatro anos atrás? É um encontro? Se for vou ter que conversar com ele antes. – começou a tagarelar e eu resmunguei. – Pera ai, ele e Kiara não estavam saindo?
Revirei os olhos e comecei a olhar inquieta pro relógio, 18h56min Gilinsky estaria aqui a qualquer momento.
—Eu vou fazer isso por Kiara. – me levantei e troquei o casaco, pegando um lenço e tirando o batom.
Papai franziu a sobrancelha em confusão e pareceu pensar por um segundo.
—Você vai sair com o garoto que a sua amiga gosta, pro bem dela? – perguntou depois de um tempo e negou com a cabeça. – Essa juventude anda tão estranha, na minha época isso se resolveria na violência. Mas lembre—se minha filha, estamos em 2020, violência não é mais a solução!
