três

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MARCELO
dias depois

Entro na cafeteria, com esperança de a encontrar dessa vez. Olho ao redor e suspiro frustrado, não a encontrando. Ando até o balcão e peço o mesmo de sempre, esperando pelo pedido enquanto batucava meus dedos no balcão, olhando para o nada.

Escuto o sino da entrada tocar, indicando que havia entrado alguém, mas não me movo. Depois de um tempo sinto uma presença ao meu lado e ergo o olhar, vendo Carina ajeitar o cabelo e chamar a atendente. Pediu um cappuccino como da última vez e esperou, como eu.

— Quem é viva sempre aparece. — Digo e ela olha para o lado, sorrindo ao me ver. — Olá, menina Carina.

— Olá, menino Marcelo. — Respondeu e eu sorri.

— Quanto tempo. — Falo e recebo o meu pedido, voltando o olhar para ela logo em seguida.

— Não está dando para aparecer por aqui. — Disse. — Como está? — Perguntou e se ajeitou no banco, apoiando o braço no balcão.

— Muito bem, e você? — Pergunto e dou um gole em meu café.

— Estou ótima. — Sorriu. — Como vai no futebol? — Perguntou.

— Bem. — Respondo e sorrio para ela. — E você? Já é uma juíza? — Pergunto e ela ri.

— Antes fosse assim, tão fácil. — Respondeu. — Ainda não sou. — Completou e desviou o olhar do meu, recebendo a xícara com o pedido dela. Agradeceu e deu um gole no líquido.

— Logo, logo será. — Falo e ela dá um meio sorriso. — Você está muito bonita hoje. — Digo e ela me olha, abrindo um sorriso.

— Obrigada!

— Nós nem tivemos tempo de conversar aquele dia. Queria te conhecer melhor. — Digo.

— Não tem o que conhecer. — Riu baixo.

— Duvido muito. — Falo e a olho com atenção. — Me faz um resumão da sua vida até aqui. — Sugiro e me ajeito no banco, me virando para ela.

— Ok. — Murmurou e pensou um pouco. — Nasci no Rio de Janeiro e morei com os meus pais até completar os 18 anos, que foi quando eu me mudei para cá com o meu namorado. Agora eu tenho 24 e estou sentada no balcão de uma cafeteria conversando com um cara que só sei o nome. — Disse e eu ri da última parte.

— Resumiu mesmo, hein. — Digo, fazendo ela rir.

— Você que pediu. — Falou e tomou um gole do cappuccino. — Sua vez.

— Está bem. Eu também nasci no RJ e também vim para cá com 18 anos, para jogar. — Conto e ela balança a cabeça. — Atualmente tenho 26 anos e estou sentado no balcão de uma cafeteria conversando com uma futura juíza. — Termino e ela sorri.

— Muito bom.

— Então você é casada... — Digo e observo ela pensar novamente.

— Não nos casamos no papel ou algo do tipo, mas vivemos juntos, então, acho que sou sim. — Respondeu e eu balancei a cabeça.

— Ele está te enrolando. — Concluo e ela ri baixo.

— Tipo isso. — Falou. — E você? Solteiro, namorando, casado, enrolado?

— Encalhado seria a palavra correta. — Respondo, vendo ela sorrir. — Mas não estou preocupado com isso.

— Sério?

— Sim, só choro no banho as vezes, mas, puff... estou despreocupado. — Falo e ela ri um pouco alto, cobrindo a boca, o que me fez sorrir.

— Bastante despreocupado. — Brincou.

Ia fazer outra pergunta para ela, mas fui interrompido pelo toque de notificação do meu celular. Pego o mesmo do bolso e olho para a tela, lendo a mensagem.

— Adoraria continuar esse papo com você, mas eu tenho um compromisso agora. — Digo e me levanto, tomando o resto do café de uma só vez.

— Ah, tudo bem.

— Vê se não some de novo, hein? — Falo e ela sorri, concordando com a cabeça. — Tchau.

— Tchau. — Acenou com uma das mãos e com um sorriso de leve no rosto.

— Gostei do seu cabelo assim. — Digo e aponto para o mesmo, que estava jogado de lado.

— Sério?

— Sim, ficou bonito! — Falo já um pouco distante.

Aceno para ela e saio do local, vendo pelo vidro da porta ela olhar para uma mecha do cabelo e sorrir, voltando ao cappuccino em seguida.

*
CARINA

Entro em casa com um meio sorriso no rosto e encontro Lucas jogado no sofá.

— Que cara é essa? — Perguntou quando me sentei ao lado dele.

— Ué, a minha cara normal. — Rio e dou um beijo em sua bochecha.

— Hm... — Murmurou. — Seu cabelo grande está te deixando estranha. — Falou e eu peguei uma mecha do meu cabelo, a esticando na frente do meu rosto.

— Você acha? — Pergunto confusa, me lembrando que Marcelo havia elogiado mais cedo.

— Sim. — Respondeu, olhando para a tv, onde passava um jogo de futebol. — Seria melhor cortar. — Completou.

— É, talvez seja... — Murmuro e mordo o meu lábio. — Eu vou tomar um banho, tá bom? — Digo e ele ignora, mantendo a atenção na tv.

Suspiro e me levanto do sofá, caminhando até o quarto dele e pegando uma toalha, seguindo para o banheiro em seguida.

Fecho a porta atrás de mim e paro na frente do espelho, olhando para o meu rosto com atenção e passando a mão pelo cabelo. O jogo para o lado, que era como ele estava quando Marcelo elogiou, e sorrio.

O sorriso não durou muito em meu rosto, já que logo lembrei de Lucas dizendo que eu deveria cortar. Volto o cabelo ao normal e analiso o meu rosto.

— Eu deveria mesmo cortar... — Murmuro e suspiro em seguida, saindo da frente do espelho.

**

O que é amor? ━━ Marcelo VieiraOnde histórias criam vida. Descubra agora