Capítulo segundo

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Como sempre corria em meio as flores no campo, o sol cor de âmbar corava – lhe as bochechas minutos antes de se esconder por detrás da montanha.  Com seu vestido florido , babado grande dando nos joelhos,  um laço abraçando- lhe a cintura e pés descalços.  Amava estar descalça,  a terra quente massageava seus pequenos e delicados pés muito brancos. Trazia uma flor muito vermelha presa sobre a orelha e sorria. Mas para quem? Para a vida, para ela mesma, para quem quisesse ver o sorriso mais puro e mais lindo que já se viu.
     Mas um infortúnio,  como não vira? Como não prestara atenção?  Estava desatenta essa tarde.  Cantarolou para longe demais . Não conhecia as redondezas. Afinal era nova por ali. Chegara a pouco e todos os dias fugia um pouquinho  ao entardecer, a fim de conhecer o território. 
     Estava agora presa em um lugar desconhecido, onde estaria? Lembrou-se de escorregar em alguma coisa, talvez em ervas daninhas e rolara por um precipício,  viu tudo muito rápido, até que batera com muita força,  a cabeça em algo muito duro, talvez uma pedra ou apenas um tronco muito grosso. Ouviu ainda um barulho de águas correntes , tentou analisar o local mesmo com os olhos embaçados, descobriu um horizonte imenso, um rio apertado naquele ponto, bordado de montanhas inacessíveis e um ar muito frio. Tudo escureceu, seus sentidos a traíra e foi tomada por um sono muito forte, que mais parecia desmaio.
      Sentia apenas uma dor forte na cabeça agora. O vestido estava muito sujo e a perna com uma espécie de tala. Estava agora deitada em uma rede. Tentou levantar-se mas foi impedida por uma pequena jovem, de pele morena, semi-nua e muitas cores pintadas pelo corpo.
     Seria índia?  Falava uma língua que não se podia entender,  mas sentia uma dor tão forte na perna que desistira de se levantar. A jovem de cabelos lisos e negros, saiu e chamou alguém.  Seria o pai? Entrou pelas paredes sem porta um homem de corpo mediano, também com a pele morena e cabelos lisos e negros.  Tinha o corpo pintado também, mas eram formas e cores diferentes. Trazia também algumas penas na cabeça.  Sim, só podiam ser índios. Mas pareciam amigáveis.
     Não se podiam sabem o que diziam, mas falavam assim mesmo e faziam gestos. A única explicação plausível no momento, era que ao cair, ficara desacordada e este tal índio, não sei se cacique, a resgatara e cuidara de sua perna. Disse que queria voltar pra casa , falou dos pais, mas também ninguém a podia entender. E a todo momento faziam com as mãos e a cabeça que não poderia se levantar pois a perna estava em recuperação. 
     Sendo assim, não sabendo para onde ir e como ir, preferiu ficar e esperar melhoras.


Domando o instinto   [ Concluído]Onde histórias criam vida. Descubra agora