Capítulo vigésimo terceiro

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Helena aceitou acompanhá-la até a fazenda vizinha, pediu a bênção à avó e saiu driblando os cãezinhos enquanto estes brincavam de pegar a barra de seu vestido. Riam das peripécias dos pequenos animaizinhos enquanto caminhavam em direção à estrada.
     _ Mas diga-me senhorita Helena,_ disse Emilie. _ Perdoe- me por parecer intrometida, mas não a vejo com muitas amizades, o que a fazes querer ser tão reservada?
     _ Não estás sendo intrometida, não se preocupe. Contudo tivestes a coragem de ser franca, o que a maioria das pessoas não tem e acaba falando por detrás, e isto sim me incomoda. _ respondeu. _ Mas evito sim algumas pessoas, as acho fúteis,  com seus assuntos apenas de aparências e muitos interesses. Prefiro pessoas que são o que são, assim como a senhorita; tens meu respeito. És sincera.
     _ Bondade de sua parte, a maioria das pessoas não se agradam de minha postura, dizem que sou criança crescida e não sei me comportar; que não faço bom uso das palavras.
     _ Deixai-os com seus modos. Tu não estas ofendendo, apenas dizes o que pensas. Isso não é nenhum pecado.
     _ Estais certa, mas às vezes me incomodo, não te incomodas? _perguntou Emilie!
     _ Já estou acostumada a fuxicos, a essa gente mexeriqueira que ocupa-se da vida alheia. Não se cansam pois de dizer que estou a passar da idade de me casar, ainda não ouvistes?
     _ Não.  Não tenho amizades nesta cidade, vim a passeio e passei metade do mês presa em uma aldeia.
     _ De fato, passaste algum tempo numa aldeia. Fale-me da aldeia. Como são,  dizem que são perigosos.
     _ Pois foram muito gentis salvando minha vida, estava desacordada devido a um acidente. Se um cacique não tivesse a bondade de me resgatar,  quem sabe algum animal grande e feroz não teria me devorado? Nem sei se saberia voltar de onde caí quando  acordasse.
     _ Tens razão, salvaram tua vida. Mas diga-me. São belos? Dizem que andam nus, és verdade?
     _ São belos sim. _falou corando-se-lhe as bochechas. _ Andam nus sim, mas as partes bem cobertas. Mas e tu? Não pretendes casar, mas nunca tiveste pretendente?
     _ Sim, tive alguns.  Mas sempre me recuso, pois meu coração pertence a um que meu pai não permite.
     _ E qual a razão?
     _ Ele não é religioso e não é da política! Mas já nos decidimos, assim que estabilizar-se financeiramente,  fugiremos. Mas é  segredo.
     _ Mas como decidiram? Como vos encontram?
     _ Não nos encontramos, minha avó nos intermedia.
     _ A senhora sua avó? _ riu não acreditando.
     _ Falo a verdade, a senhora minha avó é bem vivida, confio muito em suas verdades.
     _ E não tendes medo de ela entregar-lhe? Digo,  aos seus pais.
     _ Não. Ela casou-se por obrigação e diz que não permitirá que eu passe pelo mesmo caminho.
     _ Não sei se confiaria um assunto destes a senhora minha mãe. Penso que teria tanto medo quanto eu.
     _ E vós,  tendes algum pretendente? Já está bem crescida, não demora seus pais lhe imporem casamento.
     _ Não. Não tenho. _ Rubrou-se-lhe a face , os olhos não sabiam para onde olhar e engoliu seco.
     Chegaram à fazenda, entraram e sentaram-se na varanda. Continuaram conversando por mais algum tempo.
     _ Estás a mentir, percebi por teus modos. _ retrucou Helena. _Estás enamorada, sua face ficara tão rubra quanto teus lábios, dizei- me a verdade...
     _ Estás correta, mas não  posso vos dizer. Quem sabe um dia.
     _ Contei-lhe um segredo, é justo contar-me um também. Não assumes por que razão? Teus tios ou teus pais não aprovariam?
     _ Não é tão fácil, não posso simplesmente fazer como a senhorita.
     _ E por qual motivo, é homem casado?
     _ Podes dizer que sim, embora não seja ainda.
     _ Então não compreendo vosso medo!
     _ Vamos ao quintal, há uma jaboticabeira,  lá vos conto mais. _desceram a pequena escada e caminharam para a jaboticabeira. Enquanto caminhavam o sol já estava alto, embora não muito quente, devido ao início do inverno.
    

Domando o instinto   [ Concluído]Onde histórias criam vida. Descubra agora