Capítulo vigésimo

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   A festa de boas vindas serviu de grande aprendizado. Foi bom rever todos e descobrir algo de interessante sobre a sua sociedade. Lembrou-se da aldeia. Por mais diferente que fossem seus costumes, havia algo de muito parecido na forma como agiam socialmente.
     Lembrou-se de como fora tratada por ser diferente. Uns poucos a fizeram sentir-se como igual, a maioria não se aproximava temendo talvez o desconhecido. Mas a reação era a mesma, todos querem ser iguais para serem aceitos. 
     Que mal há em ser diferente? Uma característica não define uma pessoa melhor ou pior que as outras. Sua mãe lhe ensinara que todos são iguais debaixo do céu, concordava com ela peremptoriamente. Vira as negras discutindo, querendo apenas a oportunidade de ter uma vida mais igual; vira Kauani que não se entrosada apenas por não ter o gingado das outras jovens; vira Jakvan e Anahí, abrindo mão de seus sentimentos para cumprir um ritual; vira seu pai se esforçando para gostar do mesmo assunto dos homens ricos; vira sua mãe com medo dos índios apenas pelas muitas histórias que ouvira, era tudo muito superficial e tedioso. Felizmente vira também Helena de Sousa que era sincera consigo mesma antes de tudo; vira as crianças com suas falas ingênuas e também as crianças na aldeia que brincavam com tanta pureza umas com as outras.
     Deitada esperando a boa vontade do sono, pensava em sua vida dali para frente. A princípio se recusava viver de fachada, imaginava-se engessada como boneca fazendo apenas o que deveria fazer. Via-se como pássaro em uma gaiola, era como se alguém tirassem-lhe o privilégio de voar. E de que adiantaria ter asas, se não podia levantar vôo quando quisesse. Não considerava vida, estar presa por tantas regras de etiqueta.
     No dia seguinte, procurou sua mãe e lhe expôs suas preocupações.  Sua mãe disse que era normal tais inquietações, pois derivavam da idade. _Que mal poderia haver, conviver com um pouco de regras?_indagava sua mãe. _As regras são necessárias para vivermos em paz, se todos fizessem apenas o que lhe desse vontade, não haveria sociedade, muito menos respeito. É certo que precisamos evoluir muito para uma sociedade perfeira, mas enquanto isso, façamos nossa parte que um dia alcançaremo-na.
     _ Mas mãe, as pessoas fingem quando estão perto das outras, julgam pela aparência, não são felizes de verdade!
     _ Minha linda, um dia entenderás. A felicidade não significa infinitos sorrisos alegres. A felicidade são pequenos e eternos momentos, que precisamos desfrutar quando passam por nós. É preciso aproveita-los sem moderação, pois eles logo se vão  e a vida volta a ser o que escolhemos viver.
     Um sorriso iluminou os olhos de ambas. Abraçaram-se e saíram a caminhar em volta da casa, enquanto o sol se escondia por cima de agumas nuvens que pintavam o céu naquela manhã.

Domando o instinto   [ Concluído]Onde histórias criam vida. Descubra agora