As nuvens cinzas e claras no céu mal pingavam sobre nós, mas deixavam o ar úmido e o asfalto molhado. Olhei pra algumas árvores onde os passarinhos cantavam e vi alguns balançando a cabeça pra retirar o orvalho que caía das folhas acima. Uma manhã linda e preguiçosa. Não muitos carros passavam, nem muitos ônibus. Algumas pessoas, porém, andavam pelas ruas conversando e rindo - a grande maioria com mochilas nas costas. Inclusive eu. E do meu lado esta pessoa que me olhava nos olhos mas não lembro seu rosto. Tenho a impressão de nunca ter visto-a antes também. Pegou o primeiro trólebus comigo.
Sentada ali, de frente pra mim, fez-se meu espelho. E, enquanto tudo aquilo passava pela janela, fez eu olhar pra mim mesmo e me mostrou o que sobra quando tudo vai embora. Para de ler e apenas ouve o mundo... Como pinga aos poucos em cada canto que você não olha. Conversou comigo o caminho inteiro, olhando nos meus olhos sem dizer nada, com aquele rosto borrado. Me lembrou de momentos lindos e breves. Lembranças que fazem meu coração chorar. Me lembrou de como era bom olhar o mundo daquele jeito: ler o que ele tinha pra dizer e depois escrever sobre a chuva.
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Palavras Sinceras
PoetryTextos que contêm nada além de palavras sinceras (e algumas vezes trabalhadas). PS: Na verdade essa merda aqui é meu bloquinho de notas e às vezes eu acabo postando algumas delas.