Capítulo 9

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Dois dias depois. São Paulo, Brasil...
Ludmilla
Ajusto meu blazer e atravesso o quarto. Aquela sensação quente e gostosa se espalha dentro de mim ao vê-la dormindo de bruços em minha cama. Ela adormeceu no trajeto do aeroporto para casa. Não sei bem o que me deu para trazê-la para o meu quarto. É o meu santuário. Nenhuma mulher entrou aqui antes dela. Olho-a remoendo minha tormenta interna. Está atravessada no colchão e agarrada ao meu travesseiro, dormindo profundamente. Está nitidamente cansada. Um sorriso de predadora se abre em meu rosto. Eu a comi no jato quase toda a viagem. Só saí de cima dela quando o piloto anunciou que estava se preparando para pousar. Eu me aproximo mais, meus olhos esfomeados correndo pelo corpo delicioso. O lençol está enrolado, mostrando as costas esguias e as covinhas sexy que tem logo acima da bundinha firme. Sua pinta em forma de coração nas costas. Tudo nela expira sensualidade. Meu corpo inflama, uma fome que parece nunca ter fim toma conta de mim. Nunca fui de arroubos românticos. Sou fria por natureza, mas, a vontade de me inclinar e acordá-la com beijos em cada centímetro da sua pele, me acomete. Fecho meus punhos dos lados e continuo observando-a, fascinada. É linda demais e me satisfaz na cama como nenhuma outra. Deve ser por isso que estou tão mexida, encantada, seduzida. Estou a ponto de me virar e sair do quarto quando ela geme e se estica no colchão, o lençol escorregando completamente, deixando-a nua.
Eu praguejo porque preciso sair para o trabalho. Fiquei duas semanas longe e isso não é do meu feitio, abandonar a empresa para montar uma boceta, por mais gostosa e apertada que seja. Os olhos castanhos se abrem e ela rola de costas, fazendo-me gemer, meu olhar correndo pelos peitinhos empinados, a barriguinha lisa, a bocetinha depilada, praticamente implorando pela minha língua. Porra. Que feitiço é esse que Brunna lançou sobre mim? Volto o olhar para seu rosto e ela tem um indício de sorriso sonolento e sensual na boca carnuda.
- Bom dia. - geme, puxando o lençol e encobrindo o corpo, acabando com a minha diversão.
- Bom dia. - minha voz sai rouca quase inaudível.
Ela olha em volta, franzindo o cenho quando percebe que não está em seu quarto.
- Estou no seu quarto? - aceno, procurando uma boa resposta para isso. - Por quê? - sussurra confusa.
- Porque não quero ter que andar até seu quarto quando acordar faminta por você. - digo e me congratulo porque parece uma desculpa aceitável. Não há razão romântica. - É um arranjo puramente prático, Brunna. Me acostumei a tê-la toda noite e não vou mudar isso agora que estamos em casa. - tenho a impressão de ver decepção cintilando brevemente em seu rosto. Ela acena e ensaia um breve sorriso. Eu estendo a mão e puxo o lençol, deixando-a nua. - Não esconda o que é meu das minhas vistas. - praticamente rosno, meu olhar se banqueteando de novo com o corpo delicioso. Meu pau incha por completo, estufando a calça social. Ela arfa levemente e permanece parada, me deixando apreciar cada curva linda. Arrasto meu olhar de volta para o seu e um sorriso de lobo levanta meus lábios. - É minha. Toda minha. - desistindo de lutar, eu toco o seio direito, puxando delicadamente o bico pontudo. Brunna se contorce, esfregando as coxas. Sussurro-lhe: - Quero que aceite os meus presentes.
- Não os quero. - ela nega, orgulho brilhando nos olhos castanhos. Suspiro asperamente. Menina teimosa.
- Retiro as grosserias que lhe disse naquela noite em meu escritório. - eu me vejo apelando, cedendo mais uma vez aos seus caprichos. Seus olhos lindos arregalam em surpresa. - Fui uma grande imbecil, você estava coberta de razão em não os aceitar na ocasião. Porém, espero que os aceite agora.
Diversão cintila em sua íris e ela quase ronrona quando pergunta:
- Você quer, ou espera que eu aceite? Estou confusa...
Meus lábios tremulam com a sua provocação. Há uma espécie de leveza entre nós agora. Acho que se deve ao fato de estarmos grudadas o tempo todo. Sempre que me aproximo dela querendo sexo ela me dá, parecendo ávida, desesperada, como eu. Onde diabos estou me metendo? Sinto que estou pisando em território desconhecido com Brunna, no entanto, não posso me parar. É tarde demais para isso, já estou viciada, como uma maldita dependente.
- Não me venha com essa boquinha argumentativa, baby. - solto um grunhido quando seu olhar atrevido pousa no volume em minha calça. Ela lambe os lábios e volta a me encarar. Arrasto meus dedos pelo outro seio, arrancando-lhe um gemido baixo. - Aceite-os. Vou chamar o designer e você pode escolher qualquer joia que quiser. Pode aumentar os limites dos cartões também, basta chamar o seu gerente. - meu tom abaixa, sedutor. Sei que com ela não adianta impor as minhas vontades no grito. Preciso ser mais inteligente e manipulá-la de forma mais sutil.
- Ludmilla, não gosto quando começa a falar sobre dinheiro. - torce o narizinho teimoso. - Eu me sinto uma prostituta barata quando faz isso. Achei que já tínhamos passado dessa fase.
Eu não disse? Estou chateada, mas quero rir ao mesmo tempo. Ela me fascina.
- Não se sinta assim. - bufo. - Nunca tive tanto trabalho para fazer uma mulher aceitar meus presentes antes...
Ela revira os olhos.
- Bem, de onde estou olhando parece que está tentado me pagar pelo sexo.
Eu faço uma carranca. É isso? Claro que é, mas porque não compreende que não quero deixá-la desamparada? Nossa relação mudou. Não a vejo mais como um mero pedaço de carne que vou usar simplesmente. Em algum momento nessas duas semanas, ela adquiriu o meu respeito, além do fato de que meu pau gosta dela. Muito.
- Você é inteligente, Brunna. É hora de ser prática. - tento chegar até ela. - Para todos os efeitos é minha esposa. Iremos a jantares, festas na alta sociedade.
- ela parece alarmada agora.
- Eu pensei que...
- Eu fosse te amarrar na minha cama e impedi-la de sair? - brinco, relembrando a nossa conversa de uma semana atrás. - Embora ache a ideia bastante atraente, tenho uma vida social muito intensa e você, como minha esposa, também terá. Será convidada para chás, almoços nos mais variados clubes da elite paulista. Precisa estar preparada, com dinheiro e cartões de crédito. Todos esperam que a minha esposa esteja à altura.
- Oh, meu Deus... - ela ofega, horrorizada com essa perspectiva.
Eu rio levemente.
- Minha avó pode auxiliá-la com isso. Ela é uma das damas mais respeitadas em nosso meio.
Seu rosto suaviza um pouco.
- Eu gostei dela. Pensei que era uma dondoca esnobe e fria... - seu rosto ruboriza e me oferece um sorriso em desculpas.
- Não, minha avó é a pessoa mais calorosa que conheço. - digo com orgulho na voz. - Minha mãe era a dondoca esnobe. Meu pai era um bastardo frio. Marcos e eu tiramos a sorte grande. - ironizo, então me calo abruptamente. Porra! O que deu em mim para revelar isso? Jamais falo daqueles egoístas fodidos.
Brunna se recupera rapidamente da surpresa da minha revelação e começa a se arrastar para fora da cama.
- Está bem. Vou aceitar os presentes, mas com uma condição.
Levanto uma sobrancelha, aguardando. Ela se levanta, ficando na minha frente, deliciosamente nua. Porra. Meus olhos derivam para o sul.
- Qual? - pergunto, meu olhar cravado em sua bocetinha rosada, toda delicada. Suspiro de tesão.
- Usarei apenas um cartão. Os outros vou doar para a caridade, tudo bem? - eu pisco e arrasto meu olhar de volta para o seu rosto, procurando um indício de brincadeira. Não há. Está falando sério.
- Tudo bem. Vou pedir ao gerente que aumente o limite do seu para um milhão. - digo categoricamente. Ela estreita os olhos, insatisfeita.
- O limite de quinhentos mil já é obsceno para mim, Ludmilla. - retruca e eu não sei como me sinto. Está atuando ou essa é a sua personalidade de fato? Nunca vi uma mulher relutar tanto em aceitar dinheiro e presentes caros.
- Não abro mão. A minha esposa não vai andar por aí com um único cartão abaixo de um milhão. Está decidido, Brunna. - bato o martelo.
Ela coloca as mãos nos quadris, o que só acentua os peitinhos orgulhosos e empinados. Minha boca saliva, mas não me deixo distrair pela sua beleza tentadora.
- Tudo bem. - sucumbe por fim. - Aceitarei as joias porque já vi em primeira-mão na Grécia como as mulheres desse meio podem ser umas cadelas cruéis. - eu rio um pouco. Deus, estou adorando essa discussão. Ela parece ter esquecido a nudez, está mais focada em me desafiar. Eu não estou reclamando, no entanto. - Vou ficar com o carro. Só há um pequeno problema: não tenho habilitação ainda.
- Fechado. - digo em tom satisfeito, lutando contra a vontade de puxá-la contra mim. Se ceder, terei que fodê-la antes de sair, tenho certeza. Ela resolve o meu dilema quando pega a camisola descartada sobre o criado-mudo e cobre o corpo perfeito. Eu gemo rudemente. Um arremedo de sorriso brinca em sua boca. Ela se transformou rapidamente em tão sedutora e sensual. - Ainda nessa semana vamos dar entrada no processo.
- Está bem. - diz baixinho, meio ofegante pela forma que estou olhando-a, comendo-a com os olhos. - Está indo trabalhar? - pergunta com voz rouca.
- Sim. Só estarei de volta à noite. - digo assumindo um tom mais sério. - Não era a minha intenção acordá-la, pode dormir um pouco mais, se quiser. Descanse.
Seu rosto fica vermelho quando boceja. Nós duas sabemos que está exausta por me tomar por horas a fio, sem nunca reclamar.
- Sim. Vou fazer xixi e volto para a cama. - diz, tentando se afastar. Um sorriso brinca em minha boca com a sua frase. Nesses momentos ela transparece exatamente a idade que tem. Seguro seu braço, me rendendo à necessidade de tocá-la. Ela levanta o rosto para o meu, arfando.
- Descanse, baby. - murmuro, meu peito sendo estranhamente aquecido enquanto a mantenho perto de mim. - Podíamos jantar fora hoje. - eu me pego dizendo como uma esposa apaixonada que está protelando ficar longe da sua amada. Seu rosto se ilumina. Deus, eu não sei o que é isso entre nós, mas é bom demais. É a coisa mais intensa e gostosa que já senti.
- Eu gostaria disso. - diz-me parecendo um tanto tímida. Acho que nem ela e nem eu estamos sabendo lidar com essa coisa intensa entre nós. - Vou visitar o meu pai no hospital à tarde. A que horas devo retornar?
Meus lábios contraem e me vejo provocando-a. É outra coisa que estou estranhando sobre mim. Tenho estado muito relaxada, até fazendo brincadeiras, coisa que nunca foi o meu forte. Marcos é o carismático da família. Eu sou a fria e assustadora. Todos que me conhecem sabem isso. Mas essa linda menina me aquece por dentro e é como se o gelo estivesse sendo derretido pouco a pouco.
- Admita, você gosta quando lhe digo o que fazer e quando fazer, Brunna. - sussurro bem perto da sua boca.
Ela ri, entendendo tudo.
- Em alguns contextos, sim, admito. - sua boca esperta me faz gemer.
- Volte até as sete. - murmuro. - Quero-a deslumbrante. Vou levá-la ao melhor restaurante de frutos do mar de São Paulo.
Ela abre um amplo sorriso. Como um simples jantar pode arrancar tal reação? Brunna Gonçalves me intriga.
- Amo frutos do mar. - diz suavemente.
- Eu sei, baby. - digo, tocando sua boca suculenta com o polegar. Eu me inclino e me permito dar um selinho apenas. Parece decepcionada quando me afasto e vou pegar minha bolsa sobre uma das poltronas. Olho-a mais uma vez.
- Até a noite.
Então eu saio de lá lutando com um pau duro e essa estranha sensação crescendo dentro de mim. Eu queria esmagar a minha boca na dela, beijá-la profundamente, empurrá-la de joelhos na cama e gozar naquela bocetinha viciante. Uma rapidinha. Porra. Bufo, inconformada. Quando esse desejo insano vai arrefecer? A essa altura já era para eu estar pelo menos um pouco entediada, querendo comer outra boceta, só que isso nem me passa pela cabeça. Meu pau quer apenas Brunna. Preciso recobrar algum controle sobre o meu corpo. Nunca fui refém de uma boceta e não vou começar agora.
Cerca de dez minutos depois, meu piloto está pousando no heliporto do prédio da LJ, na Avenida Paulista. Não quis perder tempo no trânsito hoje. Tenho muito para colocar em dia e cada minuto é sagrado. Quando desço do elevador no andar do meu escritório, Patty está saindo do outro do lado. Um sorriso malicioso se abre em seu rosto e ela vem me abraçar, dando tapas em minhas costas.
- Bom dia, amiga! Ei, você está bronzeada, hein? - alfineta. - Como foi a lua de mel, Ludmilla?
Bufo, me soltando e caminhando para a minha porta.
- Bom dia, Patty. Por favor, não me venha com essa merda logo de manhã. - aceno para Perrie, que já está atrás da sua mesa, eficiente como sempre. - Bom dia, Perrie. - ela também está retornando hoje, pois estava acompanhando Patty em suas duas semanas de férias também. Não perco a troca carregada entre elas quando olho de uma para a outra. Entro em meu escritório e Patty demora um pouco a entrar, provavelmente está de papo com a minha funcionária.
Quando enfim, entra, já estou me acomodando na cadeira atrás da minha mesa. Abro meu notebook e me preparo para o dia cheio. Pelo menos assim paro de pensar em uma certa ninfeta dormindo em minha cama. Meu vice-presidente é a primeira reunião do dia. Irá me colocar a par de tudo. Soube que a engenheira de avião que estávamos aguardando ainda não deu as caras e não deu qualquer justificativa. É uma americana, Luane Sales.
- As férias renderam, pelo visto. - indico com o queixo para fora da minha sala. Patty sorri sem graça e se senta à minha frente.
- Eu poderia dizer o mesmo, minha amiga. - diz, estreitando os olhos, avaliando-me. - Parece diferente. Mais leve... Você precisava mesmo de uns dias de descanso.
Um sorriso arrogante brinca em minha boca ao me lembrar da última semana. Sol, mar, Brunna. Depois, tudo de novo e de novo. Pigarreio e abro um dos relatórios que recebi ontem e ainda não tive tempo de checar.
- Você vai me contar ou vai ficar aí bancando a difícil? - ela zomba e eu levanto minha vista.
- Estou me entendendo melhor com Brunna. - digo sucinta. Ela me analisa outra vez.
- Sem sarcasmo? - junta as sobrancelhas.
- O quê? - questiono.
- Você pronunciou o nome dela quase com suavidade agora, sem a ironia e raiva de antes. - esclarece e eu franzo a minha testa, percebendo que é verdade.
- Bem, eu disse que estamos nos dando melhor agora. - dou de ombros.
- Por quê? - pergunta, sem tirar os olhos dos meus. Advogadas. Eu bufo.
- Você parece uma velha senhora fofoqueira. - zombo. - Mas vou satisfazer a sua curiosidade. Decidi que vou recompensar a menina. Estava sendo injusta, obrigando-a a pagar por um erro que não foi dela. - Patty assobia baixo.
- Uau. Quem é você e o que fez com o minha amiga Ludmilla, a implacável mulher de gelo?
Resmungo para sua chacota fora de hora.
- Quero que faça um novo contrato estipulando o que Brunna vai ganhar quando me der um herdeiro e nos separarmos. - digo-lhe e sua boca cai aberta com incredulidade. - Eu estava sendo muito injusta com ela.
- Ainda está sendo injusta, Ludmilla. Você a obrigou a ser a sua mulher. - ela me diz seriamente. - Quando teve essa epifania deu a ela a oportunidade de sair? Ofereceu-lhe a liberdade?
Eu ranjo os dentes apenas em ouvir tais palavras.
- Não. Brunna é minha. Não há negociação quanto a isso, Patty. - resmungo laconicamente. - Estou fazendo concessões, mas é tarde demais para deixá-la ir. Estamos de acordo com o novo arranjo. Ela será minha mulher de bom grado até me dar um filho.
Patty fica em silêncio. Eu sinto um gosto amargo na boca porque ela está certa. Até nesse arranjo, ainda estou sendo uma cretina sem coração ao usar a menina. Mas Brunna me quer também. Estamos muito atraídas uma pela outra. Sei que é nova, porém já é adulta. Patty está me olhando como se eu estivesse molestando uma criança, no entanto.
- Quanto quer que estipule para ela quando sair do arranjo? - questiona, aceitando minha decisão.
- Uma quantia que a cubra para o resto da vida. - meu tom sai mais uma vez suave quando penso que nunca tinha viajado para a Europa. Nas roupas esfarrapadas que usava quando a encontrei em Nova Iorque. No seu sonho de viajar pelo mundo. Ela me disse isso uma noite, quando estávamos suadas, emaranhadas na cama na Grécia. Havíamos conversado sobre tudo e nada, e só fui confirmando a cada dia o quanto Brunna é profunda para sua pouca idade. - Ela não vai trabalhar se não quiser. Poderá viajar, conhecer o mundo. - suspiro, meu corpo relaxando com as lembranças enchendo a minha mente. Eu acho que preciso encarar os fatos: aquela semana foi a mais incrível de toda a minha vida e sim, querendo ou não, foi a porra de uma lua de mel. - Vou dar o que ela quiser, Patty.
- Você gosta dela. - murmura, me olhando como se nunca tivesse me visto antes. - Se não a conhecesse bem, diria que está apaixonada por essa menina, Ludmilla.
Meu corpo todo gela, choque me tomando com sua última sentença.
- O quê?! Claro que não! - nego veementemente, me irritando - De onde diabos tirou essa conclusão? - algo passa em seus olhos castanhos e ela sorri um pouco, levantando as mãos em desculpas. - Não sou do tipo que se apaixona, me conhece muito bem. Não estou atrás de amor, Patty. Brunna continua tendo apenas uma utilidade para mim.
Ela acena, ainda me olhando atenta.
- Vou elaborar tudo e lhe mostro em breve. - diz com o profissionalismo de advogada.
Balanço a cabeça em anuência e mudo o tópico rapidamente.
- Por acaso tiveram notícias da tal Luane Sales? - pergunto com ironia. - Esse nome não é um prenúncio de responsabilidade. - resmungo.
- Não. - ela sorri da minha implicância. - E não julgue a mulher por sua experiência pessoal com o seu pai. Quer você queira ou não, Renato Oliveira era um profissional top de linha.
Eu resmungo para a sua defesa.
- Está certo. Ele só era um merda total como pai e marido.
Patty abana a cabeça, o olhar repreensivo como se eu fosse uma adolescente revoltada.
- Chega. Que tal falarmos das suas férias com a minha secretária agora? - eu a alfineto.
Ela se inclina para trás, o sorriso fácil tomando seu rosto, e passa a me contar como as coisas foram entre elas.
- Perrie é incrível, minha amiga. - ela me diz sem nenhuma reserva. Sem medo de parecer ridícula.
- Porra, em apenas duas semanas Patty? - pergunto sem conseguir compreender.
Não sou a pessoa mais indicada para falar de amor e seus encantamentos. Nunca amei nenhuma mulher. Nunca me permiti. Houve umas mais interessantes do que outras, contudo, nunca me tocaram além do sexo.
- O amor não segue um cronograma temporal, você tem que se deixar levar, Ludmilla. - diz, seus olhos brilhando com um conhecimento que não sei identificar o que é. - Quando ele vem, não tem como desviar ou ignorar.
Eu rio com deboche.
- Então, parabéns, eu acho. - digo e ela sorri amplamente para uma piada particular que não quer dividir comigo. Bastarda. Nunca vi Allysson em um relacionamento que não fosse com homens, e logo com a minha secretária ela foi se encantar e se descobrir.
- Estará de folga amanhã. Perrie vai te deixar tomar uma bebida conosco? - caçoo. Ela resmunga e se levanta, ajeitando a roupa.
- E Brunna? Será que ela vai soltar suas bolas o suficiente para isso?
- Pare com essa merda. Vá trabalhar e fazer jus ao salário exorbitante que lhe pago. - aviso-a já puta.
Ela me dá as costas, a risada zombeteira soando no escritório.
- Bom retorno, Ludmilla. - diz antes de sair. Bufo e me ponho a ler o relatório financeiro.
Apaixonada... De jeito nenhum.
Brunna
- Como ele tem estado? - pergunto para a enfermeira do plantão. Ela me oferece um olhar pesaroso e eu não preciso de palavras. É o suficiente. Meu olhar volta para a figura inerte na cama. - Minha madrasta e meia-irmã têm vindo visitá-lo?
- Na mesma, querida. - a voz da mulher me alcança. Essa pelo menos mostra alguma empatia pelo doente terminal e sua família. Já vi alguns aqui que são mais frios que pedra de gelo. - Elas não têm vindo. - informa ainda mais pesarosa.
- Obrigada. - olho-a brevemente enquanto junta a roupa suja e sai do quarto. Acabou de fazer a higiene dele com a minha ajuda. Volto a encarar meu pai. Meu querido e controverso pai. Toco seu rosto magro e muito mais enrugado agora. Meus olhos ardem, um mau presságio tomando conta de mim. Quero acreditar que vai acordar em algum momento e vamos superar todas as nossas diferenças e seguir em frente. - Eu gostaria de saber como isso aconteceu, pai. - converso com ele como se pudesse me ouvir. - Sarah e Dove acabaram com tudo o que passou a vida inteira juntando, você sabia? - digo com mágoa. Suspirando profundamente, murmuro: - Estou me dando bem com Ludmilla agora. Ela não vai me deixar desamparada quando tudo terminar. - minha voz corta ao pronunciar isso.
Há uma dor, um novo vazio dentro de mim quando penso que haverá um fim. Ficamos muito confortáveis uma com a outra, principalmente nessa última semana. O que ela pensa a meu respeito agora? Será que pensa além do sexo e gosta pelo menos um pouco de mim?
- Pelo menos agora não me sinto tão suja como antes. Ela está me tratando melhor também, sem o sarcasmo que tanto detestava nela.
Sua boca contrai ligeiramente. Um ínfimo espasmo. Gostaria de ficar animada, no entanto, a enfermeira já me avisou que são espasmos musculares. Seu corpo está deitado há muito tempo nessa cama.
- Não sei o que está havendo, mas eu a quero muito. - continuo o atualizando sobre a minha vida. - Sei que começou errado, imoral até, só que agora é diferente. Arrisco a dizer que conquistei algum respeito da parte de Ludmilla. - apenas o silêncio perdura depois que paro de falar. Uma lágrima solitária cai pela minha face. - Estarei aqui quando acordar. Esse não é o fim, está me ouvindo? Não é.
Meu celular toca e meu coração salta com a perspectiva de ser Ludmilla. É Dinah. Droga, eu murcho, decepcionada e envergonhada por me sentir assim ao ver o nome da minha melhor amiga. Tentei ligar para ela quando acordei, mas tocou até ir para a caixa postal.
- Ei, DJ. - tento não deixar meu desapontamento aparecer em meu tom.
- Ei, Mila. - ela diz sem empolgação. - Como está, amiga? E a senhora feudal, ainda sendo insuportável? - a última vez que nos falamos eu estava no meu segundo dia na Grécia, ainda muito irritada com Ludmilla.
Eu deixo a borda da cama e ando até a pequena janela, observando o movimento da avenida lá embaixo.
- Estou, hum, bem. - tropeço nas palavras. - E você, amiga? Já começaram os ensaios na Broadway?
Há um suspiro desanimado do outro lado e eu junto as sobrancelhas, estranhando seu baixo astral.
- Estou péssima, Mila. Ele voltou a foder a Ari. - desabafa em tom choroso.
Ai, Deus. Meu peito comprime de pesar pela minha amiga. Nossa, ele não demorou nem um mês. Que cachorro!
- Sinto muito, DJ. - digo baixinho. - Isso deve ser difícil...
Ela funga do outro lado.
- Sim, muito. Espero que nunca passe por isso, Mila, ver a pessoa que você gosta com outra. - um suspiro trêmulo soa na linha. - Duas vezes. Eu os vi na cama, duas vezes. O jeito que ele a olhava, segurava... Ele nunca foi assim comigo.
Meus olhos se enchem de lágrimas solidárias. Por mais que eu gostasse da Ari. Dinah é a irmã que nunca tive.
- Não fique assim, amiga. - sussurro. - Você merece ser amada por inteiro, ser a única. Sei que está doendo, só que foi melhor descobrir a verdadeira personalidade dele agora.
- Eu sei. - diz, tão triste que corta meu coração. - Ele a assumiu, Mila. A vadia deixou o Peter e roubou o meu namorado.
Quero dizer-lhe que ninguém rouba uma pessoa de outra. Não é o momento, embora. Ela precisa de apoio. Suspiro pesadamente.
- Eles se merecem, DJ. Seja forte, amiga. Não os deixe vencê-la. Ela chora alto do outro lado.
- Estou tentando, amiga... Eles já venceram. Eles me destruíram. - soluça. Consigo sentir a sua dor daqui. - Nunca vou esquecer isso.
- Você vai. - digo com ferocidade. - Vai sim, DJ. Levante a cabeça e seja a melhor bailarina que o mundo já conheceu. - minha voz treme. - Você vai brilhar tanto, que esses dois traíras não terão mais nenhuma importância, em breve. Acredite.
Ela chora ainda mais e eu fico aflita, lamentando estarmos tão distante.
- O-obrigada pela força. - soluça entrecortado. - Os ensaios começam amanhã e terei que vê-lo todos os dias, Mila. Será muito doloroso para mim.
Suspiro, olhando os pedestres e ciclistas indo em direção ao parque na frente do hospital.
- Pense que trabalhou duro para ser selecionada, DJ, e bloqueie todo o resto.
- sou especialista em bloquear o mundo exterior desde pequena. Com uma família como a minha, era isso ou enlouquecer. Eu me lembro de algo e retomo: - Fiquei sabendo que substituíram o ator principal por ninguém mais ninguém menos que Theo-gostoso-James! É isso mesmo? Você, sua cadela sortuda!
Uso um tom propositalmente entusiasmado para levantar um pouco a sua moral. Esse é o ator preferido dela de todos os tempos. Bem, meu também. Nós o acompanhamos e suspiramos por ele desde a sua primeira série, onde interpretou o filho adolescente do líder de uma gangue de motociclistas tatuados fodões.
- Ai, meu Deus... - há uma leve reação nela, graças a Deus. - Meu rosto estará um caos amanhã. Vou ver o meu ídolo adolescente com a cara toda inchada de tanto chorar. - suspiro aliviada, seu tom parece um pouco menos arrasado agora.
- Faça compressas de água gelada e as outras garotas cairão mortas de inveja da sua tez impecável. - ouso brincar. Ela funga e ri. É fraco, mas já está valendo.
- Eu te amo, amiga. Obrigada.
Meus olhos ardem. Ela fez esse papel muitas vezes enquanto eu crescia sendo hostilizada pela minha meia-irmã vaca.
- Também te amo, DJ. Queria estar aí perto para te dar colo e devorarmos um pote gigante de sorvete.
Faz-se um breve silêncio.
- Me fale sobre a última semana. Parece uma eternidade desde que falei com a minha melhor amiga. - seu timbre soa uma nota mais animada.
- Ludmilla está me tratando melhor agora. - digo meio na defensiva. - Ela propôs um novo arranjo, onde não ficarei desamparada quando cumprir a minha parte...
- Quando lhe der o tão esperado herdeiro, você quer dizer. - ela diz com raiva.
É estranho pra caramba, mas eu me vejo querendo defender Ludmilla da sua ira.
- As coisas mudaram entre nós, DJ. - digo, limpando a garganta. - Ela está me tratando sem o sarcasmo de antes.
Ela fica em silêncio e posso ouvir seu cérebro pensando.
- E o sexo? Por favor, me conte como tem sido. Estou curiosa para essa parte, confesso. - diz sorrindo alto, Dinah quando soube de Ludmilla, me disse que eu era sortuda por ter um Kinder ovo, só ela mesma. Eu rio um pouco, meu coração aliviando.
- As coisas só têm melhorado. Está cada dia mais intenso, voraz. - paro um pouco, meus seios formigando com imagens censuradas de nós duas na Grécia. - Ela é uma mulher muito... Muito...
- Gostosa? - oferece com provocação. Rolo os olhos.
- Sim. Essa é uma boa definição, sua espertinha. - sua risada ressoa, me fazendo rir também.
- O que ela faz na cama, Mila? Ludmilla é uma mulher vivida, experiente... Deve fazer coisas mirabolantes para dar prazer.
Eu fico vermelha só de lembrar tudo que já fez comigo.
- Não me julgue, mas ela faz... Bem, ela gosta de sexo anal. - digo envergonhada.
Ouço uma ingestão aguda de ar.
- Meu Deus! Você fez sexo anal? Só tem duas semanas que deixou de ser virgem, amiga. - estala a língua. - Essa mulher é uma bruta!
Oh, ela não faz ideia... Um rubor sobe em minhas faces e uma quentura invade meu baixo ventre. Eu adoro.
- Não devia ter lhe contado. - resmungo.
Ela ri.
- Bobagem. Sou sua melhor amiga, não ouse esconder algo assim de mim. - resmunga de volta. - Como foi? Aposto que dói pra caramba. Ugh!
Eu rio, gostando de distraí-la do seu caos emocional.
- A primeira vez é desconfortável, mas Ludmilla me fez sentir prazer mesmo assim...
- O quê?! Houve mais de uma vez? Meu Deus, está me saindo tão safadinha, amiga. - ri com vontade. - Sua esposa é uma bruta habilidosa. Menos mal.
Eu entro na sua onda curiosa e conto tudo que minha esposa experiente faz comigo.
- Fico feliz que ela a esteja tratando melhor agora. - murmura. - Mas tome cuidado com essa calmaria toda, Mila. Não se apegue a ela, amiga. Ludmilla é uma mulher com uma bagagem infinitamente maior que a sua.
Meu coração sofre um baque com suas palavras e a verdade nelas. Mas é tarde demais para essa precaução. Eu já me apeguei. Estou caindo cada dia mais por aquela mulher e não há nada que possa fazer para impedir.
- Eu não vou me apegar. - minto e volto a falar sobre Theo James e sua paixão adolescente pelo cara, basicamente para desviar o foco de mim, mas para deixá-la mais alegre também. Quando desligamos DJ já está soando menos derrotada. Torço para que encontre logo um bom rapaz que a faça esquecer o cretino. Ela merece ser amada e respeitada. Toda mulher merece isso. Desligo o telefone e me despeço do meu pai. São seis e meia e preciso voltar para casa. Ludmilla vai me levar para jantar fora. Só de pensar a respeito, borboletas sobrevoam em meu estômago.
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São oito e meia quando entramos no restaurante chique no Jardim Paulista. Ludmilla veio dirigindo, uma vez que sua casa se localiza aqui, nos Jardins. A viagem em um de seus luxuosos carros foi quase como se flutuássemos, enquanto o veículo deslizava pelas ruas do bairro abastado. O som incomparável do The1975 tocava no sistema de som. Ela tem um gosto muito requintado. É algo um pouco destoante da sua personalidade fria. Gosto quando toma a iniciativa de escutar uma boa música, sinto-a mais acessível nesses momentos. Parecíamos quase um casal normal indo para um jantar romântico. E me vejo desejando que o fôssemos. Estou usando um macacão verde de tecido fino, não me recordo o nome, mas parece derreter em meu corpo de tão delicado. É um modelo pantalona, de frente única. Ludmilla gostou pela forma como os olhos verdes brilharam intensamente quando saí do closet. Ela já estava pronta, deliciosa em uma calça jeans escura, cardigan social branco fechado até a altura do seu umbigo lhe deixando um pedaço de pele a vista e scarpin brancos, cabelos úmidos e penteados para tras. Ficamos as duas nos olhando em silêncio apreciativo por alguns instantes, então se aproximou e eu derreti no chão quando pegou a minha cintura e me puxou contra seu corpo. Gemi de prazer, sentindo seu cheiro privilegiado. Sem mais delongas, sua boca desceu na minha e eu a enlacei pelo pescoço, rendendo-me. Ludmilla tomou seu tempo, lambendo minha boca, a língua perversa pincelando a minha deliciosamente, os dentes mordiscando-me eroticamente, inflamando meu desejo. As mãos mornas acariciando minhas costas, descendo para a bunda, subindo de novo.
Quando me largou, meu sexo estava palpitando, a calcinha alagada. Estava ofegando e não me lembrava do meu próprio nome. Então só fiquei olhando-a como uma menina boba e deslumbrada. O canto de boca arrogante subiu e ela bateu com o indicador em meu nariz, parecendo divertida por me deixar toda excitada. Sim, é tarde demais para mim. Já me apeguei. Conjecturo, deixando os pensamentos de lado, enquanto uma hostess bem-apanhada nos recebe.
- Senhoras Oliveira, que prazer recebê-las esta noite. - diz com um sorriso brilhante. - Vou levá-las até a sua mesa. Queiram me seguir, por favor. - a moça só falta fazer uma reverência. Nós a seguimos através do salão. Está lotado e percebo alguns olhares em nossa direção. A mão de Ludmilla está na parte baixa das minhas costas, o calor da sua pele direto na minha. Meu cabelo está preso em um rabo de cavalo sofisticado, então minhas costas estão completamente nuas. Não sei é a roupa, eu, Ludmilla, fato é que mais olhares pousam em nós, me deixando desconfortável. Suspiro aliviada quando chegamos a mesa, perto do tronco da árvore frondosa. É impressionante como a arquitetura aproveitou os ramos, intrincando-os aqui e ali, deixando o ambiente requintado, porém com um toque rústico. Quando nos acomodamos, eu me ponho a observar tudo, maravilhada. Ela me trouxe para o Figueira Rubaiyat, um dos restaurantes mais frequentados pela elite paulistana. Eu já suspeitava de algo nesse nível. Basta olhar para essa mulher e verá que está acostumada com o que há de melhor. A lista de reserva daqui também é ingrata se você não é dona do mundo ou de metade dele, pelo menos. Zombo. Vi isso em um site especializado em restaurantes.
- Obrigado. - Ludmilla agradece a moça quando os cardápios são entregues e ela informa que nosso garçom logo virá tomar os pedidos. - Sugiro o Caixote Marinho. É delicioso. - diz, seus olhos encontrando e segurando os meus, o brilho intenso sob a iluminação branda. Eu pigarreio e abaixo os olhos para o meu cardápio.
- Ah, sim, parece uma boa. - digo, conferindo a composição: polvo, vieras, lula, camarões, cavaquinha, peixe, pitú e arroz. Estou salivando apenas vendo a ilustração.
- Vamos pedir, então. - sua voz tem uma borda divertida. Deve ser porque estou um pouco nervosa no ambiente e também pela forma como está me olhando, como se me quisesse me incluir no cardápio. Olho-a e o sorriso perverso brinca em sua boca de novo. O garçom chega e anota nossos pedidos, graças a Deus. Ludmilla diz que vamos beber o de sempre. O homem se vai e logo está de volta com uma Dom Pérignon em um balde com gelo. Tudo bem, então a crise financeira não chegou à LJ. Ironizo a bebida caríssima. Ludmilla nos serve em taças... Espera, em taças com o sobrenome Oliveira desenhado em letra cursiva e dourada. Uau! Caramba. Uau. - Sou cliente assídua daqui. Marcos também. - dá de ombros, percebendo que estou chocada com tal tratamento. Bufo levemente. Claro que sim. Duvido que façam isso de forma indiscriminada. O nome disso é prestígio. Poder. Aceno e tomo um gole da bebida cara e, admito, deliciosa. As bolhas acariciam minha boca e garganta.
- Você descansou? - pergunta, tomando um gole da sua taça também, olhos treinados sobre mim.
- Sim. Dormi até as duas da tarde. - sorrio, meu rosto esquentando novamente. - Fui visitar meu pai depois e fiquei por lá até as seis e meia.
Seu rosto fica sério com a menção do meu pai. E me surpreende quando pergunta:
- Como ele está?
- Na mesma. - digo sem alento. Ficamos em silêncio e eu adiciono: - Gostaria de saber como tudo aconteceu. Não me conformo que seu destino seja definhar naquela cama...
Simpatia relampeja em seu olhar. Ela assente, o maxilar tenso.
- Mesmo seu pai tendo me roubado, saiba que não fiquei feliz quando o tal acidente o deixou naquele estado, Brunna. - seu tom é sério, reservado.
- Sei que não, Ludmilla. - digo, olhando-a com firmeza. - Apenas Sarah sabe o que aconteceu lá, de fato.
- Desconfia dela? - pergunta, seu olhar estreitando astutamente.
- Gostaria de entender apenas. - dou de ombros, tentando despistar.
- Como é a sua relação com ela? - Ludmilla insiste.
Tomo mais um gole e digo calmamente:
- Não gosto de falar sobre a minha madrasta, se não se importa. Seus olhos ficam mais desconfiados, mas acena em concordância.
- Amanhã vou pedir a Perrie que procure uma boa autoescola para iniciar suas aulas de direção. - muda o tema e eu agradeço-a. - Posso levá-la em um passeio nesse final de semana e fazê-la praticar um pouco, o que acha?
Há algo descarado brilhando em suas íris geladas com essa proposta. O que está planejando fazer comigo nesse passeio? Estou aprendendo a pescar coisas sutis aqui e ali em sua expressão. Ludmilla é quase sempre inescrutável, só mostra o que quer que os outros vejam. Nunca vi alguém tão no controle de si mesmo.
- Eu adoraria. - digo, um sorriso atrevido brincando em minha boca e murmuro o resto da frase: - Você dirige muito bem...
Ela ri, lenta e perversa.
- Sim, Brunna, eu dirijo muito bem... - meio que sussurra, olhos fixos nos meus. Meu corpo todo entra em combustão, meu núcleo apertando de desejo, querendo-a insanamente.
Nossos pratos chegam, interrompendo nossos olhares luxuriosos. Caio de boca na refeição para escapar desse clima íntimo que está atropelando tudo e se estabelecendo entre nós. O tal Caixote Marinho é simplesmente divino! Eu me forço a comer devagar para evitar que alguém venha me retirar da mesa por parecer uma porca sem modos. Ludmilla ri da minha gula e come tranquilamente, tão tranquila que chega a ser pedante. Olho em volta e todos os ricaços estão comendo da mesma forma enfadonha. Um prato como esse merece gemidos e grunhidos de êxtase e eu os solto, baixinho. Mesmo assim, Ludmilla ouve e seus olhos inflamam, cravando em minha boca, observando-me comer. Os olhos gelados fumegam com promessas de prazer depravado para mais tarde. Ela pergunta quando vou ver a inscrição para o curso de graduação e eu sonho com uma realidade alternativa, onde o seu interesse por mim seria real. Digo que farei isso no decorrer da semana. Depois caímos em uma conversa fácil. A sobremesa é algo fora de série. Tomo água e me delicio com um pudim de leite.
Um conhecido de Ludmilla passa em nossa mesa, acompanhado da esposa, e nos cumprimenta. Ela me apresenta formalmente como sua mulher, embora todos já saibam pela explosão de fotos nossas nas ilhas gregas. O homem me cumprimenta com um sorriso simpático, a mulher me mede dos pés à cabeça e sorri também, só que isso não alcança os olhos. O casal se despede e ficamos sozinhas, tomando o resto do champanhe. Sinto minha nuca formigando, uma sensação inquietante, como se alguém estivesse me observando insistentemente.
- Eu vou ao banheiro. Já volto. - aviso-a, levantando-me. Ela o faz também como bem educada que é.
Ando entre as mesas, ignorando os olhares curiosos. Mal alcanço a área dos lavabos e uma mão serpenteia em meu braço, puxando-me bruscamente para trás. Eu me viro e choque me toma ao dar de cara com Dove. Então, era a vaca me observando lá fora. Puxo meu braço e avanço um pouco mais, me escondendo dos olhares curiosos atrás de uma coluna. Dove ri, o sorriso feio cheio de maldade que esteve escondendo, está de volta. Os olhos correm por mim, inflamando com inveja e ódio.
- Como vai, maninha? - diz, me atirando adagas com o olhar. - Está aproveitando muito, não é? Eu me enganei achando que ia sofrer, mas não, você está gostando de ser a puta particular de Ludmilla. - diz com despeito óbvio. - Olhe só para essa roupa... - bufa. - Pode até estar vestida como uma princesa, querida, mas não passa da prostituta dela, não se esqueça disso.
Ofego com seu ataque direto. Ela desistiu de fingir, pelo jeito.
- Pare de me perseguir, você e sua mãe. - digo, tentando soar firme. Sei que preciso enfrentá-las, me libertar desse domínio. É a hora.
- Você nos deve. Minha mãe te criou, sua putinha egoísta. - rosna.
Eu rio sem humor.
- Não me faça rir, Dove. Sarah jamais ligou para mim. - retruco, enfrentando-a pela primeira vez. - Não lhes devo nada. A ganância de vocês as deixou assim. Acabaram com tudo que meu pai levou anos para construir.
- Papai era um fraco. - seu sorriso é frio, assustador. - Você puxou a ele.
Fecho meus punhos, irritada por ela falar assim dele, que a criou, deu amor, deu tudo que devia ter sido meu.
- Ele não morreu. - digo, minha voz tremendo.
- É hora de enfrentar a verdade, Brunna. Ele não vai acordar mais. Você está sozinha no mundo, querida. - diz com veneno e um ódio inexplicável escorrendo em sua expressão. Por que me odeia tanto? Nunca lhe fiz nada. - Ludmilla vai te comer até enjoar e depois te jogar fora como lixo usado. Você é nada, cadela. Nada!
Estou tremendo, querendo desesperadamente romper o controle que ela ainda tem sobre mim adquirido pelos anos de tortura. Puxo uma respiração profunda, juntando forças e me obrigo a enfrentá-la. Não posso mais viver assim, acuada.
- A prostituta aqui é você, Dove. - digo firme, surpreendendo a mim mesma e a ela, que estreita os olhos. - Aquele lá na mesa não é um colega de trabalho do meu pai? - eu me recordo dele e da mulher em jantares que meu pai dava por insistência de Sarah, que adorava esbanjar em cardápios e bebidas caras nessas ocasiões. Eu permanecia pouco nesses eventos, porque me enojava a forma como a cadela apresentava sua filha como a princesa da casa e meu pai não fazia nada para me dar um espaço que era meu também. - Ele é casado.
- Você é tão tola, Brunna. Trepo com ele já tem um tempo, querida. - diz com um sorriso afetado. É uma vadia da pior espécie mesmo. - Lembra quando a esposa dele ficou grávida, há dois anos? Pois é, eu cheguei junto e ele cedeu depois de umas tentativas. Tadinho, tinha uma ideia antiquada de fidelidade, mas bastou um boquete em seu escritório e o bobo caiu na minha rede.
- Você não sente remorso por destruir um casamento assim? A esposa dele sempre nos tratou bem. - digo com asco.
Ela gargalha.
- A tonta nunca vai saber. - diz com mais um sorriso odioso. - O idiota a ama. Só não consegue resistir a mim, porque vamos combinar, que homem resistiria, né? - ajusta o decote, empinando os peitos tão falsos quanto os de sua mãe. - Não quero destruir o casamento de ninguém, mas preciso de patrocínio. Minha mãe e eu estamos na miséria porque você, sua putinha ingrata, não quis nos incluir na sua nova vida de privilégios. - seus olhos brilham, demoníacos. - Poderia ter lhe ajudado a conseguir tirar o máximo de dinheiro desse casamento, mas agora parei de mendigar coisas para você. - ela me dá um sorriso maldoso e lambe os lábios vermelhos. - Em breve será a sua esposa na minha rede. Vou tomar o seu lugar, sua horrorosa. Ela só te quis pela sua boceta virgem. Mas, acredite, a novidade passa rápido para pessoas sofisticadas como Ludmilla. Em breve ela irá precisar de uma mulher que saiba realmente foder, e é aí que eu entro. - ela vai falando e avançando para mim. Vou me afastando até bater na parede, sem ter para onde ir.
- Ela não quis você porque enxergou a podridão que há aí dentro dessa carcaça bonita. - meu sangue esquenta, de raiva e, principalmente, ciúmes. A ideia dessa puta tocando, beijando Ludmilla, me deixa insana. - Você é uma puta barata. Aceite isso e pare de tentar parecer o que não é.
O tapa forte acerta minha face, me fazendo morder a língua. Dor e sangue fluindo em minha boca. Lágrimas quentes enchem meus olhos e eu choro, segurando meu rosto em brasa. Ela sorri como uma bruxa e pega meu cabelo, puxando-o com força.
- Isso, sua putinha ridícula, chore. - rosna na minha cara. - Vamos, chore mais. Eu sempre amei o som do seu choro. - eu soluço, minha bravata indo embora, me sentindo pequena, humilhada diante dela, como sempre. - Mudei de ideia, vai me dar dinheiro de agora em diante, está me entendendo? Vai me dar ou vou te dar uma surra toda semana, como nos velhos tempos... - eu choro, impotente, sem forças para me libertar. - A mamãe prefere fazer maldades sutis, eu não, eu gosto de te ensinar qual é o maldito lugar, sua feiosa! - ela range os dentes com tanto ódio e olha meu rosto em chamas. - Oh, eu aconselho a cuidar disso quando chegar em casa, senhora Oliveira. - zomba.
- Que porra é essa? Tire as malditas mãos de cima dela! - surpresa me inunda com a voz profunda e familiar soando furiosa. Eu guincho quando Dove é arrancada de perto de mim. Ela puxa meu cabelo no processo. Massageio meu couro cabeludo e meu rosto ao mesmo tempo, estupefata. Ludmilla está segurando a cobra, atirando a ela um olhar mortal.
- Ludmilla, oh, meu Deus, foi apenas uma discussão entre irmãs. - ela força um sorriso nervoso e me olha. - Diga a ela, irmãzinha, sabe que te amo, não é uma briga boba que vai abalar nossa relação. Eu...
- Cale a boca, garota. - Ludmilla rosna baixo e ela estremece, calando-se. Os olhos verdes pousam em mim e sua mandíbula trinca, analisando meu estado. Minha bochecha está doendo muito. Ela me bateu com as costas da mão. Essa puta sempre gostou de me machucar. Os olhos dela fervem e então, pega os braços de Dove rudemente, prendendo-os para trás.
- O que está fazendo? Solte-me! - ela exige, uma borda de pânico em sua voz. Isso me agrada.
Ludmilla lhe dá um empurrão, deixando-a na minha frente de novo, cara a cara. Só que dessa vez ela está com os braços presos. Eu a encaro. Ela está furiosa. Isso aquece meu coração. Está tomando as minhas dores. Mais lágrimas fluem em meus olhos por ter alguém me defendendo pela primeira vez na minha vida.
- Devolva. - apenas essa palavra sai da boca de Ludmilla. Eu franzo o cenho, tentando compreender. - Vamos, Brunna. Bata na cadela. Agora. - rosna.
- Não! Você é louca? Não pode fazer isso. - Dove entra em pânico verdadeiro agora.
- Cale a boca, sua puta. - range, parecendo ela mesmo querer dar uma surra nela. Está tão zangada assim por ela ter me agredido? - Vamos, Brunna. Agora!
Eu sei que é errado. Totalmente errado. Mas são anos de humilhação gritando em meu ouvido para serem vingados. Sou apenas humana no final das contas, então levanto a mão e vou para bater, aí me lembro de virar e lhe devolver na mesma moeda. As costas da minha mão se chocam contra a sua face direita em uma pancada forte. Ela guincha e começa a chorar. Oh, não é tão bom quando se está desse lado, não é? Eu sacudo a mão, abalada. Essa foi a segunda vez que bati em alguém. Sempre fui pacífica, até demais. Tanto que essa vadia me fez de saco de pancadas enquanto crescíamos.
- Outro. - Ludmilla rosna.
- Ela só me deu um. - digo, querendo ir embora logo daqui. Essa situação é surreal.
- Tem certeza? - seu olhar é afiado no meu. - Você não vai mais aceitar esse tipo de tratamento, entende, Brunna? - ela parece com raiva de mim também por aguentar isso. - De ninguém. Se alguém lhe bate, você devolve a bofetada, mais forte. - meu Deus, onde ela aprendeu tal filosofia? - Vamos, bata nela. Essa garota precisa aprender qual é o seu maldito lugar. - oh, Deus, eu acho que ela ouviu tudo que a vaca estava rosnando na minha cara. - Vamos, caralho!
Não penso mais, só levanto a mão e dou mais dois tapas fortes, um em cada lado do rosto que fez minha vida miserável por muito tempo. Ludmilla a solta e a empurra. Dove chora baixinho, o rosto uma bagunça. Seus olhos estão me fuzilando, prometendo todo tipo de retaliação, e eu engulo em seco.
- Olhe para mim, garota estúpida. - Ludmilla exige e ela estremece, levando os olhos maléficos para ela. - Se tocar na minha mulher de novo, vai se ver comigo, compreende? Não me importa se é sua meia-irmã. - ela está irada. - Irá para a cadeia se machucá-la de novo. Me diga se compreendeu. - rosna e ela acena vigorosamente com a cabeça. - Ótimo. Agora, suma daqui. - diz friamente.
Abraço a mim mesma, sentindo frio, vergonha, alegria por ela ter vindo em minha defesa. Eu choro mais e, no segundo seguinte, seus braços estão à minha volta.
- Shh, eu estou aqui, baby. - sua voz tem um tom suave que nunca usou antes e eu me derreto contra seu corpo me envolvendo. Ouso dizer, me protegendo. Segura o meu queixo e levanta meu rosto suavemente para o seu. Nossos olhares se encontram. Os dela estão intensos, suaves, quentes, deslizando por cada centímetro do meu rosto. As pontas dos dedos tocam onde deve estar se formando um hematoma. - Eu nunca tive tanta vontade de bater em uma pessoa antes. - diz ferozmente, mas o olhar ainda tem aquela emoção indecifrável cintilando, me chamando em um nível profundo. - Vou cuidar de você. Ninguém vai machucá-la mais, prometo.
Eu juro que sinto meu coração parar. O sentimento que está se espalhando dentro de mim agora é algo diferente de tudo que já senti. Todo o meu corpo esfria, depois esquenta e então, meu coração parece que vai explodir pela intensidade da emoção. Ofego, lágrimas frescas se formando em meus olhos quando percebo, finalmente, o que é isso. É amor. Eu a amo. Eu me apaixonei por ela. Ludmilla possuiu não apenas o meu corpo, mas meu coração. Essa constatação me faz arfar, sem ar, perdida. É uma verdade esmagadora. O que será de mim agora, meu Deus? Eu amo a minha algoz.
- Proteja seu rosto no meu ombro, baby. Vamos para casa. - diz e me guia delicadamente.
Meu coração canta em meio às lágrimas. Não posso evitar a esperança florescendo dentro de mim.


O acordo- BrumillaOnde histórias criam vida. Descubra agora