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Três semanas se passaram desde que os vizinhos se mudaram. Todos os dias destas semanas, eu procurei o "transportador misterioso" pela internet afora, mas só com a imagem na minha mente e o nome da empresa não é de grande ajuda.

Do pé da escada, minha irmã me gritou para que eu levasse o lixo pra fora, antes que o caminhão passasse e nosso lixo ficasse até o próximo dia de coleta. Por mim, seria o dia dela levar, mas ela insistia que era o meu.

Quando passei pela janela para protestar da minha porta sobre minha vez de levar, vi o rapaz novamente perto da piscina e a vizinha passou por ele com o lixo; ele não reagiu à mulher, apenas a observou caminhar até o portão. Já ela parecia nem reparar na presença dele.

Vi nesse momento uma oportunidade para perguntar sobre o rapaz, então desci as escadas correndo, peguei o lixo e me aproximei da vizinha como se havia sido apenas uma coincidência do acaso nos encontrarmos ali.

— Olá, Sra. Moon.

Ela levou alguns segundos para erguer a cabeça e olhar para a origem da voz. Olheiras e pesadas bolsas sob os olhos eram visíveis, mesmo com boas camadas de maquiagem de alta cobertura.

— Ah, oi menina. Eu não vi que você estava aí.

— A senhora está bem? Não está com uma cara boa...

— Ando dormindo tão mal esses dias...

— Sério? Por que?

— Ah, às vezes parece que eu sinto alguém me observar a noite, aí acabo não conseguindo dormir. Mas é cisma minha, por mudar pra uma casa nova.

— Mas e seus filhos? Eles também se sentem assim?

— Filhos? Ah, minhas meninas estão bem. É algo só comigo mesmo.

— E o rapaz? Ele tá morando aí também, né? Eu o vi umas duas vezes no quintal.

— Rapaz? Além do meu marido, não tem nenhum outro homem em casa — os olhos da Sra. Moon se arregalaram e sua respiração ficou pesada. — Ah, tenho que ir, sabe? Muita coisa pra fazer antes que meu marido chegue em casa. Tchau! A gente se vê.

Ela se afastou rapidamente para sua casa enquanto eu permaneci parada tentando processar o que havia acontecido. Quem era aquele rapaz?

Indo para dentro de casa, comecei a me perguntar se ela estava sendo assombrada ou se estava sendo atacada por vampiros noturnos. Ou pior, embora um pouco impossível pela segurança do condomínio: algum pervertido estava a observando no escuro. Da próxima vez que conversar com a Sra. Moon, poderia sugerir ela para que instale um sistema de segurança, incluindo câmeras. Se ela continuar vendo e o sistema de segurança não captar, então não é humano vivo. Daí em diante, facilita um pouco a pesquisa. Talvez chamar um padre exorcista, comprar uns crucifixos, oferecer alguma alma como sacrifício, comprar cordões de alho... Coisas básicas assim.

Do meu quarto, olhei para a casa ao lado e pude observar que a vizinha olhava de um lado para o outro, quase como se estivesse paranoica. O rapaz misterioso estava perto do muro da outra casa vizinha, olhando para a Sra. Moon. Eu não conseguia ver mais nada além do rapaz, até que ele olhou na minha direção.

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