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Halloween.

Sempre fazíamos uma festa familiar aqui em casa por ter vários aniversariantes. Esse ano não seria diferente, então convidamos a família Moon para participar. Agora todos eles sabiam da porta lateral e todos os mais velhos tinham uma cópia da chave.

No dia da festa, todos concordaram em deixar a porta fechada para que nenhum convidado acabasse na casa errada por engano, ainda mais que minha família adora uma bebida alcoólica.

Para não levantar suspeitas, Byul e eu quase não ficamos perto uma da outra. Interagimos ocasionalmente e eu me dediquei mais aos meus familiares e ela com os dela.

Como todos os anos, meu tio decidiu batizar o ponche. Quando soube, corri pra avisar à Byul, mas não a encontrava em lugar nenhum. Tive a brilhante ideia de a procurar em sua casa sem avisar, como era por regra. Num ponto totalmente escuro do quintal, eu ouvia barulhos que não conseguia identificar. Liguei a lanterna do celular e lá estava Byul agarrada com Yonghee. Aquela cena embrulhou meu estômago e eu saí correndo para o banheiro; não consegui nem trancar a porta. Alguma voz me chamou, mas não sabia e nem queria saber de quem era.

Após sair do banheiro, me direcionei ao meu quarto e tranquei a porta. Não queria ver ninguém mais, nem mesmo conversar. A festa havia acabado pra mim.

No dia seguinte, não saí da cama. Meus pais mandaram minha irmã para ver o que havia acontecido comigo, logo quem eu menos queria ver no momento. Byul não parava de mandar mensagens para mim. Eu não queria lembrar do que havia acontecido no dia anterior, mas as duas não me ajudavam a esquecer. Desligar o celular me ajudava de um lado, mas a Yonghee batendo na porta de 30 em 30 minutos não tinha salvação.

No segundo dia, Moon Byul apareceu na porta do meu quarto. Eu não queria abrir, mas, através de códigos que eu rezava para que ninguém mais entendesse, ela ameaçou contar nosso lance. Me dando por derrotada, abri a porta e voltei para debaixo das cobertas. Estava usando meu short doll meio transparente e curto; não deixaria o clima menos tenso entre nós.

Ela entrou e eu pedi para que ela fechasse a porta. Moon Byulyi começou a se desculpar e eu a deixei falar, sem escutar em nem uma vírgula sequer. Quando eu abri a boca para falar, minha porta foi esmurrada por Yonghee. Pedi para que Moon Byul abrisse antes que fosse necessário comprar uma nova porta. Ela abriu e ficou atrás da porta.

— Como você conseguiu abrir a porta tão rápido e se deitar? — Yonghee parecia bem confusa. Moon Byul esticou a cabeça por detrás da porta, mostrando que havia sido ela. — Ah! Que bom que estamos todas aqui. Podemos resolver isso logo? Eu não aguento mais nossos pais me enchendo o saco pra te tirar daí. E por que você tá debaixo da coberta num calor desses.

Fiquei completamente vermelha ao explicar a roupa que estava usando. Yonghee olhou para mim e para Moon Byul, o que a fez entender de vez o que estava acontecendo.

— Então é isso? — Disse sentando-se na ponta inferior da minha cama. — Ok, vamos lá: — diminuiu o volume até chegar bem perto de um sussurro — eu a beijei. Eu tava bêbada demais na hora e acredito que ela também, porque ela não parava de falar depois que achava que eu era você — Byul abaixou tanto a cabeça que eu achei que seu pescoço esticaria tanto a ponto de alcançar o chão.

— Mas você não é...

— Hétero? — Riu. — Sou só era pra você até agora, ainda pros nossos pais e até onde preciso por causa do preconceito, tipo pra arrumar emprego. Na verdade, eu sou bi — deu de ombros.

Fiquei em choque. Eu nunca parei pra pensar na minha sexualidade, tampouco na da minha irmã. Não era algo relevante nem algo que me fizesse a desconsiderar como minha irmã, mas ouvir dela nesse momento era como se tivessem jogado uma pedra de gelo na minha barriga. Me sentei na cama, esquecendo de puxar o cobertor. Eu não havia percebido até Byul limpar a garganta e eu a ver tão vermelha que estava quase ficando roxa; puxei pra proteger meu peito dos olhos dela.

— Eu não sabia que vocês estavam juntas — continuou Yonghee. — Se soubesse, não teria investido tantas vezes.

Ah. Agora fazia sentido o porquê das duas sempre agirem estranhas quando eu estava por perto. Eu não tinha percebido!

— Mas eu não posso garantir que não a teria beijado. Eu fiquei bêbada rápido e não sei o motivo, mas tenha certeza que se estivessemos sóbrias, eu não faria isso — finalizou.

— Tava batizado. O ponche. O tio. Foi ele — minha mente estava tão nebulosa que eu não conseguia mais formular uma frase completa.

— Faz sentido... De todo jeito, eu realmente não sabia. Desculpa? — abriu os braços pedindo um abraço de paz. Aceitei e a abracei. Byul virou de costas com a mão na nuca. O cobertor havia caído quando me levantei para abraçar Yonghee, revelando toda minha vestimenta. Yonghee riu e caminhou em direção à saída.

— Não me importa o que vocês vão fazer agora, mas façam baixo porque dá pra ouvir tudo. Eu sei porque já testei.

— YONGHEE! — Joguei meu ursinho de cabeceira nela, que saiu rindo de mim.

Byul voltou a fechar a porta e se sentou perto de mim. Eu sei muito bem o que ela queria fazer, mas nos contentamos em apenas alguns beijos. Não sei como, mas conseguimos nos segurar. Merecemos um prêmio por isso.

A casa 44Onde histórias criam vida. Descubra agora