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Um dia eu resolvi apresentar meus amigos à ela, ainda mais que ela não conhecia ninguém por aqui e também porque ela já havia se tornado minha amiga.

Em pouco tempo, Byul foi muito bem aceita por todos, a ponto de se encontrar com alguns sem mim, mas isso não a impediu de que ficar bem mais próxima à mim em relação aos outros. Sempre me segurando pelos braços, pelas mãos... De alguma forma, estava sempre me tocando.

Isso não me incomodava. Na verdade, só percebi quando o Yoondo me perguntou se havia algo rolando entre nós duas, após a sessão de cinema. Byul havia ido ao banheiro e eu estava a seguindo, quando ele me puxou para perguntar. Dizia que ela não soltava meu braço e sempre me olhava pra saber se eu tava chorando, com medo ou algo do tipo (lembram que eu falei que iria parar um pouco com os filmes? Pois bem: não parei). Eu disse que era só porque ela era muito tímida e como fui a primeira pessoa com quem ela fez amizade, acabei me tornando um ponto de segurança para quando a timidez começava a falar mais alto. Yoondo não se deu por convencido, mas não perguntou mais.

Não era uma desculpa: ela sempre deixou claro sua timidez e o quão segura se sentia comigo. Ela não disse, mas acho que o fato de que eu falo demais a deixa mais tranquila; um perfeito equilíbrio.

Yonghee também apresentou seus amigos para Byul, mas a diferença de idade entre eles não ajudou muito na adaptação entre eles. Conversam, mas não dá pra considerar uma amizade.

Estávamos a sós na minha casa contando um pouco de nossas vidas quando resolvi contar sobre a porta no muro. Ela ficou surpresa por nunca ter notado e me pediu para que eu a abrisse. Foi difícil no começo, mas após as duas forçarem, conseguimos romper as trepadeiras e abrir a porta.

Olhar aquela porta me trazia uma dor no peito desde a partida da Gabriella, mas dessa vez eu só sentia uma leve nostalgia de um passado bem distante; uma lembrança boa.

— Então... Gabriella, né? — Byul parecia meio desconfortável.

— Sim.

— E sumiu do nada?

— Sim.

— Ainda sente saudades?

— Ela era minha melhor amiga

— Era? — Ergueu uma sobrancelha.

— Bom, ela desapareceu sem me dizer nada, então não sei se ainda somos melhores amigas, nem mesmo sei se ela está viva.

— E se você soubesse como ela está e que o motivo dela ter sumido foi justo? Ainda seriam melhores amigas?

— Não sei. Por que você tá perguntando? Por acaso você sabe, é?

Byul abriu a boca pra falar, mas fechou por causa de seu telefone que começou a tocar. Ela pediu licença e afastou um pouco pra ter privacidade. Por todo o momento em que esteve no telefone, suas perguntas rodeavam minha cabeça. Se ela voltasse hoje, as coisas voltariam a ser como eram? E se ela mudasse completamente e só eu insistisse pra que tudo fosse como antes dela sumir? E para onde iria a Byul? Manteríamos contato? Ela também sumiria do mapa? Qualquer que fosse a resposta, não estava gostando do final. Algo seria perdido e eu seria a maior impactada com a perda.

Byul voltou para perto de mim. Eu estava encostada no muro e tão focada nos meus pensamentos que só a notei quando ela tocou meu queixo e puxou meu rosto para cima. Não sabia dizer a minha expressão no momento, mas seus olhos mostravam preocupação; concluí com certeza que não era uma das melhores. Ela se aproximou mais ainda; corpo prensado entre o muro e ela, seu rosto se aproximando lentamente do meu. A mão livre desceu para minha cintura e a passagem de seus dedos causavam ondas de arrepios. Não eram ondas pequenas como num belo dia de praia não. Estavam mais para ondas de tsunami. Sua respiração parecia o novo oxigênio que meus pulmões exigiam para que eu pudesse viver, meu coração batia tão forte que estava quase abrindo um buraco no meu peito. O tempo parecia rápido demais para que eu tivesse alguma reação ou pensamento lógico, e lento o suficiente para que eu pudesse aproveitar cada segundo daquele sentimento que eu não sabia porque tinha vindo, mas estava ali.

Seus olho saltavam dos meus olhos para minha boca e vice versa. Eu estava mais focada na sua boca tão perto e tão longe de mim. Por algum motivo, por mais que quisesse, eu não conseguia encurtar aquela distância. Byul deu um sorriso torto e se afastou.

— Depois me dê uma cópia da porta — se virou e desapareceu no interior da casa.

— Que? — Pestanejei

Meu cérebro não conseguia processar o que tinha acabado de acontecer. Ou melhor, do que não aconteceu. Meus pulmões lutaram alguns segundos pra acostumar à antiga-nova realidade; meu coração estava em choque, assim como eu.

Fechei a porta e fui esganar e socar um dos meus travesseiros, já que não poderia fazer com a responsável pelo meu atual estado. Bom, até que poderia, mas isso resultaria em lesão corporal e talvez uma ordem de restrição. Melhor não.

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