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Eu estava feliz.

Tudo estava dando certo na minha vida, incluindo com a Byul, mesmo que não houvessemos assumido publicamente. De todos os meus problemas não resolvidos, apenas o tópico Gabriella não havia sido solucionado. Achei que seria mais um daqueles casos não solucionados da minha vida, então parei de dar importância.

Estava conversando com Byul na casa dela quando meu telefone tocou e meu coração parou. Na tela, o nome GABS piscava enquanto eu o encarava sem acreditar. Tremendo, ergui o telefone na direção dos meus olhos pra ter certeza do que eu estava vendo. O nome dela que eu havia salvo junto com uma foto de nós duas estava ali na tela.

Me preparei para atender, mas Byul segurou o braço que segurava o telefone. A olhei espantada com sua reação; ela apenas me disse que achava que não era uma boa ideia. Não entendi o que ela queria dizer, mas atendi com a outra mão.

Com o telefone no ouvido, esperei pra ouvir alguma voz robótica ou alguma voz desconhecida, mas era ela. Era a Gabriella.

— Você está em casa? — Com tanta coisa para me dizer depois de tanto tempo, essa foi a que eu menos esperava.

— Sim e não. Onde você estava? Por que sumiu? Cadê você? — As lágrimas começaram a escorrer pelo meu rosto. Byul, que já havia soltado meu braço, permanecia em silêncio e imóvel.

— Tem como você chegar no portão?

— Venha pra casa ao lado — Byul havia pego o telefone da minha mão para falar com Gabriella. Ela não parecia nem surpresa e nem feliz com o retorno da Gabs.

Byul pediu para que eu esperasse dentro do quarto acolchoado enquanto ela abriria a porta para Gabriella. Perguntei o por que, mas ela já havia partido.

Dois longos minutos se passaram até que Gabriella cruzasse a porta. Corremos para nos abraçar. Eu aparentava mais ânimo em vê-la do que ao contrário, o que me deu uma pontada no estômago. Quando a soltei, percebi que havia outra mulher ao lado de Byul. Os segundos seguintes antes que alguém começasse a falar pareciam uma eternidade a ponto de eu reparar alguns detalhes: Gabriella havia perdido um pouco de peso, aparentava mais forte fisicamente, usava um cabelo curto e roupas da mesma cor. Até parecia que a única coisa da antiga Gabriella que restava era a cor do seu cabelo.

A mulher atrás dela tinha cabelo preto, longo e levemente ondulado. Suas unhas eram longas e afiadas feito garras, não sabia dizer se eram originais ou não.

— Você não me esperou —  começou Gabriella.

— O que? Esperar o que? Você sumiu do nada, sem explicar nada com nada! 

— Eu te mandei o áudio explicando!

— Não dava pra entender!

— Você realmente ouviu, é? — Ela sacou o telefone do bolso e abriu nossa conversa. Selecionou seu último áudio enviado, marcado como favorito, e o colocou pra tocar para que todos pudessem ouvir.

O único que eu não havia ouvido, o que eu me recusava a ouvir, era a resposta que eu tanto esperei e procurei. Ela havia dito, com mais calma, que havia sido selecionada para a próxima fase da seleção de novos idols, que ela teria que viver como se a antiga ela havia morrido e que teria que partir para viver perto do prédio dos treinees. Disse também que sentia muito sobre a partida repentina, mas que me veria assim que pudesse. Finalizou dizendo que não era pra eu contar pra ninguém.

Eu me senti uma imbecil. Algo tão simples e revelador exatamente no único que me recusava. Eu a encarava incrédula, enquanto Gabriella estava revoltada, Byul me olhava de forma neutra e a outra moça olhava com deboche.

— Eu estava trabalhando duro pra me tornar a Wheein e-

— Wheein?

— Meu nome artístico — bufou — e enquanto eu trabalhava, você estava com essa aí. Por que não me esperou?

— Te esperar pra que exatamente? E como assim "com essa aí"?

— Eu te amava. Tanto que até me arrisquei a perder a vaga por te contar e você foi ficar logo com minha coreógrafa que ficou na minha casa por que não tinha outro lugar pra morar por aqui?

— Ela é sua... O que? — O que tava acontecendo??

— Coreógrafa, baby — disse a outra mulher. — Aquela pessoa que cria passos de dança. Você sabe o que é dança, não é?

— E quem é você mesmo? — disparei.

— Hwasa. Empresária da Wheeinie.

— Espera. Então quer dizer que vocês se conheciam? E você — me virei pra Byul — não me disse nada?

— Eu não podia! Só Deus sabe o quanto eu quis te contar, mas todos nós sabíamos que você iria reagir de forma diferente se eu contasse.

— Mas espera aí! Como assim você me amava, Gabriella?

— Ah, mas só agora que ela notou. Palmas pra ela!

— Você era minha melhor amiga!

— E eu te amava como crush! — Ela parecia ofendida com o "melhor amiga". — Você nunca percebeu?

— Não — confessei envergonhada. Eu gostava tanto da amizade dela que nem pensei na possibilidade de que ela quisesse algo a mais.

Nossa discussão continuou por mais uns 15 minutos com algumas eventuais interrupções de Byul e Hwasa. Por fim, Gabriella concluiu que não daria em nada aquela conversa toda e saiu. Hwasa me olhou de cima a baixo e a seguiu. 

Fiquei tão arrasada por toda aquela revelação que fiquei dias com febre. Byul me pedia perdão todos os dias por aquilo. Sempre que ela tentava me contar, segundo ela, alguém a censurava ou eu interrompia com algum outro assunto aleatório. Todos, nossos pais e irmãs, sabiam do paradeiro da Gabriella e ninguém pode me contar. Enquanto sentia febre, meio que entendi o motivo de não quererem me contar sobre tudo.

Com muita relutância, perdoei oficialmente a Byul. 

Soube que Wheein e Hwasa ficaram famosas, mas não acompanhei nenhuma notícia delas. Byul me contou tempos depois que as duas estavam juntas, mas não me importava mais.

Sobre eu e Byul? Continuamos juntas, ainda sem assumir. Esperamos um pouco mais de tempo e coragem pra um dia contar aos nossos pais e ao mundo. Yonghee continou sendo a única de perto a saber sobre nós e nos apoiar.



Fim.

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