O SOM MAIS LINDO DO MUNDO

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Minha mãe limpava… o meu rosto com um pano molhado.
Depois de várias horas de sermão que ela me proporcionou, estávamos sentados na sala. Núbia tinha acabado de sair, provavelmente foi pra casa. Minha mãe e a mãe dela eram irmãs. O pano húmido deslizava sobre o meu rosto, os ferimentos ainda doíam, pensava no que aconteceu hoje
comigo. Foi a minha primeira flecha a ser lançada e eu falhei.

— Mãe! — Chamei por ela.

— Sim filho. — Respondeu minha mãe.

— Você também falhava os alvos mãe?

— Falhava. Mas desde o teu nascimento que eu nunca mais falhei.

— Por quê?

— Porque você é a flecha que eu coloquei no arco da vida e lancei para o mundo. Você espalha amor onde só
existe ódio, você cuida quando ninguém mais cuida. Você está sempre a acertar corações de forma certeira. Por isso eu nunca falhei um alvo.

— Você é a maior arqueira do mundo.

— E você a minha flecha. —Ela me abraçou muito forte. Meus ossos chegaram a estalar. Os braços dela eram o lugar mais seguro do mundo.
Mas eu precisava sair da conformidade.

— Você vai voltar pra lá não vai? — Perguntou minha mãe.

— Sim mãe, eu vou.

— E o menino que fez isso contigo?

—O que tem ele?

— O que você vai fazer com ele?

— Nada! Eu nunca deixarei o ódio dominar meu coração. — Ela colocou a mão em minha cabeça e sacudiu meu cabelo de um lado e pro outro.
A porta se abriu. Alguém entrou em casa. Caminhou para perto de nós e assustado gritou:

— Pelas flechas de Oxóssi! Meu filho. —Ele se aproximou, suas mãos começaram a tocar meu rosto. Eu sentia que minha mãe queria dizer. “Eu te avisei, você não me deu ouvidos. Agora olha o resultado” mas ela estava mais decidida em me apoiar sem importar qual seja a
minha decisão.

—Quem fez isso com você? Aonde Keita estava? —Ele parecia furioso pelo tom de voz.

—Não se preocupa pai está tudo bem.

— Não está! O treino seria tiro ao alvo e você aparece em casa com hematomas? — Ele largou meu rosto.

— Keita não teve culpa, ninguém teve culpa.

— Então foi um fantasma que fez isso com você?

—Não, eu não vi quem foi.

— Me diz quem foi logo!

— Não, eu não vi mesmo. Sou cego! —Não me segurei e comecei a rir das minhas próprias palavras. A risada aumentava cada vez mais. De repente
comecei a ouvir a minha mãe a rir também, continuamos a rir e meu pai não resistiu, aderiu a coisa e começou a rir também.

— Ah! Eu amo isso. — Me pronunciei ainda com um sorriso no rosto.

— Isso o quê? — Perguntou minha mãe.

KELLANOnde histórias criam vida. Descubra agora