DIA 1 PRIMEIRA SEMANA DE TREINAMENTO

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DIA 1 PRIMEIRA SEMANA DE TREINAMENTO

Na manhã seguinte voltei a acordar mais cedo que o mundo. Estava pronto para caminhar pro meio da floresta. Na noite passada depois de chegar a casa minha mãe surtou. Ficou preocupa e chorou. Eu expliquei tudo pra ela,menos a parte do senhor Xola. Eu disse pra ela que eu iria treinar sozinho na floresta dessa vez. Ela disse que é perigoso mas no final entendeu que uma floresta cheia de animais é menos perigosa que uma sociedade cheia de pessoas.

Então lá estava eu. Pronto pra sair de casa, de novo. O senhor Xola me disse para voltar sozinho. Mas minha mãe não me deixaria sair de casa sozinho de novo e eu não deixaria ela com o coração apertado de novo. As mães merecem o mundo e não um coração aflito. Então combinei com minha prima Núbia para me levar a floresta que ela me achou ontem.

— Vamos Kellan. — Disse Núbia a segurar minha mão.

Demos partida. Saímos de casa, subimos no cavalo e começamos a viajar através do vento. Minha prima é muito compreensiva. Eu pedi para ela não fazer perguntas e apenas me levar e foi exactamente isso que ela fez. Depois de um tempo senti o cavalo abrandar. Notei que havíamos chegado ao local. Desci do cavalo.

— Você pode ir.

—Tens a certeza Kellan?

—Sim. Absoluta.

Ela não voltou a questionar. Ouvi o cavalo dar partida e depois disso eu estava sozinho de novo no mundo. Mas dessa vez eu me sentia mais forte do que antes.

Caminhei devagar pelo norte. Deduzi que estava a entrar na floresta pelo simples facto de eu estar a descer. Mas
dessa vez com cuidado. Desci até sentir que cheguei a superfície onde o chão é recto.

—Está alguém aqui? — Perguntei. — Senhor Xola, eu vim para o senhor me treinar como prometido.Senti um soco atingir meu rosto. Caí no chão, me sentia tonto.

— Quem está aí? — Perguntei com a mão pra cima pra proteger meu rosto.

— Você não aprendeu nada. Criança. — Pela voz era o senhor Xola. —Eu já te disse para ficar em silêncio e ouvir o mundo ao teu redor.

— Me desculpa Senhor. Eu...— Levanta criança, antes que o chão vire um lugar confortável pra ti.—Levantei o mais depressa possível do chão me colando em pé.

— Antes de tudo saiba que teu treinamento já começou.

— Eu sei disso senhor.

— A perda de um sentido melhora os outros. A falta de visão trouxe novas conexões ao seu cérebro aumentando
assim a tua audição, olfacto, tato e as funções cognitivas como memória e linguagem. Me diz uma coisa criança: você nasceu cego ou tornou-se no percurso da vida?

— Nasci cego Senhor.

—Entendi. Vamos trabalhar com uma das tuas armas mais poderosas: a audição e a mente. Primeiro ouve e depois pensa, não se atrapalhe. Você consegue fazer isso?

— Sim senhor.

Me concentrei para ouvir mas tudo parecia um silêncio total. De repente ouvi o barulho de algo impactar o chão.

— Não se atrapalhe criança. Pense. Que barulho foi esse?

— O barulho foi pequeno.

— E?

—A coisa deve ser de tamanho pequeno.

— Para onde ela caiu?

— Para a minha direita.

— Não foi para esquerda?

— Não senhor, eu ouvi o barulho. Foi para direita.

— Certo. Você ouviu e depois pensou. É assim que tem que ser. Agora baixe e procure pela coisa. —Baixei é coloquei minha mão sobre a terra. Toquei em algo que parecia ser uma pedra.

— É uma pedra senhor.
Ouvi o mesmo som, o mesmo barulho só que desta vez caiu em outro lado.

— O que eu joguei pro outro lado criança? Pense rápido!

— Uma pedra.

— Agora você sabe o som de uma pedra impactando o chão. Vamos experimentar outros objectos. Exercitamos a mesma coisa diversas vezes. Vários objectos: Paus, pedras, ferros. Todo tipo de objecto possível.
Treinamos durante dias e quando me dei conta já tinham se passado uma semana e eu já dominava o som dos objectos.

KELLANOnde histórias criam vida. Descubra agora