EU SEI QUE VOCÊ ESTÁ AÍ.

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Lá estava eu dentro daquela floresta. Minha mente tinha gravado exactamente o caminho para alcançar o arco das sete flechas. A floresta estava silenciosa, o vento me dizia que nada se movia ao meu redor e eu poderia continuar a andar. Andei até o centro da floresta o vento me dizia que o arco estava bem na minha frente. Me aproximei dele, coloquei minha mão direita sobre ele e comecei a admira-lo. Peguei no conjunto das sete flechas e coloquei nas minhas costas, peguei no arco e troquei pelo meu. Em seguida ouvi um barulho de passos rápidos passarem atrás de mim. Me virei puxei uma flecha e apontei. O silêncio voltou.

— Eu sei que você está aí. — Comecei a dar passos silenciosos para me focar no barulho a minha volta. Ele estava ali, eu tinha a certeza. Ouvi o barulho baixo de uma lança se erguer. Ele era cauteloso, Já deve ter notado que sou cego. A lança veio em minha direcção, baixei rápido me virei na direcção do barulho e soltei uma flecha na direcção dele. A flecha impactou uma árvore. A Fera correu para o lado
esquerdo e atirou mais uma lança, desviei mas ele foi tão rápido que lançou outra a seguir que acertou meu braço esquerdo. A dor dominava meu braço, gritei mas eu sabia que não tenho tempo pra sentir dor, puxei a lança fora do meu braço, senti o sangue escorrer por ele. Ouvi o barulho de outra lança vir em minha direcção, me joguei pra esquerda e
ela atingiu o chão.

Ouvi passos se deslocar de um lugar pro outro, peguei a lança que estava no chão e atirei na direcção dele mas não atingi a fera. Ouvi passos virem a correr em minha direcção, peguei em uma flecha ajustei ao arco e lancei pro céu. A fera se atirou pra cima de mim e começou a acertar golpes no meu rosto, a flecha que foi pra cima caiu directamente nas costas da fera e ela gritou. Tirei uma outra do estoque e enfiei no peito dela. Me golpeou com os pés e eu caí pra trás, enquanto eu estava deitado peguei outra flecha coloquei no arco e acertei ele no peito.
Comecei a suspirar. Será que essa coisa morre? Será que é imortal? Pensamentos baralhavam aminha cabeça. Me aproximei da fera devagar, coloquei minha mão sobre o
corpo da fera. A respiração parecia a de alguém que está a ser asfixiado. Minhas mãos passavam pela sua barriga, a pele era humana, arrastei ela até o peito e toquei em um colar.

— Não, não, não! — Dizia eu enquanto passava minha mão no seu corpo. Eu reconheci a estrutura daquele colar.
Comecei entrar em pânico e coloquei minhas mãos no rosto, a estrutura do rosto era rija. Como uma madeira,
segurei nela e tirei, era uma máscara, e quem estava por detrás dela era o senhor Xola.

— NÃO! — Gritei.

Naquele momento toda selva ouviu meu grito, até os pássaros pois eles saíram a voar das árvores. Deitei a cabeça no peito dele. Ouvi ele se esforçar pra falar.

— Você… você foi muito bem criança. Sua respiração se tornou mais ofegante, ergui minha cabeça e coloquei as mãos na cabeça dele.

— Por quê? Eu não entendo senhor.

— Eu tinha… eu tinha… duas missões. — Disse ele lançando sangue pela boca.

— Minha… primeira missão era não deixar ninguém vencer este torneio. Minha… segunda missão era matar você.

— Por que os Deuses me queriam morto?

— Os Deuses? — Perguntou ele e em seguida deu uma pequena risada acompanhada de uma tosse e sangue. — Os deuses não têm nada a ver com isso. Eu fui contratado pra te matar em troca da vida do meu filho.

— O Senhor me disse que seu filho está morto.

—Não… ele participou do último torneio e matou… o verdadeiro Zebenjo, mas não se podia matar uma criatura divina então ele foi expulso da aldeia pelo antigo líder… mas eu tinha a chance de trazer ele de volta, bastava eu impedir que alguém vencesse… e te matar. Foi esse o trato.

—Por que você me treinou se você tinha que me matar.

—Eu… eu… achei que não seria justo matar alguém que me fazia lembrar meu filho, eu decidi te treinar e depois deixar a tua morte nas mãos dos deuses.

— Quem mandou me matar?

— Foi… — ele começou a vomitar sangue e foi aí que ouvi seu coração parar de bater.

— Não! Não! Senhor Xola acorda, acorda senhor Xola! — Eu gritava tais palavras enquanto mexia o corpo dele com toda força, ele precisava despertar, ele precisava voltar a vida. — Senhor Xola! — O mundo ficou em silêncio a minha volta nem meus próprios gritos eu ouvia, eu não sei descrever a dor que sentia. É mais fácil suportar a dor de si magoar que a dor de perder alguém.

— Se você quer algo bem feito faça você mesmo. Não é
isso que dizem? — Disse uma voz atrás de mim. Era a voz de meu pai.
Ouvi o barulho de uma flecha a ser ajustada em um arco. Ele se preparava para acertar em mim.

KELLANOnde histórias criam vida. Descubra agora