KELLAN

OKÊ ARO!

Na manhã seguinte estávamos todos de volta a arena. A segunda fase do torneio estava prestes a começar.
Dessa vez quem dirigia o torneio era a instrutora Ada.

—Bem-vindos a segunda fase do torneio. Só sobram trinta e cinco de vocês. Meus parabéns aos que chegaram até aqui. Nesta fase vocês terão que mostrar o espírito caçador
que há em vocês. Vocês estraram na selva, nós soltamos um número considerável de tigres dentro dela. Vocês precisam caçar e trazer pelo menos um para cá. —Todos ajustaram suas flechas e arcos.

— Saúdem ao grande orixá da caça antes de entrarem a floresta. — Ordenou a instrutora e em seguida todos começamos a falar em sintonia.

— Que a energia de Oxóssi esteja em cada flecha que eu lançar. Eu sou filho do arco e da flecha. Sou um Odé na
terra. A floresta é o meu reino. Em nome do arco e da flecha eu digo… “OkÊ ARÔ!”.

Começamos a correr todos em direcção a mata. todos se separaram cada um apanhou um trilha diferente inclusive eu. Quando já tinha caminhado durante um bom tempo
decidi parar. Estava no meio da floresta em silêncio. Lembrei do meu treinamento e me concentrei no som, fiquem em pé no meio da floresta, eu conseguia ouvir ela quase por inteira.

Ouvia os outros jovens correrem, uns a ajustarem a flecha e finalmente ouvi um som de respiração diferente a de um humano. Era um tigre. Comecei a caminhar em direcção do som quando ouvi uma flecha a ser libertada e a vir em minha direcção. Me agachei e ela passou por mim. Corri e me escondi em uma árvore.

— O que foi Kellan, Você está com medo? —Perguntou Ron. — Tua prima não está aqui pra te ajudar de novo, agora você é meu, seu lixo.

Ele ajustou a flecha ao arco, eu podia ouvir ela. Ajustei a flecha no meu arco e saí a correr da árvore ele lançou sua flecha em minha direcção mas eu corria tão rápido que ela falhou. Me joguei na frente e quando ainda no ar apontei a flecha pra ele, soltei e atingi o ombro dele. Caí no chão e rebolei. Me levantei e continuei a correr.
Meu foco não era o Ron mas sim o tigre então eu comecei a correr na direcção do tigre quando ouvi o Ron gritar por socorro.

Parei para ouvir o que se passava. Ouvia o barulho de dois corações baterem, o dele e o de um animal.
Provavelmente o de um tigre. Comecei a correr de volta ao Ron. Ouvi o tigre rugir, Ron não reagia apenas pedia por ajuda. O tigre se aproximou dele, peguei uma flecha o mais rápido que pude e lancei na frente do tigre. Despertei a curiosidade dele, ele rugiu pra mim mas sem sair da frente de Ron.

O tigre voltou ao Ron, rugiu e atacou. Não pensei duas vezes e me joguei contra o tigre. Meu corpo impactou o dele, fomos arremessados ao chão, foi tudo tão rápido que quando dei por mim o tigre estava em cima de mim. Colocou suas garras em meu peito e rasgou ele. Gritei de dor, Ron continuava intacto sentado sem se mover. Seu coração parecia estar em pânico. Agarrei uma flecha que estava no chão e enfiei na garganta do tigre.
Ele caiu pro chão. Sua respiração começou a diminuir aos poucos. Peguei o arco e a flecha que estavam no chão o mais rápido possível, coloquei uma flecha no arco, apontei
ao animal e lancei. Senti o coração dele parar de bater de vez.

— Você… Você…! — Ron estava em pânico nem conseguia dizer coisa com coisa.

— Tenta se acalmar! — Falei.

Coloquei a mão no peito e senti os sinais de arranhão. Senti o sangue em meus dedos, mas nada que impedisse de continuar. Ergui a cabeça e comecei a andar.

— E o tigre? — Perguntou Ron.

— Estou a deixa-lo pra ti e estou a ir atrás da minha presa.

— Mas foi você que caçou ele.

— Há uma diferença entre caçar e lutar. Eu não cacei este tigre, eu lutei contra ele para poder sobreviver e para te salvar. Eu fiquei com medo enquanto lutava… Oxóssi não se
orgulharia de mim se eu levasse esse tigre como troféu porque… Caçadores não temem suas presas.

Deixei Ron com o tigre e caminhei em direcção a minha verdadeira presa. Me escondi entre a floresta, eu podia sentir ele se mover devagar no meio da selva. Ajustei a flecha ao arco e apontei pra ele. Respirei fundo e me foquei no som de seu coração, o vento e o som me diziam exactamente onde
ele estava. Soltei a flecha ela foi em direcção ao tigre e atingiu ele mas ouvi o barulho de outra flecha colidir com o tigre.

— Quem está ai? — Perguntei enquanto me levantava.

— Minha flecha atingiu o tigre primeiro. Vai embora. —Disse Rafiki.

— Não, foi a minha.

— Você viu?

— Eu ouvi.

— Faremos o seguinte… — disse Rafiki enquanto ajustava a flecha no arco, eu sabia que ele estava a apontar na minha direcção. – Vamos lutar até a morte e o vencedor fica com o tigre.

— Baixa essa flecha Rafiki, o Kellan acertou primeiro, eu vi. —Disse Núbia. Ela estava a minha esquerda e a direita de Rafiki, eu conseguia ouvir o barulho do arco em sua mão a apontar pro Rafiki.

— Óptimo, reunião familiar. Eu sempre quis ser a ovelha negra da família. Gosto da cor preta, vou matar vocês os dois e passarei a ser conhecido como assassino de primos.

— Baixa a flecha Rafiki, O kellan acertou primeiro. — Disse Tau.
Parecia que ele e Núbia estavam a andar juntos.

— O futuro cunhado! Nossa isso está a ficar interessante. — Disse Rafiki.

— Podem baixar vossas armas e deixar ele com o tigre. — Respondi. — Eu caço outro.

— Não Kellan. — Disse Tau. — Já não há tigres vivos. Eram apenas cinco, eu matei um, Núbia matou um, você matou esse, o Rafiki também matou um, ele só quer que você saia do torneio.

— Ainda tem um tigre vivo mas eu acredito que já esteja morto. – Disse Tau.

— Eu acertei primeiro no tigre e ponto final! – gritou Rafiki.

—Não! — disse uma outra voz se aproximando com o arco posto na flecha. — Foi o Kellan que acertou. Era o Ron.

— Você está do lado dele agora. Seu idiota?

— Apenas solta o arco e deixa o tigre aí. Foi o Kellan que acertou primeiro.

— Imbecis! — Gritou Rafiki. — Vejo vocês na próxima fase seus…— Ele baixou o arco e começou a andar. Agradeci a Ron pela ajuda, ele disse que nem se comparava ao que eu fiz
por ele. Agradeci a Núbia e a Tau. Em seguida arrastei o tigre da floresta até a arena.

No final o veredicto foi dado. Apenas cinco tigres voltaram mortos da floresta. Todos os outros foram mandados pra casa. Apenas restamos cinco concorrentes.

—Meus parabéns aos cinco. — Disse a instrutora. —Amanhã será o grande dia, o dia que se vai realizar a última
fase do torneio. A aldeia toda estará aqui para assistir. Estejam pronto.

— Axê! — Disseram os três instrutores.

— Axê! —Respondemos os cinco.