cap 10

43 0 0
                                    


Estou em uma floresta, seu verde acizentado me faz lembrar bastante tanto dos livros quanto dos filmes de crepúsculo, já me inspirei várias vezes neles para desenhar, ela é densa e suas árvores são enormes, o ar úmido preenche meus pulmões... Mas por quê estou aqui? Olho em volta e não á qualquer trilha ou caminho para poder segui-lo, enquanto ando entre as árvores iluminada pela luz da lua vejo um pequeno brilho ao longe, o brilho tão familiar, sigo ele e lá estava, mais uma sombra de um símbolo flutuando no ar, o que significa dessa vez? Para que serve? Por quê sinto um desejo enorme de toca-lo? Estico a mão em sua direção, porém quanto mais perto chego mais distante fico dele. E então, tudo some.
Sinto um saco de gelo no travesseiro, minha nuca repousava sobre ele, olho de lado e o vejo, Jace estava dormindo, sua cabeça descansava na beira da cama e sua cabeleira loira caía sobre seus olhos, uma das suas mãos segurava a minha enquanto a outra estava esticada em minha direção, aparentemente segurando o saco de gelo, tento levantar a mão para tirar o cabelo do seu rosto, mas uma onda de dor percorreu por todo meu corpo, fazendo minha cabeça latejar, tento manter meus olhos abertos, mas não á como, e me entrego a sensação de um sono inebriante e profundo novamente.

Acordo novamente, dessa vez estava claro e lá estava ele, agora virado de costas em frente a janela, falando calmamente no celular, pelo menos é o que parecia, permaneço deitada o observando, não tô afim de sentir aquela dor horrenda de novo, então espero. Acabo escutando uma parte do que ele falara:
- O combinado era o seguinte, você á deixava em paz se eu ficasse com você, eu estava disposto a cumprir minha parte, mas e você? - ele agora passava a mão na boca - Não, não tem essa, então me explique que droga foi aquela ontem? - ele agora passava a mão no cabelo - Quer saber, que se dane, está acabado seu tipo de trato doentio, chega das suas criancices e seus joguinhos idiotas, tentei ser paciente, mas essa infelizmente não é uma das minhas virtudes - e então ele virou pra mim - Que seja. - e desliga. - Clary, você está bem?
Meus pensamentos estão totalmente bagunçados, o que eu acabara de ouvir? Que tipo de situação é essa? Porque estou aqui? Perguntas e mais perguntas se acumulavam em minha cabeça e então ele chama minha atenção novamente.
- Clary? - ele agora tocava no meu braço - Tá sentindo alguma coisa? - como em um reflexo me afasto do seu toque isso me custou uma dor no braço que me faz grunhir e fazer careta.
- Aí!
- Me espera aqui, não se levanta, por favor.
E então ele sai a passos largos do quarto, não perco a oportunidade e me levanto ainda tonta, minha cabeça pesava e eu me sentia exausta. Juntei o pouco de força que me restava e saí andando até a porta me agarrando nos móveis, mas antes que eu conseguisse ele chega.
- Por Deus Clary, eu pedi pra não se levantar! Se não por mim faça isso por si mesma. - diz colocando o copo na escrivaninha e se direcionando a mim, ele tenta pegar meu braço e a cena dele se beijando com a namorada simplesmente não sai da minha cabeça.
- Que droga Jace, me solta! - não tenho nenhum direito de ficar chateada e isso me deixa com mais raiva ainda, então puxo meu braço. Acabo piorando as coisas e me vejo mais uma vez caindo no chão, mas antes que eu perceba ele já havia agarrado na minha cintura e me erguido, nossos rostos agora estavam a centímetros um do outro.
- Você nunca facilita as coisas, não é mesmo? - seus olhos não desviavam dos meus e sinto meu sangue ferver, maldito efeito!
- Tá, me larga.
- Só se você não for cair, vem. - e então ele me leva de volta pra cama. - Toma isso. - ele me entrega um remédio e eu o tomo com água.
- Hm, valeu.
- Está sentindo alguma coisa além da dor no braço? - diz preocupado.
- Quem eram aqueles caras? - ele olha pra mim.
- Por que não me disse que achou algo estranho?
- Como eu vim parar aqui? - digo com irritação.
- Vai me responder ou vai ficar nesse jogo de perguntas? - sua expressão estava neutra.
- E que tal se você me respondesse primeiro? - ele continua me analisando e quando vê que não vou ceder ele responde depois de uma breve pausa.
- Eu não faço ideia de quem são aqueles caras, mas agora você está segura e é isso que importa.
- Por que fizeram aquilo comigo? - insisto e ele suspira.
- Pelo que parecia, achei que quisessem abusar de você e...
- Chega de mentiras! Abre o jogo. O que está acontecendo? - ele não demonstra nada, sua expressão ainda é neutra.
- Do que está falando? - fala, o cansaço estava tomando conta da sua face.
- Sobre que acordo era aquele? Deixar quem em paz? A troco de quê? - aquele seu olhar estava me irritando - Vamos lá Jace, nada que acontece ultimamente é normal, você acha que eu não observo as coisas? - ele não diz nada - O lance da academia ser apenas de vocês é estranho.
- O fato de sermos ricos e financiar uma cademia apenas para nós é estranho pra você? - diz com uma voz zombeteira.
- Tem o acidente com meu irmão, tem o incidente com o Alec no qual ele me salvou, a Izzy agindo estranho... Qual é, quando estou com vocês sinto que sempre me escondem algo, que sempre estão a 10 paços na minha frente. Por favor, apenas... Me diz. - ele agora estava considerando.
- Ok... Mas primeiro se acalma e me deixa cuidar de você, essa é a única condição e responderei todas as suas perguntas. - eu assinto e ele pega o quite de primeiro socorros.
- Quem eram aqueles caras? - pergunto mais uma vez.
- Eles queriam te sequestrar - diz enfaixando meu braço.
- Por que? Aí! - ele olha pra mim, com cautela.
- Desculpa.- volta a enfaixar e responde - Você tem algo que eles querem.
- Como assim? O que eu tenho? - agora ele passava água oxigenada na ferida da minha testa depois de ter retirado um bandeide que eu não havia notado que estava lá antes.
- É oque queremos descobrir tambem - agora ele estava colocando outro curativo- É algo que está bem aqui - diz tocando minha cabeça, seu rosto a centímetros do meu e logo se afasta.
- Como eu vim parar aqui? - ele agora pegara o quite de primeiro socorros e foi para minhas costas, quando ele toca na minha nuca eu me encolho e ele recua.
- Eu dei uma surra neles e te trouxe pra cá. 
- E onde eles estão agora?
- A Izzy e o Alec estão cuidando daqueles vermes. - na sua voz havia ódio suficiente para corta-los apenas com suas palavras, enquanto fazia algo na minha nuca, eu podia sentir sua respiração em meu pescoço e me mexo desconfortável.
- Se você me trouxe pra cá, então simplesmente abandonou a festa? E sua namorada? - ele de repente para oque estava fazendo e agora me encarava pelo espelho a nossa frente, um lampejo de sorriso surge na sua face.
- Quer dizer que você quase foi raptada, está toda quebrada e nesse momento é com isso que está preocupada? - pergunta incrédulo e por fim responde - Nós terminamos.
Um tipo de felicidade aflorava dentro de mim mas meus pensamentos ainda estavam totalmente bagunçados, ela na mesma hora evapora e é tomada por raiva e frustração.
- Entendi... - eu me levanto e ele fica ali me observando.
- Tá indo pra onde? - pergunta sem entender nada.
- Vou pra casa - ele me segue.
- Você não entendeu nada do que eu disse? Tentaram te sequestrar Fray! E além disso você não está em condições de dirigir um carro.
- Isso tudo parece loucura e eu não estou preparada pra engolir isso ainda. Pessoas querem me sequestrar e fazer sabe lá Deus oque comigo. Vocês estão me escondendo isso a quanto tempo? Foi por isso que se aproximou de mim? Vocês são se quer meus amigos de verdade ou só estavam fingindo o tempo todo? - ele tenta me segurar e o esforço de me soltar me faz estremecer de dor.
- Clary, espera, por favor me escuta. - diz, mas não dou ouvidos.
- O que acha que sou pra vocês? Eu tinha o direito de saber! Por que estão fazendo isso comigo? Como posso confiar em vocês? - Agora estávamos parados na sala.
- Você tem que confiar na gente, por favor Clary entenda.
- Não Jace, não dá pra entender, a quanto tempo me escondem isso? - ele suspira e gesticula com os braços.
- Eu descobri recentemente... Á 2 anos atrás. - suspiro.
- Então era por isso que me Stalkeava? Era por isso que tinha tanto interesse em mim? Não passava de seu dever? - seus olhos balançaram.
- Não, não é isso, não entenda errado. - agora eu passava a mão no meu rosto, tentando acordar, tentando entender tudo aquilo - A gente ia te contar Clary, mas não era pra ser agora. - continuou ele.
- Quando?- ele continua me encarando - Juro que estou tentando processar tudo isso Jace, mas não sai da minha cabeça o fato de que gora por causa disso, não sei quem eu sou, o que tenho, porquê me querem e porquê me protegem. Você faz ideia do que estou sentindo agora? É como se minha identidade tivesse simplesmente se perdido - ele abre a boca e fecha repetidamente, procurando palavras.
- Eu...
- A morte do meu irmão... - depois de longos 3 segundos ele fala.
- Era pra ter sido você - diz, baixo e cautelosamente.
É como se o chão sobre mim estivesse desaparecendo, desabo de joelhos e lágrimas surgem sem que eu perceba, agora tudo fazia sentido.
- Meu Deus, o Jonathan... É tudo minha culpa. - tento sufocar a dor com minhas mãos, mas os soluços insistiam em escapulir e sinto seu abraço.
- Clary, não é sua culpa - suas mãos agora acariciavam meu cabelo e ficamos ali de joelhos, no chão frio de uma casa cheia de lembranças minhas e do Jonathan.
Depois de um tempo me recomponho, minhas pernas estavam dormentes, me ponho de pé cambaleando e vou mais uma vez em direção a porta,  ele faz sinal de querer me seguir e eu o impeço.
- Quero ficar sozinha - digo sem olhar pra trás, pego umas chaves que estavam penduras na parede, logo vi que eram as minhas por conta do chaveiro de um orangotango que o Jonathan havia me dado, me viro e pego meu celular que estava no sofá.
Sinto seu olhar seguir cada passo meu ao sair pela porta, parece que nada disso era real, meus pensamentos não davam trégua, pego meu carro e vou para casa.
  Provavelmente ele já tinha contado a Izzy, meu celular não parava de vibrar, paro na garagem de casa e o desligo, entro e a casa estava do mesmo jeito, mas a sensação de que alguém tivesse passado por lá não saía de mim, sou bastante detalhista e não acho que havia deixado a porta do cômodo aberta, pego o celular fixo, ligo pra mãe e ela atende.
- Alô? - sua voz estava rouca, parecia cansada.
- Mãe, você veio na minha casa? - pergunto rispidamente.
- Clary! - fala com alívio-  Onde você está? Não atendeu nenhuma das minhas ligações, fiquei preocupada.
- Eu sei mãe, desculpa, não tinha visto, estou em casa agora.
- Você está bem? Aconteceu alguma coisa? - pergunta e antes que eu responda ela fala - Não dá, vou aí.
- Espera, mãe? - então ela desliga e em questão de 50 segundos já entrava pela porta.
- Você está horrível, o que aconteceu? - fala tocando minha ferida e meu braço, o que me faz estremecer de dor.
- Não foi nada, estou bem, eu juro, é só que... Acabei bebendo vinho demais e caí, dormi na casa de Izzy. - rezo pra que ela acredite ou pelo menos finja acreditar, não quero colocar ela no meio disso tudo.
- Você nunca foi de beber desse jeito, está acontecendo alguma coisa? - diz preocupada - Tem algo te incomodando.
- Não mãe, não se preocupe, eu estou bem. - e sorrio.
- Você continua mentindo na cara dura - ela olha com os olhos cerrados pra mim, mas falava calmamente - Caso contrário eu já teria dado uns tapas se soubesse que estava bem, sei que não está, mas se não quer dizer... Tudo bem, há sempre uma razão pra tudo que você faça. - diz ao pegar na minha mão me confortando, minha tenção diminui e eu relaxo.
 - Veio aqui enquanto eu estava fora? - ela me olha reconhecendo que havia esquecido de responder.
- Não, desde que Izzy me ligou dizendo que você estava com ela não me preocupei em vim aqui olhar. - diz, seus olhos me analisavam - Por que?
  - Por nada, só achei que teria vindo. - e então olho para a porta entreaberta do cômodo.
- Sei.
- Mãe - ela olha pra mim - Já se sentiu como se estivesse perdida, como se não se reconhecesse mais, como se não pudesse confiar em ninguém ao seu redor? - digo, e sua feição muda.
- Que foi? É alguém próximo? É um rapaz? - vacilo por um momento e então ela decifra - O que essa pessoa fez?
- É só que... Conheço essa pessoa a pouco tempo... Mas acabei descobrindo coisas que me fazem questionar ela.
- Que tipo de coisas?
- Coisas como me proteger excessivamente, me esconder histórias...
- Dependendo da forma como te trata não acho que á razão para desconfiar. - olho pra ela incrédula.
- Mas...
- Se você parar pra pensar talvez para essa "pessoa" fosse a única maneira de estar ao seu lado e te fazer ficar despreocupada, sempre te apoiando e protegendo, que pecado ela poderia ter cometido? - continuo em silêncio, considerando suas palavras - Querida - suas mãos acariciavam as minhas - As vezes algumas coisas são melhores quando não ditas.
Direciono meu olhar a ela, seus olhos estavam intensos, quase como se estivessem implorando para que eu entendesse, para que analisasse com todo cuidado e apenas isso me convencera.
- Tá, vou pensar. - o canto da sua boca estava levantado em um pequeno sorriso - Vou tomar banho.
- Tá, vou ficar por aqui mais um pouco, não aguento mais olhar pra essa cozinha nesse estado - olho ao redor e realmente estava um pouco desarrumada, assumo - Tenho que fazer algo a respeito disso.
Ela se levanta e vai pra cozinha, enquanto eu subia as escadas paro e me volto pra ela.
- Mãe... - ela me olha com as sombrancelhas arqueadas - Não sou só eu que estou uma bagunça, seus olhos estão com grandes olheiras e seus cabelos... Nossa... Que qui é isso? - ela faz sinal de jogar o pano em mim e então sorrio e subo.
Faço minhas higienes, parece que fazia bastante tempo desde que tomei um banho. Meu corpo relaxa e minha mente esvazia, é como se nada tivesse acontecido, como se eu fosse alguém normal, apesar dos arranhões estarem ardendo era reconfortante se sentir em casa.
Desço e lá estava ela, preparando presunto e mais alguns acompanhamentos. Ela me vê chegar.
- Quanta demora, já estava ficando preocupada. - diz experimentando um pouco do caldo de uma panela.
- Tava precisando lavar o cabelo - falo enquanto secava meu cabelo com uma toalha e vou beliscar os cookies que estavam na mesa.
- A! Quase esqueci de falar, um Sebastian ligou - me engasgo.
- O que!? - e deixo o cookie cair no chão.
- Acabei de limpar aí e é isso que você faz? - me olha com desaprovação - Quem é ele? Ele disse que chegaria daqui uma hora e meia.
Olho o relógio e já passavam das 5:30pm.
- Meu Deus! Esqueci completamente - exclamo e vou as "preças" para meu quarto, não conseguia me mover tão rápido mas mesmo assim me esforço.
- E vê se dá um jeito nessa sujeira que fez quando voltar.
Meu braço latejava um pouco mas me esforcei para no mínimo deixar meu cabelo apresentável, solto mesmo, passo um batom simples, e um hidratante. Visto uma roupa melhor do que o calção que estava usando. Short jeans e uma blusa preta com mangas longas.
Espero que ele não venha arrumado demais, ou irei querer enfiar minha cara no chão. Volto pra cozinha, mas minha mãe já havia ido, a mesa estava pronta e encima tinha um bilhete.

Dias turbulentosOnde histórias criam vida. Descubra agora