V - Sangrar para curar

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Voltei até antes do que eu esperava, vim pra alegrar esse domingo de vocês com os baby's.

Boa leitura!

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Embora Fuyumi alegasse que Shoto não precisava ir para a escola, o caçula decidiu que iria, pois não via sentido em ficar em casa fazendo nada enquanto pensava na morte da mãe. Aquilo não a traria de volta, assim como não mataria Enji — a menos que Shoto tomasse a atitude e o matasse, coisa que não faria pelo bem de seu futuro como herói —, portanto não havia porque perder mais dias de aula. 

Assim sendo, levantou-se cedo na segunda e seguiu a monótona rotina: limpar-se, arrumar-se, alimentar-se e sair pontualmente. O jovem caminhou de forma lenta pela cidade, observando a bruma gélida se dissipar de forma preguiçosa para exibir um sol ainda tímido. 

Evitou por toda manhã qualquer coisa que lhe mostrasse seu reflexo, desde o espelho do banheiro de casa até os vidros dos carros na rua. Não queria se encarar, não queria ver sua maldita queimadura e relembrar o surto de sua mãe, ou a sensação de culpa irracional que o tomava sempre que pensava no ocorrido. 

Nada fugiu ao normal até que Shoto enfim chegou na sala de aula. Ele foi surpreendido por vários colegas de classe inquietos que perguntavam de forma preocupada o motivo de sua ausência por três dias seguidos. Aliviado ao perceber que ninguém sabia o que realmente acontecera, ele inventou uma história sobre gripe seguida de febre e encerrou o assunto. Não tinha motivos para revelar a verdade, até porque não estava muito a fim de ficar recebendo olhares de pena e pêsames dos colegas. Nada daquilo faria sentido, nada daquilo traria Rei de volta. 

Imensamente grato pela chegada de Aizawa, Todoroki voltou sua atenção para os materiais e para aula que se seguiu. Ignorou os olhares de Izuku e de Ochako, que pareciam não ter acreditado em sua história. 

E, de fato, ele não se importava muito. Nada mais lhe importava muito, porque de tudo que Todoroki poderia pensar, só uma coisa realmente parecia ter espaço em sua mente: Rei não iria voltar, e mesmo que ainda acreditasse que aquilo fora o melhor para a mãe, o garoto não conseguia deixar de pensar nela. Ou no quanto gostaria de lhe fazer companhia no além mundo. 

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Izuku sabia que a história de gripe e febre era uma mentira. Nemuri não teria lhe dito aquelas palavras se o problema de Shoto fosse um monte de catarro escorrendo do nariz e temperaturas acima do normal. Não que gripes e febres não fossem ruins, nada disso! Mas definitivamente elas eram algo insuficiente para despertar a preocupação de MidNight, que vivia zombando do quanto seus alunos eram uns frangotes. 

Embalado pelas suas conjecturas e teorias — todas apontavam um indicador acusatório para Enji —, Izuku se manteve afastado dos amigos durante os breves intervalos entre as trocas de aula, fingindo estar concentrado em lições e anotações. Ele estava pensando em como diabos poderia oferecer apoio quando sequer sabia o que tinha acontecido quando viu seu caderno de poesias e parou por um longo momento, contemplando-o. 

Quando não sabia como proceder, Midoriya escrevia, porque era a única coisa que podia fazer mesmo quando o mundo era uma eterna interrogação gigante sobre seus ombros. 

Sorrindo, ele apanhou o caderno e o abriu em uma página aleatória e limpa, começando o rascunho de algum poema. Afinal, se nada parecia certo ou bom o bastante para algum momento da vida, a resposta para ele sempre estaria na poesia. 

Poeta anônimoOnde histórias criam vida. Descubra agora