XX - O tal poeta anônimo

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Atrasei uma semana, perdoem essa desorganizada alma! Não me vou demorar muito, então boa leitura.

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A festa já tinha acabado há algum tempo, e o silêncio reinava nos corredores escuros e vazios dos dormitórios enquanto Shoto mancava por eles, o pé esquerdo reclamando por ter sido violentado no caminho, tendo seu mindinho atacado por aquele sofá estúpido.

Talvez tivesse sido a percepção repentina de suas emoções que o deixara abobalhado daquele jeito, tropeçando nas coisas, cambaleando pelo caminho e resmungando feito um velho - se bem que essa última era uma mania recorrente, não tinha exatamente a ver com sua paixonite. Quando alcançou seu quarto, Todoroki fechou a porta com um pontapé e se jogou na cama - tradicional, para que ele nunca mais corresse o risco de rachar seu crânio caindo dela.

Embora estivesse cansado pelo dia de mudanças e de socialização, Shoto não conseguiu fechar seus olhos para dormir. Seu corpo ainda experimentava aquela adrenalina estranha que ocorrera quando seu olhar encontrou a tempestade brilhante de Midoriya. Em algum lugar da sua mente, uma alteração nas suas informações antigas ocorria: as estrelas não existiam somente no céu, elas existiam também no rosto de Midoriya, nos olhos e nas sardas que lembravam poeira estelar. Ochako realmente estava certa sobre as respostas que um olhar poderia conter, o jovem precisava dar crédito para ela.

Todoroki pensou em como queria traçar aquelas manchas com seu dedo, sentir a energia mágica que elas provavelmente exalavam. Era como uma bela pintura, e de repente Shoto entendeu o que era desejar ser um detalhe em tão bela obra de arte. Será que Midoriya sentia algo parecido com relação a sua queimadura? Isso o fez lembrar dos poemas, daquelas palavras tão doces e provavelmente dedicadas a si com muito amor e carinho e...

Shoto levantou-se da cama num salto, assustado. Não tinha parado para pensar nos poemas até aquele momento, tão imerso estava em sua fantástica descoberta. Quem quer que fosse a pessoa que enviava aqueles post-its para si devia estar cultivando os mesmo sentimentos que ele descobriu cultivar por Midoriya, talvez estivesse até criando esperanças de que seria retribuída - afinal, ele ficava andando com as poesias para cima e para baixo no bolso, como um tolo.

Pensar na pessoa que lhe escrevia e que provavelmente ficaria decepcionada com a descoberta de que ele já era apaixonado por alguém o fez pensar em outra questão preocupante: Midoriya poderia muito bem se sentir assim com relação a ele, incapaz de corresponder seus sentimentos. Como Shoto lidaria com algo assim? Para começo de conversa, como ele exporia sua situação se mal podia manter um diálogo devido aos seus problemas de socialização e principalmente dificuldade em expressar sentimentos?

Balançando a cabeça em negativa, Todoroki expirou fortemente, decidindo que iria resolver um coisa de cada vez. Primeiro, daria um jeito de descobrir quem mandava as poesias e o porquê delas, então agradeceria, mas deixaria claro a impossibilidade de retribuir qualquer sentimento romântico que estivesse sendo cultivado. E somente após dar esse passo ele pensaria em como abordar Midoriya, se é que ele realmente ia conseguir fazer isso.

Decidido, voltou-se para sua cama e deitou, cobrindo-se até o queixo. Tateando o bolso, ele agarrou o poema e sorriu com carinho, agradecendo silenciosamente enquanto se esticava uma última vez para depositar o papel na gaveta da mesa de cabeceira, guardando-o. Não precisava mais dele abaixo de seu travesseiro como um amuleto, pois já tinha o melhor deles na mente: a lembrança daquelas estrelas brilhantes que ele podia contemplar sem precisar levantar o olhar para o céu.

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Izuku estava surtando, literalmente. Rodando como uma barata tonta envenenada em seus últimos momentos de vida, ele andava em círculos pelo quarto, os passos ecoando furiosamente enquanto seus neurônios eram queimados ao tentar formular um plano eficaz para não atacar Shoto e beijá-lo do nada em horário de aula ou durante o café da manhã ou qualquer hora que eles dividissem o mesmo espaço juntos.

Poeta anônimoOnde histórias criam vida. Descubra agora