Capítulo 1

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Loren

     Levantei ofegante e molhada de suor, outra vez, mais um maldito pesadelo, olho no relógio ao meu lado que marca 3:45 da manhã, a meses não durmo bem, desde que sai daquele inferno achei que isso mudaria, bom, acho que faz anos que não durmo bem.

Sempre com medo depois de...tudo, ainda sinto o medo correndo em minhas veias quando acordo depois de um pesadelo, era horrível, aquilo parecia tão real, chegava a doer nos ossos, e o pavor, a agonia.

   Caminho devagar ate o banheiro e me jogo embaixo do chuveiro, logo após me visto pra correr, sei que não dormirei mais. Não com flashes das surras que levei em minha mente, me assombrando como um fantasma, mesmo depois de um ano e meio desde que sai das mãos do Marcus ainda sofro como se tivesse sido ontem, faço terapia, voltei a trabalhar e na frente da minha família finjo estar bem e feliz, e de fato estou, mas não totalmente, tenho medo, parece que a sombra daquele que me fez tanto mau me acompanha pra nunca me deixar em paz, mesmo depois de tanto tempo.

   Caminho devagar pela casa silenciosa, não queria acordar ninguém e preucupa-los com meus problemas, todos ficariam loucos se soubessem que os sonhos são mais frequentes do que deixo transparecer, nem sempre eu conseguia mentir, principalmente para meus pais.

  Caminho pela trilha na propriedade onde cresci pensando que preciso do meu próprio lugar, um apartamento ou uma casa quem sabe, meus pensamentos me levam longe, para bairros, decoração, cores, quando dou dou por mim já estou correndo.

Corro cada vez mais rápido, não sei quanto tempo corri mas o dia está amanhecendo, minhas pernas estão bambas e meus pulmões gritam pedindo ar, só então paro respiro e volto pra casa, pelo menos eu tinha me distraído, era melhor do que ficar deitada pensando nas coisas ruins que já me aconteceram, e no que eu poderia ter feito de diferente.

Assim que alcanço a casa encontro meu pai a minha espera na porta com duas xícaras de café na mão, um roupão por cima do pijama e um sorriso afetuoso.

-Bom dia querida.

-Bom dia papai. – Digo retribuindo seu sorriso.

-Pesadelo de novo? – Pergunta-me já sabendo a resposta, não tinha muita opção a não ser dizer a verdade, pelo menos para ele.

-Sim, não consegui mais dormir então sai pra correr, vou tomar um banho e me aprontar pra dar aula, tenha um bom dia eu, e obrigada pelo café, eu te amo. - Grito enquanto subo as escadas.

- Também te amo querida.

   Senti todo o meu corpo relaxar com a água quente e como era cedo passei mais alguns minutos no banho, me vesti sem pressa e tomei café com minha mãe antes de dirigir até a escola de artes em que dava aulas.

  Sempre fui apaixonada por dança, não sei bem quando comecei mas nunca parei até me casar, quando fui obrigada a parar, agora voltei a dançar e dar aula de balé a crianças, acho que em parte elas e a dança me dão força para continuar e seguir mesmo com meus demônios.

Entro em minha sala, o faxineira estava dando os últimos retoques na limpeza dos vidros, troquei algumas palavras gentis com e ele antes que saísse me desejando um bom dia.

  Uma a uma as crianças vão chegando e me abraçando, sem dúvidas aquela era a melhor parte do meu dia, eu amo dar aulas e amo as crianças, e me sentia sortuda por ter o carinho delas, era confortável e doce.

  Não é fácil voltar a confiar nas pessoas depois do que passei, eu sofri violência do homem que jurou me amar e proteger, isso é algo que te destrói, te faz não querer mais ficar próxima de ninguém, é doloroso e frio.

Mas não com as crianças, elas são puras e felizes, são um bálsamo pra alma.

  Assim que término a aula vejo várias mensagens e ligações perdidas, decido retornar a primeira que vejo, da Aileen, depois de alguns toques ela atende.

-Achei que não me retornaria, sabe que tem um lugar reservado no inferno pra quem ignora grávidas?

  Dou um sorriso, foi uma surpresa quando Aile descobriu que estava grávida, a família ficou radiante e Matt eufórico, achei que ele fosse desmaiar, agora ela usa a gravidez como chantagem pra tudo, típico dos Immers, eu não sei o que seria de mim sem Aile e Scarlet, elas foram meus pés e mãos em muitas ocasiões, principalmente quando as pessoas falavam sobre meu casamento fracassado sem saber a verdade, pessoas são muito cruéis às vezes.

-Desculpe, estendi a aula por mais meia hora, sabe como são as crianças, não consigo dizer não a elas.

- Sim, sei... Que Deus me ajude. - Diz soltando o ar.- Vamos almoçar juntas, te espero em meia hora no restaurante de sempre, não se atrase.

  E desligou sem esperar resposta, eu poderia ligar e gritar com ela, eu odiava quando as pessoas faziam aquilo, mas não era do meu feitio gritar e não quero ir pro inferno por assustar uma mulher grávida, então apenas me troco entro no carro e me dirijo ao restaurante de sempre.

   Quando consegui fugir e pedir ajuda a minha família, mesmo estando segura, fiquei meses despressiva, não saia, quase não via ninguém, só tinha contato com pessoas que iam a casa do meu pai e mesmo assim não falava muito.

  Eu tinha sessões constantes com psociólogos, no começo três vezes por semana, mas a medida em que fui avançando, essas consultas foram diminuindo, agora uma vez por semana, os pesadelos estão menos constantes e eu mais confiante a cada dia, um passo de cada vez, é o que sempre digo.

   Superei o medo, eu não conseguia ficar sozinha, sempre achando que algo aconteceria ou que alguém fosse me machucar, principalmente homens. É um processo lento e torturante, mas com a ajuda certa tudo caminha a seu favor, e eu tive toda a ajuda psicológica que me foi oferecida, é importante aceitar a ajuda.

   Ainda não estou pronta, mas eu um futuro próximo pretendo ajudar mulheres que sofrem o mesmo que sofri, senti na pele o que era ser humilhada de todas as formas possíveis, e como as pessoas ignoram porque não querem "se meter" entre o casal.

   As pessoas são hipócritas e egoístas, todos os dias, em todos os lugares, pessoas sofrem de diferentes formas e as pessoas fingem não ver. De nada adiantou meu nome, meu dinheiro ou minha bondade, eu caí mas garras de uma pessoa ruim que me machucava por prazer, e isso te deixa uma ferida na alma bem difícil de curar.

Loren - Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora