Lídia, Marga, Carlota e Óscar podiam ouvir a própria respiração enquanto estavam sob a mira de pelo menos uma dúzia de fuzis. Estavam em completo silêncio, mas sabiam muito bem o que deviam fazer: cair sem lutar não era uma opção. Talvez morressem, talvez de fato aquele fosse o fim de suas trajetórias, mas queriam deixar o mundo com a certeza de haverem esgotado todas suas opções.
Um dos soldados fechou um dos olhos e precisou melhor sua mira. Lídia ergueu a mão com que empunhava o revolver e manteve a cabeça erguida. Aquele era seu meio de dizer que não estavam dispostas a aceitar a derrota. Carlota e Óscar também apontaram as armas. Marga, apesar das mãos trêmulas e olhos que jorravam lágrimas, não hesitou em fazer o mesmo.
Apenas cinco segundos haviam passado desde que deixaram a cabana, mas a sensação era de que anos haviam transcorrido.
Quase ao mesmo tempo em que os gatilhos foram acionados, uma voz familiar surgiu de algum lugar próximo.
– Soldados, abaixem as armas! Não atirem! Abaixem já as armas! – exigiu a voz conforme se aproximava rapidamente.
Carlota, Óscar e Marga olharam para o lado. Lídia manteve-se imóvel, como se tivesse se convertido numa estátua. Ela reconhecia a voz, mas não podia acreditar que aquilo era verdade. Havia ouvido uma vez que o corpo humano reage de maneiras estranhas quando submetido à situações extremas, e com certeza aquilo não passava de uma alucinação. De uma doce alucinação.
– Eu repito: abaixem já as armas. Eu tenho ordens para levá-las vivas a Madrid. Estão me ouvindo. Abaixem agora mesmo as armas! – insistiu a voz.
Os soldados enfim obedeceram a ordem dada. Os fuzis, antes fixos em seus corpos, agora miravam o chão. Marga não resistiu à emoção e desmaiou, a arma que segurava ficou presa a ponta do seu dedo. Carlota e Óscar, incrédulos, resolveram ajudar Lídia: a única que não havia se movido e ainda trazia a arma em punho.
– Lídia, é ele – disse Carlota, num sussurro vacilante, enquanto ajudava Marga. – Ele está aqui.
– Vai ficar tudo bem – Óscar avisou, tirando a arma da mão da amiga e abaixando seu braço. – Ele veio nos salvar.
Lídia teve certeza que já estava morta.
Só havia uma explicação: com pena de seu trágico fim, Deus havia poupado a ela e seus amigos de sentirem as dores de ter o próprio corpo transformado numa fonte viva de sangue. Agora estava no paraíso, e enfim seus dias de sofrimento haviam chegado ao fim.
– Coronel Cifuentes, as ordens que recebemos foram de matá-las. As querem mortas – disse um dos soldados.
– São ordens desatualizadas, soldados. Por isso estou aqui. Querem as quatro vivas. Para que possam receber uma pena a altura do crime que cometeram.
Presa no próprio delírio, Lídia enfim permitiu-se olhar na direção da voz. Não acreditou quando seus olhos encontraram os olhos dele: Carlos Cifuentes, trajando o uniforme do exército nacionalista.
Ele aproximou-se delas como se não as conhecesse. Seus olhos estavam cheios de lágrimas, mas de algum jeito ele não conseguiu derramá-las. Marga já estava acordada novamente e, com a ajuda de Carlota, tentava recuperar o fôlego.
– As senhoras estão detidas – disse o Coronel Cifuentes, tentando soar austero. – Agora serão transferidas a Madrid e julgadas por terem participado da fuga coletiva na penitenciária de Aranjuez. Bem como pelo roubo de um vagão de trem e pela morte de Dona Carmem Cifuentes, a minha mãe, que foi encontrada com um tiro na cabeça no pátio do presídio.
Ao terminar a frase, Carlos piscou para Óscar e Carlota, que pareciam estar lidando melhor com a situação. Depois ele virou aos soldados que o acompanhavam:
– Leve as detentas ao caminhão.
Os soldados avançaram sobre Lídia, Carlota, Óscar e Marga e as levaram para o veículo que as esperava.
Um dos homens parou ao lado do Coronel.
– Coronel Cifuentes, há pessoas esperando pela gente no lugar onde devemos chegar?
– Sim, eu mesmo me certifiquei disso. Só cheguem lá em segurança. Eu irei pra lá assim que puder – ele respondeu num tom baixo.
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As Telefonistas: Uma Nova Chance
FanfictionQuando Lídia, Marga, Carlota e Óscar pensavam ter chegado ao fim de suas vidas, uma pessoa do passado retorna e dá a eles uma nova esperança. Trata-se de Carlos, que escapou da morte e agora serve ao exército nacionalista, vencedor da Guerra Civil...