Depois da partida de Carlos, Lídia viveu seu pior momento desde que havia chegado a Buenos Aires. Enfim estava sentindo o peso da mentira que carregava. E da dúvida que sentia profundamente em seu coração. Depois de um curto período de relativa paz e tranquilidade, era a hora de enfrentar os fantasmas que insistiam assombrá-la.
Não era justo com Carlos deixá-lo esperando por um amor que podia jamais acontecer novamente. Assim como não era justo com Francisco não contar a verdade sobre o que viveu com Carlos enquanto fugiam. Muitas feridas já haviam sido abertas por conta deste triângulo, e agora era necessário agir com verdade e responsabilidade.
Naquela mesma noite, antes de que se deitassem, Lídia enfim chamou Francisco para uma conversa. E ele imediatamente pressentiu que notícias ruins se avizinhavam.
– Francisco, eu quero começar essa conversa te pedindo desculpas por ter agido como agi – disse enfim, e lágrimas brotaram de seus tristes olhos. – Eu deveria ter te contado tudo assim que nos reencontramos, logo na primeira noite, mas eu fui fraca. Eu não consegui.
Francisco apenas a olhava desconfiadamente enquanto falava.
– Durante a fuga – hesitou. – Durante o tempo que passamos fugindo da Espanha, e depois na viagem entre Casablanca e Buenos Aires... Eu e o Carlos ficamos juntos algumas vezes. Eu sei o quanto isso foi errado, nós somos casados e eu não devia ter traído os votos que fiz. Mas foi mais forte que eu. Eu não consegui me controlar, e por isso eu te peço perdão.
Francisco sentiu-se como se uma bala tivesse sido disparada contra ele à queima roupa, perfurando seu coração. Levantou-se num gesto ligeiro e passou a caminhar de um lado para o outro em meio ao silêncio sepulcral que havia se instalado. Angustiada, Lídia voltou a falar.
– Francisco, eu juro que tentei evitar. Mas a situação que nós estávamos vivendo, a sensação de que ele estava me protegendo e de que tinha salvado a minha vida... Eu te peço perdão, eu sei que/
– Lídia – ele interrompeu. – Eu já sabia. Ninguém me contou, ninguém precisou me contar. Eu estava sentindo que ainda havia algo de errado entre nós e cheguei à conclusão de o nome desse algo errado era Carlos Cifuentes.
– E você me perdoa? – ela questionou, ansiosa.
– Antes que eu possa responder essa sua pergunta, preciso fazer uma pergunta minha. Você quer ser perdoada? Porque você não pode pedir perdão por uma coisa da qual não se arrepende.
– Francisco, eu/
– É uma pergunta simples, Lídia – interrompeu novamente. – Você se arrepende das suas noites com o Carlos? O que essas noites significaram pra você?
Lídia permaneceu calada, sem conseguir responder. Francisco estava certo em sua colocação. O silêncio prevaleceu por longos segundos.
– É o que eu mais temia, Lídia. Você ainda segue dividida – ele disse e começou a pegar suas coisas para sair do quarto.
– Pra onde você vai? – ela perguntou, assustada.
– Enquanto você não se decidir de uma vez por todas, é melhor que a gente não finja que somos marido e mulher.
Francisco bateu a porta ao deixar o cômodo. Devastada, Lídia ficou apenas na companhia de suas lágrimas até cair no sono. E sonhou com um mundo onde sentimentos não fossem tão complicados e traiçoeiros.
VOCÊ ESTÁ LENDO
As Telefonistas: Uma Nova Chance
FanficQuando Lídia, Marga, Carlota e Óscar pensavam ter chegado ao fim de suas vidas, uma pessoa do passado retorna e dá a eles uma nova esperança. Trata-se de Carlos, que escapou da morte e agora serve ao exército nacionalista, vencedor da Guerra Civil...