Capítulo 11: Jantar surpresa

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Juntos no quarto, acertando os últimos detalhes do plano de fuga, Carlos e Óscar tentavam ensinar Carlota a nadar. Mostraram os movimentos de braços e pernas, o como flutuar, o bê-a-bá da natação. Haviam conseguido para ela, numa loja de produtos usados, um colete salva-vidas. Estava frouxo, com as amarrações esgarçadas, mas era melhor do que nada.

Foram surpreendidos quando Merche, a dona da pousada, bateu à porta convidando-os para um jantar surpresa.

– Já iremos – Lídia avisou por um pequeno vão entre a porta e o portal.

E ficou assustada quando Merche e dois homens empurraram a porta com toda a força e entraram no quarto sem serem convidados.

– O que está acontecendo? – Carlos perguntou.

– Isso está acontecendo – Merche disse, mostrando a eles um dos cartazes com suas fotos impressas.

Um longo momento de silêncio sucedeu. Até que Merche voltou a falar.

– Traidores da pátria. Suas cabeças estão valendo um bom dinheiro.

– Por favor, não nos entregue – Lídia posicionou-se diante de Merche. – Nós não fizemos nada grave. Estão nos perseguindo por razões políticas. E só.

– Não se preocupe, graciosa. Não estou pensando em entregar vocês pros nacionalistas. Ou melhor, não quero ter que entregar.

– E o que você quer em troca? – Carlos adiantou-se.

– Duas vezes a quantia que estão oferecendo nesse cartaz.

– Duas vezes? Nós não temos esse dinheiro! – Carlos respondeu.

– Então não me resta outra escolha a não ser fazer uma ligação – ameaçou dar meia-volta.

– Espera! – Carlos pediu. – Eu tenho joias comigo. Aceita o pagamento em joias?

– Preciso ver essas joias antes de me decidir. Onde elas estão?

Sob olhares atentos de Lídia, Marga, Óscar e Carlota, Carlos negociou o silêncio de Merche e a liberdade sua e de seus companheiros de fuga.

– E como podemos ter certeza de que você não vai nos denunciar? – ele perguntou, após entregar toda a caixa de joias dada por Jocasta.

– Pra sorte de vocês, eu sou uma mulher de palavra. Podem dormir tranquilos e com a certeza de que não vão acordar com o exército batendo na porta.

Assim que Merche e seus capangas saíram do quarto e a porta foi fechada, todos respiraram aliviados.

– Escapamos mais uma vez – Carlos comentou.

– Mas não temos mais as joias. Iríamos precisar delas no Marrocos – Lídia lamentou.

– Não todas – Carlos informou. – Ontem, quando nós chegamos, eu tirei metade das joias da caixa. Estava com medo de que a gente acabasse sendo roubado, mas por isso eu não esperava.

Foi uma noticia amplamente comemorada, mas em silêncio. As paredes tinham ouvidos, afinal. Assim que se recompuseram do susto, chegaram a um acordo: era melhor não confiar em Merche. Fugiram da pousada pela janela do quarto, levando consigo apenas itens essenciais e algumas peças de roupa.

As Telefonistas: Uma Nova ChanceOnde histórias criam vida. Descubra agora