Sentados à beira do mar, os cinco esperaram pelo sinal combinado com o pescador para começarem a saga rumo ao Marrocos. Por sorte, o mar estava calmo naquela noite. Pequenas ondas se formavam na rebentação e desmanchavam-se logo em seguida, acariciando languidamente a faixa de areia. Tensos, trocaram poucas palavras. Marga não escondia seu medo e ansiedade, e passou a maior parte do tempo orando para que todos chegassem ao barco em segurança.
Antes do sol surgir no horizonte, o sinal foi recebido e interpretado por Carlos. Era hora de enfrentar as águas da noite. Conforme haviam combinado, Carlota, Óscar e Lídia foram à frente, seguidos de perto por Carlos e Marga.
Porém, mesmo calmo, o mar é traiçoeiro. Os primeiros quinhentos metros foram fáceis, mas na segunda metade do trajeto as dificuldades começaram a surgir. Lídia, Carlota e Óscar já quase não tinham mais forças quando alcançaram o barco e foram retiradas do mar pelo mercador e seus ajudantes. E desesperaram-se ao olharem para trás e não conseguirem localizar Carlos e Marga.
– Por favor, volte alguns metros. Nós não podemos ficar aqui, sem fazer nada – Lídia pediu ao mercador.
– É muito arriscado retornar, senhora. Há patrulhas por toda a extensão do porto – ele negou-se a ajudar.
– Retorne agora mesmo. Apenas alguns metros. Eles podem estar se afogando – ordenou, austera.
A contragosto, o mercador ligou os motores do seu barco e obedeceu ao comando de Lídia. Depois de avançarem por pouco mais de trezentos metros, viram Carlos sofrendo para manter Marga na superfície. Em dado momento da travessia, ela esqueceu-se de que deveria sempre manter a calma e cedeu ao desespero. Debatia-se violentamente, enquanto Carlos pedia para que confiasse nele e deixasse que continuassem o trajeto.
Prontamente, Lídia, Carlota e Óscar saltaram outra vez na água para ajudá-los. Juntos, conseguiram acalmar Marga e a puseram em segurança na proa. Depois, um a um, subiram no barco com a ajuda do mercador. O sol era apenas um pequeno ponto laranja no horizonte quando os motores foram ligados outra vez e se puseram em marcha rumo a Tânger.
Foi uma viagem tensa. A sensação de liberdade ainda não era plena, e não seria até que pusessem seus pés em território marroquino. Marga e Carlos precisaram de um tempo para se recuperarem do susto que levaram e de toda a água que engoliram. Conforme avançaram, o mar pôs-se mais instável. Cruzaram no caminho com um grande e imponente navio de cruzeiro que atravessava o mediterrâneo rumo à Grécia.
Duas horas depois enfim avistaram a zona portuária de Tânger. Foi quando Carlos deu a outra metade do pagamento a Donato. Dentro de um saco plástico, o dinheiro não havia se molhado. Assim como as joias, que eram seu passaporte para fora de Marrocos.
Desembarcaram quando a manhã já estava quente e o sol alto no céu. Com terra firme sob os pés e longe da Espanha, os cinco se abraçaram e puderam sentir-se, pela primeira vez em muito tempo, completamente vivos e livres.
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As Telefonistas: Uma Nova Chance
FanficQuando Lídia, Marga, Carlota e Óscar pensavam ter chegado ao fim de suas vidas, uma pessoa do passado retorna e dá a eles uma nova esperança. Trata-se de Carlos, que escapou da morte e agora serve ao exército nacionalista, vencedor da Guerra Civil...