Capítulo 3: Um porto seguro

285 16 0
                                    


As meninas e Óscar chegaram ao destino na hora mais escura da noite. O caminhão parou diante de um caminho estreito de pedra e os soldados os guiaram pelo escuro com a ajuda de lamparinas. Andaram por longas horas, desviando de imensas árvores e seus galhos baixos, cruzando pequenos rios e lagos, pulando entre pedras e fazendo pausas rápidas para descansarem.

Quando o sol começava a raiar, eles enfim chegaram à fazenda Senda Verde, que àquela altura era o melhor lugar do mundo. Uma senhora risonha de mais ou menos cinquenta anos esperava por eles na porta traseira de um imenso casarão.

– Meninos, que bom que vocês chegaram em segurança – ela disse aos soldados. – Pode deixar que de agora em diante eu me encarrego do serviço.

A voz da senhora era tão maternal e reconfortante que Lídia teve vontade de abraçá-la e chorar em seu colo.

– Meu Deus, vocês devem estar morrendo de fome e de cansaço. Venham comigo, acabei de tirar umas empanadas do forno e vou fazer um café para vocês beberem.

Enquanto comiam, bebiam e se esquentavam, as chicas descobriram que a senhora simpática chamava-se Jocasta Cifuentes e era tia de Carlos. Por não se entender com a cunhada, Dona Carmem, Jocasta afastou-se da família e viveu isolada em Senda Verde, na companhia do marido e de seus empregados. Não havia tudo filhos.

– Meu sobrinho me contou a história de vocês, mas sem muitos detalhes. Eu só quero que vocês saibam que estão seguros aqui.

– E o Carlos te contou como conseguiu sobreviver? Eu tive notícias de que ele tinha morrido, a própria Elisa afirmou ter visto o corpo dele, eu não consigo imaginar o que aconteceu – Lídia perguntou.

– Sinto muito, querida, mas eu não tenho essas respostas. Elisa, minha doce sobrinha, talvez ela tenha sido enganada por alguém. Ela sempre foi uma menina muito ingênua e manipulável. Quando o Carlos apareceu por aqui e me pediu esse favor eu não o via há mais de vinte anos. E foi tão rápida a passagem dele por aqui. Não tivemos tempos de discutir esses detalhes.

– É compreensível – Óscar interveio. – Em que lugar da Espanha estamos?

– No sul. Perto de Cádiz.

– Bem longe de Madrid. Isso é bom – Carlota constatou.

– Ah, vocês devem estar tão cansados. Venham comigo, eu vou levá-los ao banheiro para que possam tomar um banho e ao quarto onde poderão dormir.

No meio de um país destruído pela guerra, Senda Verde era um paraíso perdido, um porto seguro. Conforme descansavam, conversavam e celebravam a vida, as chicas ficaram ansiosas com o passar dos dias. Jocasta não sabia se o trem em fuga conseguira cruzar a fronteira da França e não havia telefone na fazenda. A única informação que ela tinha é que Carlos chegaria a qualquer momento, conforme havia prometido a ela.

Dez dias depois, inquieta com a falta de informações, Lídia e Carlota saíram sozinhas dos limites da fazenda, desobedecendo os conselhos de Jocasta. Mas foi uma escolha sábia: às margens de um raso lago, encontraram Carlos desacordado. Da melhor maneira que puderam, levaram-no ao casarão para que pudesse receber ajuda.

As Telefonistas: Uma Nova ChanceOnde histórias criam vida. Descubra agora